Descrição de chapéu Financial Times

Entenda a diferença entre bilionários inovadores e herdeiros

Nos EUA, tecnologia enriquece empreendedores criativos; na UE, a tradição passa fortunas por gerações

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John Thornhill
Financial Tines

Os bilionários podem ser diferentes da maioria das pessoas. Mas também são diferentes uns dos outros em relação a como enriqueceram. Geralmente, eles se dividem em dois tipos: os inovadores e os herdeiros.

O que é notável nos dez bilionários mais ricos dos Estados Unidos é que são, na maioria, inovadores. Vários deles, incluindo Jeff Bezos, da Amazon, Bill Gates, da Microsoft, e Larry Page e Sergey Brin, do Google, fundaram suas próprias empresas de tecnologia.

Esses bilionários fundadores reuniram suas fortunas com a incrível valorização de suas empresas nas Bolsas. Microsoft e Amazon valem hoje, individualmente, mais que todas as 30 maiores companhias da Alemanha listadas no Dax. É o triunfo da Big Tech e do dinheiro novo.

Jeff Bezos, da Amazon, está entre os bilionários que fundaram as próprias empresas - Joe Klamar/AFP

Em comparação, muitos dos bilionários mais ricos da Europa vêm do dinheiro antigo. Sua idade média também é quase 20 anos maior que a de seus colegas americanos. Com frequência, eles são do tipo herdeiro, que ganharam na loteria da vida ao nascer em impérios industriais, imobiliários e comerciais.

Entre os dez mais na Lista de Ricos do Sunday Times de bilionários que vivem no Reino Unido, publicada na semana passada, ainda há espaço para o sétimo duque de Westminster, herdeiro de um império imobiliário e de um ducado criado pela rainha Vitória em 1874. Só James Dyson, o mais rico nessa lista, parece um verdadeiro inovador no estilo americano, que construiu sua própria fortuna empresarial.

Esse padrão de criação de riqueza se enquadra no estereótipo do dinâmico capitalismo americano contra o atrasado rentismo europeu. Mas haverá uma mudança nessa história? A Europa está se tornando mais americana em termos de criação de riqueza, enquanto os EUA se tornam mais europeus?

Em seu livro The Great Reversal [A grande inversão], Thomas Philippon, professor na Escola de Economia Stern da Universidade de Nova York, afirma que os Estados Unidos abandonaram os livres mercados, enquanto a Europa finalmente os adotou.

Vinte anos atrás, as viagens aéreas, os serviços telefônicos e o acesso à internet eram significativamente mais baratos nos EUA do que na Europa. Hoje, graças à concentração do poder corporativo nos EUA e à crescente competitividade do mercado único europeu, o inverso é verdadeiro.

Essa tendência beneficia os consumidores europeus, e a teoria poderia sugerir que a concorrência aquecida deveria provocar inovação mais intensa.

Philippon afirma que a dinâmica do mercado está sem dúvida se movendo na direção certa na Europa, mas talvez devagar demais. "É um pouco como prever que o Brasil é o país do futuro –e sempre continuará sendo. Temo que seja um pouco assim com a Europa também", disse ele.

Existe mais dinamismo entre os tipos de bilionários em outras partes do mundo, notadamente na China, onde as fortunas da internet comercial se formaram de maneiras semelhantes às da costa oeste dos EUA. Um estudo do Instituto Peterson sobre 20 anos de dados extraídos da Lista Mundial de Bilionários da Forbes revelou que, globalmente, as fortunas são cada vez mais feitas por indivíduos do que herdadas, e estão surgindo fortemente no mundo em desenvolvimento.

Mas o trabalho, publicado em 2016, também notou que a taxa de rotatividade dos bilionários nos EUA estava em declínio, sugerindo que rendas extremas se desenvolviam em alguns setores da economia, particularmente em recursos e finanças. Nesse sentido, os EUA podem realmente estar se tornando mais europeus.

Caroline Freund, coautora do trabalho e que hoje é diretora do Banco Mundial, diz que o importante é o que acontece quando um gatinho se torna um gato. "Tudo bem desde que essas empresas bilionárias estejam jovens, dinâmicas e em expansão. Mas em certo ponto elas querem proteger o que têm, e é quando fica problemático", disse ela.

"Acho que é especialmente problemático à luz da Covid-19. O que veremos, muito provavelmente, é que uma parcela desproporcional de pequenas e médias empresas será eliminada, e as grandes firmas se tornarão ainda mais dominantes."

Apesar do extraordinário ecossistema de inovação nos EUA, Philippon afirma que políticas de concorrência muito mais duras e a reforma do financiamento de campanhas são essenciais se o país quiser continuar produzindo companhias mundiais vencedoras e bilionários inovadores.

O dinamismo de uma economia não resulta só de quão rapidamente os empresários conseguem formar grandes fortunas. Depende também da facilidade com que eles podem perdê-las.

Tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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