Descrição de chapéu Coronavírus

Fim do isolamento não estava na pauta da visita de industriais a Bolsonaro e Guedes

Grupo conhecido como Coalizão Indústria é um antigo aliado do presidente Jair Bolsonaro

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São Paulo

A reunião desta quinta-feira (6) do grupo conhecido como Coalizão Indústria com o presidente Jair Bolsonaro e outros membros do governo tinha uma pauta bem precisa: situação da indústria, ações e doações para o combate ao novo coronavírus, retomada do setor produtivo —com a explicação de que a pandemia veio logo após uma longa crise que atingiu as indústrias— e retomada do crescimento econômico, com diminuição do custo Brasil e a volta da agenda de reformas.

O encontro, no entanto, acabou sendo marcado por uma discussão sobre a flexibilização da quarentena que foi levantada pelo presidente Bolsonaro.

Segundo relatos ouvidos pela Folha, quem entrou no assunto foi o próprio presidente ainda durante a reunião no Palácio do Planalto . Só após isso, segundo relatos, Marco Polo de Mello Lopes, da Açobrasil, concordou com o presidente.

Foi neste momento, dizem os industriais, que Bolsonaro perguntou se eles teriam coragem de falar que a indústria brasileira está na UTI, precisando de oxigênio, com quem estivesse de plantão no STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo participantes do encontro, o grupo afirmou apenas que precisa haver um planejamento para a reabertura, para que a indústria possa estar preparada.

“Não teve pedido para reabertura de comércio”, disse Synésio Batista, presidente da Abrinq (Associação Brasileira de Brinquedos).

Outro industrial, que preferiu não ter o nome revelado, disse que os industriais sabem que não cabe ao presidente decidir sobre a reabertura do comércio, e sim aos governadores e prefeitos.

A coalizão tem se reunido com membros do governo com frequência, sobretudo após o início da pandemia do novo coronavírus.

Na última reunião com o ministro Paulo Guedes, da Economia, o grupo havia sugerido que o governo utilize os bancos públicos para ajudar a liberar o dinheiro emergencial para pequenas e médias empresas que estão passando por dificuldades por conta da quarentena.

Esse foi também uma das principais reclamações feitas durante este encontro com o presidente.

Guedes e Bolsonaro reconheceram que o crédito ainda não chegou na ponta e afirmaram que estão trabalhando para que o dinheiro chegue para quem precisa de capital de giro.

Outro ponto levantado foi o risco de invasão de produtos asiáticos no mercado brasileiro, já que a indústria dos países do continente —especialmente as da China, início da pandemia— já voltam a funcionar com normalidade após o surto por lá ter diminuído.

“Achei extremamente positiva a reunião porque o governo reconheceu que precisa resolver o processo de crédito das empresas e que a indústria vai sair prejudicada. Vamos precisar da agenda de competitividade do país e da retomada da agenda do custo Brasil e da reformas”, disse José Velloso, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

Os industriais afirmam, no entanto, que o governo não apresentou nenhum tipo de proposta concreta para que o crédito chegue às empresas.

Mesmo que a flexibilização não tenha sido uma das agendas previstas para a reunião, foi após um encontro com os membros da coalizão que a proposta para a flexibilização da quarentena imposta para conter o novo coronavírus no estado de São Paulo começou a ser gerida pelo governador João Doria (PSDB-SP).

Na época, o grupo disse apoiar a quarentena, mas pediu ao governador ao menos uma previsão de quando as coisas começariam a ser flexibilizadas.

Para a visita ao STF nesta quinta, os empresários e membros do governo fizeram o trajeto a pé do Planalto para o Supremo. Bolsonaro estava de máscara, como recomendam autoridades de saúde. Em manifestações, o presidente tem aparecido sem o acessório.

Jair Bolsonaro, acompanhado do ministro Paulo Guedes (Economia) e de diversos empresários, fala com a imprensa ao sair do STF após reunião com o presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli - Pedro Ladeira/Folhapress

Eles foram recebidos pelo presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, que cobrou coordenação do governo com os Poderes e os entes da federação. Toffoli disse que é necessário fazer um planejamento para a volta do funcionamento das indústrias.

No STF, Bolsonaro voltou a afirmar que os efeitos da restrição de circulação não podem ser maiores do que os problemas causados pela doença em si.

"Os empresários trouxeram pessoalmente essas aflições, a questão do desemprego, a questão de a economia não mais funcionar. As consequências, o efeito colateral do combate ao vírus não pode ser mais danoso que a própria doença", disse o presidente.

O grupo que forma a Coalizão Indústria é um antigo interlocutor do presidente. A primeira reunião com Bolsonaro ocorreu no fim de 2018, uma semana antes do segundo turno das eleições.

Composto na época por seis entidades industriais, o grupo foi até a casa do então candidato, no Rio de Janeiro.

A Coalizão surgiu como alternativa ​para industriais terem uma interlocução direta com o governo, sem depender de entidades como a Fiesp (Federação da Indústria do Estado de São Paulo). Atualmente, conta com 15 entidades do setor.

Os empresários que acompanharam Bolsonaro eram:

  • José Ricardo Roriz Coelho, da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria de Plástico)
  • Fernando Valente Pimentel, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção)
  • José Velloso Dias Cardoso, da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos)
  • Paulo Camilo Penna, presidente do Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento)
  • Elizabeth de Carvalhaes, da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa)
  • Synesio Batista da Costa, da Abrinq
  • Haroldo Ferreira, da Abicalçados (Associação Brasileira da Indústria de Calçados)
  • Ciro Marino, da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química)
  • José Jorge do Nascimento Junior, da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos)
  • José Rodrigues Martins, da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
  • Reginaldo Arcuri, da FarmaBrasil
  • José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil)
  • Marco Polo de Mello Lopes, da Coalizão Indústria
  • Humberto Barbato, da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica)
  • Um representante da Anfavea
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