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País tem deflação de 0,31% em abril, a maior desde 1998

Queda nos preços de combustíveis após pandemia reduzir demanda por petróleo influenciou IPCA

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Santos

A inflação oficial brasileira refletiu a queda nos preços dos combustíveis e recuou 0,31% em abril, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (8). É a segunda maior deflação mensal registrada pelo IPCA desde o início do Plano Real —a queda anterior era de 0,51%, em agosto de 1998.

No ano, segundo o IBGE, o IPCA acumula alta de 0,22% e, nos últimos doze meses, de 2,40% --abaixo do piso da meta de inflação para o ano do Banco Central, de 2,5% (o centro da meta é de 4%).

À exceção do grupo alimentos e bebidas, todos os segmentos do IPCA tiveram estabilidade ou queda, um reflexo da redução de demanda de consumidores após o fechamento de serviços não essenciais, medida adotada para conter a pandemia do novo coronavírus.

A principal contribuição para a deflação foi a redução de 9,59% nos preços dos combustíveis em abril, com os sucessivos cortes nos preços da gasolina e do diesel anunciados pela Petrobras após a pandemia derrubar a demanda global por petróleo e também por combustíveis no país.

A queda da gasolina exerceu o maior impacto individual negativo no índice de abril, contribuindo para o recuo de 0,47 ponto percentual no IPCA. O produto registrou deflação em todas as 16 regiões pesquisadas pelo IBGE. Curitiba registrou a maior retração, de 13,92%.

Já o etanol apresentou queda de 13,51% no total do mês, enquanto o óleo diesel marcou recuo de 6,09%, e o gás veicular de 0,79%.

Segundo o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, a gasolina puxou o índice para baixo. "O resultado de abril foi muito influenciado pela série de reduções nos preços dos combustíveis, principalmente da gasolina".

Para os próximos meses, a economista do Itaú Unibanco Julia Passabom espera novamente por deflação em maio e em junho, em torno de 0,40% e 0,02%, respectivamente.

"Um trimestre [abril a junho] de deflação seria inédito na série histórica [do IBGE]. Colocando assim, um semestre caminha também para abaixo de zero. Juntando tudo isso, devemos ter um primeiro semestre de 0,1 negativo", previu a economista.

A última estimativa do banco para o IPCA fechado de 2020 é de 2,7%, mas o Itaú já estima que possa terminar o ano abaixo de 2,5%.

Por outro lado, para o segundo semestre, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Santore Sanchez, ​prevê um mês de julho com inflação elevada, em 0,48%. Ele credita isso a reajustes de energia elétrica que deveriam ter acontecido no primeiro semestre, mas não ocorreram.

"Em 2020, projeto o IPCA em 1,1%", apontou.​

O professor professor da Fipecafi Estevão Alexandre avalia que a economia pode entrar em colapso caso o cenário piore daqui em diante.

"Aí entramos em uma depressão, que é muito complicada. É preocupante e um desafio para os governos estaduais e municipais não deixar a economia parar e conter a pandemia. Ninguém sabe como fazer isso", apontou.

A última vez que o país havia registrado deflação em um mês havia sido em setembro do ano passado. Naquele mês, porém, a queda havia sido fruto justamente da redução nos preços dos alimentos.

O IPCA mostra que outros produtos que tiveram aumento de demanda por causa do coronavírus também tiveram alta de preços, nada capaz de mudar a trajetória de deflação do país, caso de artigos de limpeza (0,10%).

Ficaram mais caros amaciante e alvejante (1,82%), água sanitária (0,90%), detergente (0,81%) e desinfetante (0,59%), segundo o IBGE.

ALIMENTOS

Já os preços dos alimentos seguem em tendência de alta, resultado do aumento das refeições feitas em casa.

Alimentos foram a maior contribuição positiva no IPCA de abril, 0,35 ponto percentual. O registro é resultado de alta de 1,79% no setor de alimentação e bebidas.

O isolamento social e o fechamento de serviços não essenciais, como bares e restaurantes, fizeram o custo da alimentação no domicílio aumentar de 1,40% em março para 2,24% em abril, segundo o IBGE.

"Há uma relação da restrição de oferta, natural nos primeiros meses do ano, e do aumento da demanda provocado pela pandemia de Covid-19, com as pessoas indo mais ao mercado, cozinhando mais em casa", disse o gerente da pesquisa.

Os destaques ficaram para as altas na cebola (34,83%), batata-inglesa (22,81%), feijão-carioca (17,29%) e leite longa vida (9,59%). Por outro lado, as carnes apresentaram queda (2,01%) pelo quarto mês seguido.

De acordo com o professor da Fipecafi Alexandre, a população precisa ter consciência na hora de comprar alimentos, para os preços não continuarem subindo.​

"É importante que as pessoas façam um consumo consciente. Não pensem que vai acabar a comida, pois isso não vai acontecer. Compre apenas o que consumiria antes da pandemia. Estocar comida afeta os preços e reflete na inflação. Se a oferta continua a mesma e a demanda sobe, os preços tendem a subir", disse o professor.

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