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Coronavírus

Bolsonaro e empresários formam consórcio de pressão por reabertura

Presidente aproveita episódio para jogar sobre o STF parte da responsabilidade pelos efeitos econômicos da crise sanitária

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Brasília

Uma visita surpresa ao STF (Supremo Tribunal Federal) selou a criação de um consórcio entre Jair Bolsonaro e grandes empresários. Contrariados com o aperto das medidas de isolamento, os dois lados se uniram para amplificar a pressão política pela reabertura da economia.

Numa cena nada usual, o presidente cruzou a praça dos Três Poderes ao lado de dirigentes de 15 associações empresariais nesta quinta (7) e, sem avisar, pediu reunião com o chefe da corte. Dias Toffoli, visivelmente constrangido, escutou o conhecido discurso sobre os prejuízos econômicos provocados pelas medidas de combate à pandemia.

O movimento pouco ortodoxo reflete o acirramento de uma campanha defendida tanto por Bolsonaro quanto pelos representantes de uma fatia do PIB. Enquanto o país registra escalada das mortes por coronavírus e algumas regiões implantam regimes de “lockdown” para frear o contágio, o presidente e os empresários dobram a aposta na retomada imediata dos negócios.

No acordo, os empresários se aproveitam da autoridade de Bolsonaro para fortalecer o pleito. O presidente, por sua vez, usa os cifrões como combustível para retórica de proteção à economia, além de ganhar aliados de peso no duradouro conflito político que trava com governadores e o STF.

A delegação que foi ao tribunal incluía representantes e lobistas dos setores de máquinas, confecções, construção civil, indústria química, energia, veículos e calçados, entre outros. Esses grupos apoiam Bolsonaro desde a campanha, mas passaram a exploram abertamente seus métodos a seu favor.

A pressão de empresários pela retomada da atividade em fábricas e no comércio acontece desde os primeiros dias de isolamento, mas se mantinha restrita a conversas com governantes locais e entrevistas em que faziam cobranças públicas pela reabertura.

Agora, eles se aliaram a Bolsonaro para chegar mais alto.

Embora não haja visão única no PIB, alguns desses dirigentes entendem que a única chance de se obter a flexibilização negada por parte dos governadores é se aliar ao presidente, que bebe dessa mesma pressão pela reabertura em suas disputas políticas. Na visita ao Supremo, os dois se uniram para emparedar um chefe de Poder.

O presidente jamais engoliu a decisão do STF que determinou que estados e municípios têm autonomia para decretar medidas de isolamento, incluindo a interrupção de atividades econômicas. No encontro com Toffoli, ele pegou carona no pleito dos empresários para criticar indiretamente o tribunal.

“Temos um problema que vem cada vez mais nos preocupando. Os empresários vieram trazer pessoalmente essas aflições”, disse. “Eles querem que o Supremo Tribunal Federal também ouça
deles o que está acontecendo.”

Pelo lado político, Bolsonaro aproveitou o episódio para jogar sobre o STF parte da responsabilidade pelos efeitos econômicos da crise sanitária, uma vez que a decisão que ele tanto abomina é o que impede, na prática, uma canetada presidencial para derrubar as medidas de isolamento.

No encontro, ele disse que “não compete ao Executivo isoladamente” enfrentar essas consequências e emendou: “Todos estamos aqui embarcados, buscando o objetivo de resolver esse problema”. O presidente do Supremo tentou devolver a batata quente.

Afirmou apenas que o Executivo e os demais Poderes deveriam conversar com estados e municípios para organizar o planejamento da retomada. Fingiu não entender o recado sobre a decisão do tribunal que deu poder aos governadores e prefeitos.

As duas partes do consórcio se retroalimentam. Os empresários emprestaram a Bolsonaro uma grife que diz representar 40% do PIB da indústria nacional, com 30 milhões de empregos diretos e indiretos —mas também tiveram um dia produtivo. Além do tour na praça dos Três Poderes, saíram de lá com um decreto generoso assinado pelo presidente.

No fim da tarde, Bolsonaro publicou a autorização de funcionamento de novas atividades consideradas essenciais, como a produção de gás natural, a construção civil e atividades da indústria química. Representantes de alguns desses setores deram sorrisos no Palácio do Planalto nesta quarta.

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