Conheça a Allpark, a empresa que manteve o plano de abrir capital na Bolsa no meio da pandemia

Companhia que gere estacionamentos de rua movimenta R$ 345 milhões no quinto IPO de 2020

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São Paulo

​No começo de março, com o Ibovespa acima dos 100 mil pontos e antes dos seis circuit breakers —paralisação temporária nas negociações—da Bolsa de Valores brasileira, 27 empresas estavam com pedidos de IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês) na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Com a crise decorrente da pandemia de coronavírus e o Ibovespa abaixo de 80 mil pontos, muitas desistiram. A exceção foi operadora de estacionamentos e de zona azul Allpark, dona da Estapar.

A empresa passa a ser negociada em Bolsa nesta sexta-feira (15), no quinto IPO do ano —depois de Moura Dubeux, Mitre Realty, Locaweb e Priner. A lista é bem menor para o ano que, aos olhos do mercado, prometia ser de crescimento nas ofertas de ações.

Estacionamento do Hospital São Luiz, no Itaim, que é terceirizado pela Estapar
Estacionamento da Estapar em São Paulo - Marcelo Justo/Folhapress

As ações da Allpark foram arrematadas pela mínima da faixa de preço previamente estipulada, a R$ 10,50 por ação. O preço máximo era R$ 13. Por volta das 13h30, as ações recuam 19,3%, a R$ 8,47.

A desvalorização do mercado torna mais difícil o processo de “valuation” —avaliar o quanto uma empresa vale para vendê-la. Nessa estimativa, um componente importante é a comparação com pares do setor que já estão na Bolsa. Em momentos de aversão a risco, o valor de companhias pode ficar distorcido e levar a estreante a ser avaliada por muito menos que o esperado pelos acionistas.

“Reduziram o valor e o volume ofertado para diminuir o risco da oferta. O momento é complicado e faz com que qualquer cenário seja muito incerto. Não sabemos qual a duração e prejuízos da crise. Esse IPO vai nos permitir saber se mercado está otimista mesmo ou não”, diz Igor Cavaca, analista Warren.

A oferta coordenada por BTG Pactual, Bradesco, Santander Brasil e Banco do Brasil levantou R$ 300,3 milhões com mais de 30 investidores institucionais no Brasil e exterior. Com a busca do pequeno investidor por renda variável, houve também procura do varejo via BTG Digital e XP Investimentos.

Como agente estabilizador, o BTG comprou 15% da oferta em um lote suplementar, que soma R$ 45 milhões, para garantir estabilidade do preço das ações. Com isso, o IPO da Allpark movimentou R$ 345,3 milhões.

A Allpark é presidida por André Iasi, sócio do BTG Pactual . Outros dois sócios do banco fazem parte do conselho de administração da companhia, que tem como acionista controlador um fundo de investimento do BTG.

Nos últimos três anos, a companhia teve prejuízo: R$ 42,6 milhões em 2019, R$ 50 milhões em 2018 e R$ 71 milhões em 2017, por amortização de dívidas e aumento das despesas.

Para Jorge Junqueira, sócio da Gauss Capital, o IPO em um momento de incerteza econômica com projeções de uma grande depressão global faz sentido para a companhia.

“Por um lado a empresa já tinha assumido o compromisso financeiro e, estrategicamente, pensando no mundo retornando ao ‘normal’, é uma via de crescimento para diversificar produtos e interagir com clientes”, diz Junqueira.

No prospecto da oferta, a Allpark estima que os recursos líquidos do IPO serão R$ 280,3 milhões, sem considerar o lote suplementar, e pretende usá-los integralmente para o pagamento da concessão da zona azul na cidade de São Paulo.

“Quaisquer recursos líquidos eventualmente remanescentes serão utilizados para reforço de capital da companhia”, diz a Allpark.

Com a quarentena, o tráfego de automóveis teve uma forte queda, o que impactou a geração de caixa da companhia, apontam analistas.

Para fortalecer o caixa, a companhia já endividada recorreu ao mercado de ações.

“É um momento em que as fontes de capital têm sido muito limitadas e as taxas bem elevadas para acessá-las”, afirma Junqueira.

A companhia venceu a licitação da zona azul em dezembro de 2019 para operar por 15 anos a concessão do serviço municipal de estacionamento rotativo para o município de São Paulo, com previsão de início de operação no segundo semestre de 2020.

“Atualmente, o zona azul SP consiste em 43.521 vagas, com possibilidade de ampliação de mais 8.085 vagas (totalizando 51.606 vagas)”, afirma a empresa.

A concessão, porém, está sendo questionada judicialmente e o contrato não foi assinado. “O Ministério Público do Estado de São Paulo alega que diversas irregularidades e ilegalidades foram constatadas no edital da concorrência”, diz o prospecto. Em caso de condenação, a Allpark pode ter a concessão anulada.

Em março, quando a Allpark pediu registro para sua oferta, a Estapar afirmava atuar em 15 estados do país, além do Distrito Federal, com mais de 400 mil vagas em 684 operações.

Segundo dados da consultoria McKinsey, a empresa tem 8% do mercado de estacionamentos no Brasil, que gerou uma receita bruta de cerca de R$ 15,7 bilhões em 2019.

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