Descrição de chapéu Coronavírus

Governo estima que cada semana de isolamento gera perda de R$ 20 bilhões no PIB

Pela primeira vez, gestão Bolsonaro reconhece retração da economia, neste ano com recuo de 4,7%

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Brasília

Para cada semana de isolamento social por conta do novo coronavírus, o PIB (Produto Interno Bruto) do país deve registrar uma perda imediata de R$ 20 bilhões, aponta estudo divulgado nesta quarta-feira (13) pelo Ministério da Economia.

Nota técnica produzida pela Secretaria de Política Econômica da pasta ainda afirma que uma ampliação no período de restrições eleva as perdas da economia como um todo. A projeção considera que quanto maior o prazo de isolamento, maior o número de falências e demissões. A medida também amplia o endividamento, diz a nota.

Nesta quarta, pela primeira vez, o governo Jair Bolsonaro reconheceu formalmente que o país terá uma retração da economia em 2020. A projeção oficial para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano foi revisada de uma alta de 0,02% para retração de 4,7%.

Se confirmado, um recuo do PIB nesse patamar será o maior já registrado pelo IBGE, que tem série histórica iniciada em 1901.

O governo estima um recuo da atividade um pouco maior do que o apontado nesta semana pelo mercado.

O boletim Focus, divulgado na segunda-feira (11) pelo Banco Central, mostra que as instituições financeiras esperam uma retração de 4,11% na economia brasileira neste ano. Esse número vem sendo revisado para baixo semanalmente.

A nova projeção do governo ainda é otimista, se comparada com avaliação do FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgada em abril, que aponta um recuo de 5,3% do PIB brasileiro em 2020.

Técnicos do ministério afirmam, entretanto, que a projeção atual será recalculada para baixo se as políticas de isolamento se alongarem para além de maio.

"Essa nota não tem conotação de crítica sobre as politicas de isolamento social. Essa nota foi feita exclusivamente para mostrar o custo econômico dessas politica e fazer as estimativas para o PIB", disse o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida.

De acordo com a secretaria, os custos atual da crise são de tal magnitude que mesmo uma recuperação rápida da atividade após a pandemia não seria capaz de impedir uma retração da economia em 2020.

“Tal projeção foi feita assumindo-se que as políticas de distanciamento social durem até o final de maio. Caso se prolonguem, o efeito econômico direto e o efeito indireto serão acentuados”, afirma o documento.

Na avaliação do subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, eventual prorrogação das medidas de isolamento social para o fim de junho deve levar o PIB de 2020 a uma queda superior a 6%.

Segundo ele, o início da retomada deve ser visto a partir do terceiro trimestre deste ano. Para 2021, a estimativa é de alta de 3,2% do PIB, mas isso não será suficiente para levar a economia ao patamar registrado antes da crise.

"Nossa projeção leva em conta uma crise severa, com recuperação lenta e impacto permanente no longo prazo", disse.

A pasta trata como efeito direto a paralisação da produção e queda mais forte do PIB. Como resultado indireto, aponta maior número de empresas decretando falência, maior endividamento público e privado e aumento na taxa de desemprego.

De acordo com a secretaria, esses fatores geram um resultado cíclico. Isso porque os efeitos indiretos acabam por provocar uma recuperação mais lenta e uma queda mais acentuada no PIB de longo prazo.​

No fim de março, o governo já havia cortado as estimativas oficias para o PIB de uma alta de 2,1% para crescimento próximo de zero.

A crise no país se agravou a partir da segunda quinzena de março, quando cidades e estados passaram a aplicar medidas restritivas de circulação e fechamento do comércio.

Desde então, segmentos da economia passaram a registrar perdas e buscar ajuda do governo. Sob os efeitos da pandemia, o setor de serviços, por exemplo, apesentou recuo recorde de 6,9% em março.

No mercado de trabalho, as demissões registraram alta. O total de pessoas demitidas e consideradas aptas a receber o seguro-desemprego foi de 1,5 milhão em março e abril, um salto de 31% em relação ao período equivalente de 2019. Em medida autorizada pelo governo, o número de trabalhadores com contratos suspensos ou reduzidos durante a pandemia ultrapassou 7 milhões.

A nova revisão vai afetar as contas do governo. Com a perspectiva de que a economia vai desabar neste ano, as estimativas de arrecadação tributária devem sofrer forte queda, criando um descompasso ainda maior no Orçamento.

Está prevista para sexta-feira (15) a apresentação da nova estimativa para as contas públicas neste ano. Cálculos feitos antes da derrubada na projeção do PIB já indicavam que o déficit primário do governo federal deve superar R$ 600 bilhões neste ano.

A ampliação do descasamento entre as receitas e os gastos do governo, desta vez, não vai forçar o Executivo a cortar verbas de ministérios. Isso porque o governo pediu ao Congresso o reconhecimento de estado de calamidade pública no país.

A medida, com validade até 31 de dezembro deste ano, foi adotada em razão da necessidade de elevar gastos públicos. Com ela, o governo não será mais obrigado a cumprir a meta fiscal e, portanto, não precisa contingenciar recursos (o aval é dado pela Lei de Responsabilidade Fiscal).

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