Dólar dispara 2% e vai a R$ 5,70 com alerta da Fitch e expectativa de corte de juros

Moeda americana acumula alta de 42% em 2020

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São Paulo

O dólar segue renovando o seu recorde nominal (sem contar a inflação). Nesta quarta-feira (6), a moeda disparou 2% e fechou a inéditos R$ 5,7040. O turismo está a R$ 5,93.

Além da força internacional do dólar na sessão, especialistas apontam que o rebaixamento da perspectiva de estável para negativa da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch e a expectativa de corte na Selic pelo Banco Central pesam na desvalorização do real.

Cédulas de dólar
Dólar acumula alta de 42% ante o real em 2020 - Marcello Casal Jr./ABr

Segundo a Fitch, a alteração se deve aos problemas econômicos gerados pela pandemia de coronavírus e ao agravamento da crise política.

Atualmente a nota do Brasil é BB-, grau de risco semelhante ao de países como Uzbequistão e Guatemala.

“O rebaixamento da Fitch abre espaço para um possível downgrade do Brasil no futuro”, diz Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.

Nesta quarta, a divisa brasileira foi a segunda que mais se desvalorizou no mundo, atrás apenas da rúpia de Seicheles. No ano, o real é a que mais perde valor entre o dólar, com queda de 42%.

A moeda americana, porém, está longe de seu recorde real. Em 2002, entre o primeiro e o segundo turno das eleições que levaram Lula à Presidência, a moeda dos EUA foi ao recorde de R$ 4,00 durante o pregão –fechou a R$ 3,99. Hoje, corrigido pela inflação brasileira e americana, esse valor equivale a cerca de R$ 7,86.

“O corte da taxa básica de juros a mínimas recordes sucessivas tem sido fator de pressão sobre o real, tornando o cenário brasileiro menos atraente para o investidor estrangeiro. Esse contexto é ainda agravado pela pandemia de coronavírus e conflitos políticos recentes entre Executivo e Legislativo”, diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

A Selic está a 3,75% ao ano e o mercado espera que seja reduzida para 3,25% na reunião de política monetária do Banco Central desta quarta. Segundo o Focus, novos cortes devem ser feitos ao longo do ano, levando a Selic para 2,75% ao fim de 2020.

O cenário de juros baixo também contribui para a alta do dólar por meio do carry trade —prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros.

Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior. Com a Selic na mínima histórica, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país, elevando assim sua cotação.

O Ibovespa fechou em queda de 0,5% a 79 mil pontos, pressionado pela queda do petróleo e dos índices americanos Dow Jones e S&P 500, que recuaram 0,9% e 0,7%, respectivamente. A Bolsa de tecnologia Nasdaq subiu 0,5%.

O barril de petróleo Brent (referência internacional) recua 3,55%, a US$ 29,87, com o aumento do estoque do óleo nos EUA. Como consequência, as ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras caíram 3,67%, a R$ 17,28 na sessão.

Também contribuiu para o viés negativo as tensões entre China e EUA acerca do coronavírus.

A China disse nesta quarta que tarifas não devem ser usadas como arma depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor mais taxas em retaliação pela abordagem chinesa diante do novo coronavírus.

As tarifas, em geral, afetam todas as partes envolvidas, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying.

"Portanto, os Estados Unidos devem parar de pensar que podem usar tarifas como arma e um grande bastão para coagir outros países", afirmou Hua.

Trump disse na sexta (1º) que elevar as tarifas sobre a China é "certamente uma opção", uma vez que avalia maneiras de retaliar contra a pandemia de coronavírus.

O novo vírus surgiu na cidade de Wuhan, no centro da China, no final do ano passado, e se espalhou pelo mundo.

Hua pediu aos EUA não tentem desviar a atenção de sua própria má administração da epidemia de coronavírus, colocando a culpa na China.

"O que os EUA fizeram nos últimos meses? Como permitiram que o surto se desenvolvesse ao estágio de hoje? É assim que um governo deve ser responsável perante o seu povo? A tarefa mais urgente é controlar o surto nos EUA e salvar o maior número possível de vidas. Salvar vidas deve ter precedência sobre o próprio interesse político", disse ela.

Hua disse que as acusações de que a China espalhou deliberadamente o vírus, como especularam algumas autoridades norte-americanas, incluindo o secretário de Estado Mike Pompeo, não têm fundamento.

(Com Reuters)

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