Dólar sobe 0,9% e vai ao recorde de R$ 5,87 com vídeo de Moro e Bolsonaro

Moeda americana acumula alta de 46% no ano

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São Paulo

A exibição do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril do governo de Jair Bolsonaro, ainda sob sigilo, na Polícia Federal em Brasília levou o dólar a um novo recorde nominal (sem contar a inflação) nesta terça-feira (12) e fez a Bolsa brasileira cair 1,5%.

A moeda americana, que operou boa parte do pregão em queda, passou a subir por volta das 15h, com a repercussão do vídeo, e fechou em alta de 0,9%, a R$ 5,87, segundo cotação da CMA. O turismo está a R$ 6,11.

Dentre emergentes, o real foi a moeda emergente que mais perdeu valor na sessão, na qual o dólar chegou a R$ 5,8870 na máxima, mas perdeu força após o Banco Central vender 9.100 contratos de swap cambial, de uma oferta de 10 mil, que totalizam US$ 455 milhões.

No ano, a divisa brasileira é a que mais se desvaloriza no mundo ante o dólar, que acumula alta de 46% no Brasil.

Cédulas de dólar
Dólar vai a novo recorde nominal nesta terça (12), a R$ 5,87 - Marcello Casal Jr./ABr

Em termos reais (corrigidos pela inflação), porém, a moeda não supera a sua máxima de 2002. Naquele ano, entre o primeiro e o segundo turno das eleições que levaram Lula à Presidência, a moeda dos EUA foi ao recorde de R$ 4,00 durante o pregão -fechou a R$ 3,99. Hoje, corrigido pela inflação brasileira e americana, esse valor equivale a cerca de R$ 7,86.

Em depoimento à PF, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que, na reunião ministerial, da qual participaram ministros e o presidente, Bolsonaro cobrou a substituição do superintendente do Rio e do então diretor-geral da polícia, Maurício Valeixo, além de relatórios de inteligência e informação da corporação.

Segundo a defesa de Moro, a gravação confirma “integralmente” as declarações dele sobre as interferências do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal.

De acordo com pessoas que tiveram acesso à gravação, o presidente vinculou a mudança do superintendente a uma proteção de sua família e teria afirmado que os familiares estariam sendo perseguidos.

Bolsonaro também teria dito que não poderia ser surpreendido com informações da PF e que então trocaria, se fosse necessário, o comando da PF e até o ministro da Justiça, na ocasião, Sergio Moro.

“O vídeo coloca a saída do Moro do governo e as suas denúncias em um outro patamar. Corremos o risco de ter um governo como o da Dilma [Rousseff], em que nada ia para frente. Precisamos de uma coordenação entre os três poderes para não ter uma crise econômica ainda maior”, diz Daniel Jannuzzi, especialista em finanças da Magnetis

A defesa de Moro pediu que o vídeo seja levado a público, o que depende do ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Na segunda (11), Bolsonaro defendeu que tornar público toda a gravação não seria adequado porque teriam sido tratados assuntos sensíveis no encontro.

O temor do Executivo é que o vídeo gere uma crise institucional. Além das possíveis intimidações a Moro, ministros presentes teriam feito duras críticas ao Supremo ao Congresso.

“A efervescência política contaminou o mercado mais uma vez. A sessão se mostrava de relativa estabilidade, até o surgimento da possibilidade de revelação de novo evento político. O agravamento do clima beligerante entre os Poderes aumenta o risco no Brasil”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

A Bolsa brasileira, que chegou a subir 1,6% no pregão, fechou em queda de 1,5%, a 77.871 pontos.
A desvalorização não foi maior pela estabilidade, a R$ 18,14, das ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras, impulsionadas pela alta do petróleo. O barril de Brent sobe 1%, a US$ 29,95.

O destaque positivo da sessão foi o setor de proteínas, com alta de 3,8% da Marfrig e de 2,5% da JBS, na esteira da alta do dólar ante o real, além de perspectivas positivas para a demanda de carnes pela China.

