Entenda o que é deflação e os riscos da queda de preços se tornar persistente

Queda pode ter efeitos benéficos ou não a depender do que originou a deflação e da sua duração

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São Paulo

A deflação pode ser definida como uma taxa de inflação abaixo de zero ou negativa. É quando um índice de preços, que reflete uma determinada cesta de consumo, mostra queda na média dos preços coletados.

Essa queda pode ser pontual ou estrutural, com efeitos benéficos ou não a depender do que originou a deflação e da sua duração.

Em abril, primeiro mês completo de quarentena por causa da pandemia de coronavírus, o IPCA (índice oficial de preços ao consumidor medido pelo IBGE) registrou deflação de 0,31%, resultado só comparável ao verificado no mesmo período de 1998.

É um resultado pontual, mas que pode se tornar permanente a depender dos desenvolvimentos da crise atual.

Para o consumidor, a queda de preços pode parecer uma notícia positiva em um primeiro momento, por aumentar o poder de compra das pessoas, ou, pelo menos, minimizar sua queda no contexto atual.

A deflação persistente, no entanto, pode ser uma ameaça para a economia. A expectativa de queda constante de preços se torna um incentivo para que se adie o consumo. A queda no índice de preços também faz com que a taxa de juro real (descontada a inflação) dos empréstimos tomados no passado se tornem maiores, onerando devedores e favorecendo credores, o que desestimula as pessoas a tomarem crédito.

Por isso, a deflação persistente reduz a demanda por bens e serviços e prejudica os investimentos e a geração de empregos e renda.

No Japão, o processo continuado de queda de preços criou um ambiente em que as pessoas acumulam muito dinheiro e gastam pouco. Na Europa e nos EUA, os bancos centrais vêm há mais de uma década lutando contra o risco de deflação por meio de corte de juros e injeção de dinheiro na economia.

As metas de inflação fixadas em vários países desenvolvidos consideram um nível próximo de 2%, visto como ideal por vários economistas para evitar estagnação econômica sem que haja risco de descontrole inflacionário.

Esse ainda não é o cenário para o Brasil, segundo projeções do governo e do mercado financeiro. Ao reduzir a taxa básica de juros para 3% ao ano na última quarta-feira (6), o Copom (Comitê de Política Monetária) citou a estimativa de inflação do mercado financeiro a partir da pesquisa Focus, atualmente em 2% para este ano. As projeções do próprio Banco Central são de 2,3% e 2,4%, dependendo do cenário para câmbio e juros. Ou seja, teremos inflação baixa neste ano, mas teremos inflação.

O professor da Fipecafi (FEA/USP) Estevão Alexandre afirma ainda que o IPCA reflete uma cesta de consumo, que pode se alterar por causa da pandemia, e que o impacto da queda de preços será diferente para cada família.

Na pandemia, as pessoas mantiveram o consumo de alimentos ou até aumentaram, fazendo estoques, mas reduziram o uso de transportes públicos e privados. O IPCA mostrou alta de 2,24% na alimentação em domicílio e queda acentuada no preço dos transportes e combustíveis, o que foi fundamental para puxar a índice para o terreno negativo.

“O principal item do IPCA, alimentos e bebidas, com participação em torno de 20%, subiu muito e é um fator que preocupa. É o item que os consumidores estão consumindo mais no momento”, afirma Estevão.

Para ele, será difícil chegar a um quadro de deflação persistente no Brasil em 2020. “Não vejo um ambiente de deflação até o final deste ano, a não ser que a quarentena se estenda por muito tempo.”

Outro indicador divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira (8), o INPC, mostrou deflação ligeiramente mais baixa (0,23%) que o IPCA (0,31%). Esse é o índice de preços que mede a cesta de consumo da população assalariada com rendimento mais baixo, que normalmente consome mais alimentos, produtos que ficaram mais caros em abril.

Os IGPs, índices gerais de preços medidos pela FGV e que refletem também os preços no atacado, ainda não registraram deflação.

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