BC corta Selic em 0,75 ponto, a 3% ao ano, com agravamento da crise do coronavírus

Expectativa do mercado era que o banco anunciasse corte de 0,5 ponto percentual

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Brasília

Com a deterioração do cenário econômico no último mês por causa do avanço do novo coronavírus no país, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, decidiu cortar a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, a 3% ao ano nesta quarta-feira (6).

A taxa é uma nova mínima histórica.

O comitê indicou novo corte de no máximo 0,75 ponto percentual na próxima reunião "para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19".

"No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e ressalta que novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos", diz o comunicado.

Dois membros do Copom ponderaram que, mesmo com a possibilidade de elevação da taxa de juros estrutural, poderia ser oportuno prover todo o estímulo necessário de imediato (com corte maior), com a indicação de manutenção da taxa para a próxima decisão, com o objetivo de reduzir os riscos de descumprimento da meta para a inflação de 2021.

O juro estrutural é aquele considerado neutro, que não estimula e nem reduz a atividade econômica.

"Entretanto, foi preponderante a avaliação de que, frente à conjuntura de elevada incerteza doméstica, o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno. Assim, o Copom optou por uma provisão de estímulo mais moderada, com o benefício de acumular mais informação até sua próxima reunião", detalhou a nota do BC.

Além do cenário externo, com maior saída de recursos e volatilidade dos mercados, o Copom ressaltou que os indicadores de abril já mostram que a contração da atividade econômica será significativamente superior à prevista na última reunião do Copom.

De acordo com o comunicado, no cenário híbrido, com a taxa de juros a 2,75% a.a. em 2020 e 3,75% em 2021, e o dólar constante a R$5,55, as projeções do Copom para a inflação são de 2,4% para 2020 e 3,4% para 2021.

Já no cenário com taxa de juros constante a 3,75% a.a. e taxa de câmbio constante a R$5,55, as projeções para a inflação são de torno de 2,3% para 2020 e 3,2% para 2021.

As previsões supõem que o preço do petróleo (Brent) subirá cerca de 40% até o final de 2020.

Os cenários para a inflação estão incertos para o BC. No comunicado, a autoridade monetária ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco na direção da redução de demanda com a pandemia, o que faria o índice de preços recuar.

Por outro lado, a piora da trajetória fiscal —com aumento de gastos públicos e do rombo das contas do governo—, em razão das medidas de enfrentamento à Covid-19, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, poderia levar a um aumento da inflação.

O diretor João Manoel Pinho de Mello não participou da reunião, seguindo orientação da área de gestão de pessoas do BC. Na semana passada, todos os membros do Copom foram testados para Covid-19. O primeiro resultado do diretor foi positivo. No segundo, o resultado foi negativo, mas foi recomendado um terceiro para contraprova.

Mercado

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizou que haveria novo corte na Selic em conversas com o mercado e entrevistas nas últimas semanas.

Economistas consultados pela Bloomberg esperavam uma redução menos incisiva, de 0,5 ponto percentual.

Entretanto, no comunicado da decisão passada, em março, quando o colegiado optou por reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual, o comitê afirmou que considerava adequada a manutenção da taxa em 3,75% ao ano.

Na ocasião, a autoridade monetária foi criticada por não responder com mais agressividade ao avanço da crise.

No mercado já havia analistas que esperavam um corte que o BC reduzisse a Selic em pelo menos 0,75 ponto percentual –havia até aposta de redução em 1 ponto.

Nesta semana, o mercado aumentou ainda mais as expectativas para a retração do PIB (Produto Interno Bruto) de 2020, que passou de queda de 3,34% para 3,76%, de acordo com o relatório Focus do BC.

A projeção para o dólar no fechamento do ano aumentou de R$ 4,80 para R$ 5. A previsão para a inflação também caiu de 2,20% para 1,97%.

A cada 45 dias, o Copom se reúne para decidir a meta da taxa Selic. Desde dezembro de 2017, os juros renovam as mínimas históricas.

A decisão surpreendeu a maior parte dos economistas. "Fomos surpreendidos pela magnitude do corte e pelo comunicado, que foi mais completo, claro e direto", ressalta a economista-chefe da Claritas Investimentos, Marcela Rocha.

Para ela, a decisão do BC de fazer o corte gradual foi acertada. "O BC precisa ganhar tempo para acompanhar desdobramentos fiscais, a contração da atividade [econômica] será significativamente pior e a projeção da inflação não mostra descumprimento da meta, mas, de fato, é preciso tempo para avaliar", pondera.

O superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander, Mauricio Oreng, também diz ser adequada a decisão. "A escolha foi correta, o Copom avisa que vai dar estímulos, mas ganha tempo para observar, o níevel de incerteza é muito grande", avalia.

"Foi um corte em linha com a comunicação que o BC vem tendo, mas acredito que não é suficiente diante do agravamento da crise. Na reunião passada, quando o comitê sinalizou que manteria a 3,75% ao ano, eu disse que a realidade iria se impor e realmente se impôs", salientou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, afirma que a autoridade monetária está no caminho certo. "Imaginávamos um corte menor por conta da decisão passada, que foi bem conservadora. Mas um corte mais incisivo é essencial por conta da necessidade de mais recursos na economia", frisou.

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