Dono de café relata crise e apela a governo para salvar pequenos negócios

Responsável pelo Cafè Latte, com três unidades em São Paulo, diz que não consegue crédito

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São Paulo | UOL

O governo anunciou medidas para ajudar pequenos empresários impactados pela pandemia de coronavírus, como a possibilidade de suspensão do contratos de trabalho dos funcionários, redução temporária de salários e jornadas, e também uma linha de crédito emergencial para ajudar a pagar a folha.

Para alguns, porém, essas medidas não têm sido suficientes. É o caso de Vitor Sapolnik, 55, dono da Caffè Latte, cafeteria com três unidades em São Paulo, que publicou um texto em redes sociais contando sobre a dificuldade para conseguir crédito no mercado e fazendo um apelo emocionado por ajuda do governo. "Façam alguma coisa para salvar os negócios, os empregos e a economia.

Precisamos de crédito a juros baixos, com carência, a prazos longos, lastreados por um fundo garantidor do governo", escreveu.

Caffè Latte, na rua do Comércio (centro de SP), em imagem de 2011 - Sidinei Lopes/Folha Imagem

Em entrevista ao UOL, ele falou sobre esses problemas.

Café como vocação

"Eu era da área de TI (tecnologia da informação) e montei o café há 15 anos, perto da Bolsa de Valores, no centro antigo de São Paulo. Fui atrás um pouco dessa onda de cafeterias modernas, da revitalização do centro.

Vi o café como uma vocação, ter um negócio próprio, fazer uma coisa de que gosto. O café virou um point do centro. Na verdade, não sou tão pequeno, mas caio nessa categoria de pequeno empresário. Tenho três cafeterias. Uma delas inaugurei em fevereiro, é um conceito mais moderno, de loja pocket, um espaço menor e com menu reduzido.

A gente tentou inovar, fazer um modelo novo. Montei esperando a retomada da economia, me descapitalizei um pouco. Sempre fui um cara muito conservador com finanças.

Renda da minha família vem do café

Mas aí veio a pandemia. Ainda tinha capital de giro. Consegui pagar tudo, mas estamos completamente parados. Com a possibilidade de suspensão do contrato de trabalho, demos uma hibernada.

O que o governo fez com a folha de pagamentos ajudou muito, sem dúvida. Só fico pagando contas. A renda da minha família vem do café. A minha esposa é arquiteta, ela tem uma pequena renda. É o meu trabalho, eu não sou um investidor em pequenas empresas. Minha renda é aquilo lá.

Estamos esperando voltar para nos reinventarmos, funcionar do jeito que der: tentar fazer delivery, tentar online. Eventualmente, adequar o tamanho, também. Isso significa número de pessoas, número de unidades. Acho que este ano de 2020 será muito difícil pela frente.

É preciso crédito mais acessível

Mas, para reabrir, preciso de capital. E aí que é o ponto: os bancos não suprem isso. Minha ideia não é bater em banco. Criticar banco é chutar cachorro morto. É fácil, todo mundo bate em banco. E um pouco é isso mesmo. Mas o problema é o governo.

Se o governo viesse por trás, dando garantia, um fundo garantidor, os bancos podiam fazer os empréstimos. O banco tem medo de perder dinheiro. Estou correndo atrás. No banco com o qual trabalho, fui nas linhas de crédito. Até me ofereceram. Mas os juros são altos e pedem garantia. Em quase todos é a mesma coisa. Mesmo em bancos públicos, é a mesma coisa.

O crédito serviria para eu manter o negócio, retomar capital de giro para poder fazer compras, pagar fornecedores, pagar as próximas folhas, pagar os próximos aluguéis e botar o negócio para andar. A minha luta é por alguma coisa subsidiada pelo governo. Faço uma analogia: nem seguradora suíça paga o risco da pandemia, não é justo que o pequeno empresário pague isso. Tem que ser assim, não adianta. Se não, você empurra com a barriga e termina endividado.

Não penso em fechar

Não penso em fechar o café. Eu acredito que vou conseguir manter os cafés abertos. Essa foi até uma preocupação que tive no meu relato. De não passar a mensagem: 'Estou à beira da falência e vou fechar'. Não é isso. É uma reclamação realmente para o governo e para os bancos, que eles têm que dar crédito para os pequenos negócios. Mas muita gente está realmente arriscada a fechar as portas e falir.

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