A Minerva Foods, que disparou 7%, a R$ 14,40, também foi impulsionada por notícia do jornal O Estado de S. Paulo de que a empresa deve fazer uma emissão de CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), títulos de dívida lastreados em recebíveis originados de negócios entre produtores rurais, no valor de R$ 400 milhões.

O dia, porém, foi de forte queda em muitos papéis. A Eletrobras caiu 5,8% após adiar, pela segunda vez, a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2020, agora, para 28 de maio.

A Natura cedeu 6% após o CEO do grupo, Roberto Marques, dizer em transmissão ao vivo do jornal O Estado de S. Paulo que o relançamento da marca Avon "deve ocorrer provavelmente no terceiro trimestre do ano”.

O Carrefour Brasil teve desvalorização de 4,33%, após divulgar na noite de segunda (11) uma queda de 15,8% no lucro líquido do primeiro trimestre, afetada por impostos maiores e despesas financeiras. Já a Gol e Azul caíram 5% e 4,7%, respectivamente, com o novo recorde do dólar.

A Embraer teve mais uma sessão de forte queda, com recuo de 5,7%, a R$ 6,78 —no ano, a empresa tem uma desvalorização de 65,6% .A empresa afirmou, nesta terça, que entregou apenas cinco jatos comerciais no primeiro trimestre de 2020, menos da metade do que entregou há um ano, atrelando a queda aos preparativos para vender para a Boeing o controle da divisão responsável pelos aviões, negócio que acabou fracassando.

A Embraer esperava que a venda da divisão de aviação comercial para a Boeing impulsionasse as vendas dos jatos, mas a Boeing desistiu do negócio no mês passado sob circunstâncias controversas.

Os bancos também registraram fortes desvalorizações, com queda de 3,4% do Itaú, de 3% do Bradesco, de 3,5% do Banco do Brasil e de 5% do Santander, após o Senado decidir votar o projeto de lei para aumentar a taxação sobre o lucro dos bancos de 20% para 50%. Também está na pauta da Casa uma proposta que limita a 20% ao ano os juros do cheque especial e do cartão de crédito.

A mudança na alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) dos bancos está prevista para ir à votação na quarta-feira (20). O limite dos juros será analisado nesta quinta-feira (14).

A maior queda do Ibovespa, porém, foi da Braskem, que cedeu 7,3% após reportagem da revista Exame apontar que a petroquímica é alvo de ativismo de acionistas minoritários. Segundo a revista, o investidor Lírio Parisotto e a gestora Alaska fizeram indicações para a compsoição do conselho de administração e fiscal da empresa.

Os números são o primeiro vislumbre do que está em jogo para a terceira maior fabricante de aviões do mundo. Analistas temem que a Embraer tenha dificuldades para competir com o duopólio Boeing-Airbus.

Nos Estados Unidos, as Bolsas também fecharam em queda após Anthony Fauci, especialista em doenças infecciosas renomado dos Estados Unidos e membro da força-tarefa anticoronavírus de Donald Trump, alertar o Congresso que uma suspensão prematura dos isolamentos pode provocar surtos adicionais do coronavírus.

Dow Jones caiu 1,9%, S&P 500, 1,3% e Nasdaq, 2%.

Segundo Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, os estados americanos deveriam seguir as recomendações dos especialistas de saúde para esperar sinais, como um declínio no número de infecções novas, antes de reabrirem.

O presidente Trump vem incentivando a reabertura de setores importantes da economia.

Também contribuiu para o viés negativo a proposta do senador republicano Lindsey Graham de autorizar o presidente Trump a impor sanções a China, caso o país não forneça um relato completo dos eventos que levaram ao surgimento do novo coronavírus.

O senador, um aliado próximo do presidente Donald Trump, disse estar convencido de que, se não fosse por "engano" pelo Partido Comunista Chinês, o vírus não estaria nos EUA, onde já matou mais de 80.000 americanos.

(Com Reuters)

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