Ao projetar uma contração da economia brasileira de 4,5% neste ano, o Itaú Unibanco trabalhou com a manutenção das medidas de isolamento social no Brasil até meados de junho. Segundo a instituição, cada semana a mais de restrições representará uma queda adicional de 0,25 ponto percentual no PIB (Produto Interno Bruto).
A instituição também afirma que a alta do dólar não deve desviar a inflação da trajetória atual, que é a de uma inédita deflação no primeiro semestre, seguida de uma recuperação que não impedirá o Banco Central cortar a taxa básica dos atuais 3% para o novo piso de 2,25% ao ano.
Na última segunda-feira (11), o banco anunciou a revisão das suas estimativas econômicas, com a projeção de queda do PIB revisada de 2,5% para 4,5%.
“Na nossa última revisão de cenário, a gente passou a considerar uma propagação mais intensa do vírus, de modo que as medidas de isolamento devem durar até meados de junho. Por isso a gente revisou a projeção de crescimento neste ano. Vale notar que cada uma semana adicional de isolamento tira aproximadamente 0,25 ponto percentual do PIB ”, afirmou nesta quinta-feira (14) a economista do Itaú Unibanco Julia Gottlieb.
"A gente também passou a considerar um mundo crescendo um pouco menos e a expectativa de deterioração fiscal, que também acabam por atrapalhar a retomada ao longo do segundo semestre."
Em relação ao índice de preços, a instituição projeta uma deflação acumulada de pelo menos 0,7% no segundo trimestre e de 0,2% no semestre. Nos seis últimos meses do ano, no entanto, os preços devem voltar a subir, com o índice de preços ao consumidor fechando o ano em 2%, ainda abaixo do piso da meta, que é de 2,5%.
“A partir do terceiro trimestre, deve haver alguma aceleração, com a retomada da atividade, normalização de diversos setores. Junto com isso, tem uma normalização dos preços de combustíveis. Eles parecem que já atingiram um valor mínimo e começam a voltar”, afirmou a também economista do banco Julia Passabom durante a apresentação das novas projeções.
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, disse que a inflação comportada permite mais um corte de juros e que 2,25% ao ano deverá ser o novo piso da taxa básica, que só deve voltar a subir em 2021.
Ele disse que o comportamento da política fiscal é um fator relevante para manter os juros baixos no futuro. A instituição projeta um déficit nas contas públicas de R$ 740 bilhões (10,2% do PIB) neste ano, com a dívida bruta chegando a 92% do PIB.
Mesquita disse que é necessário gastar neste momento para minimizar os efeitos da crise. Mas que não se pode tornar permanentes medidas emergenciais desenhadas para uma crise que é transitória.
“A gente não está pregando ajuste fiscal em 2020, a preocupação é em relação ao futuro. A situação fiscal é bastante preocupante. Caso a política fiscal não volte aos trilhos em 2021, pode colocar em xeque a configuração de juros e inflação muito baixos com ampla mobilidade de capitais”, afirmou Mesquita.
O economista afirma que, por enquanto, considera que o desvio fiscal de 2020 vai ser contido.
“Estamos dando o benefício da dúvida nesse sentido. Então a gente vê a taxa de juros caindo um pouco mais. Em países maduros, em que o ativo sem risco é doméstico, a experiência dos últimos anos sugere que você pode viver com ampla expansão fiscal sem ter consequências inflacionárias. Em economias emergentes, em que o ativo sem risco na verdade é externo, é muito difícil você ter um período continuado de deterioração fiscal sem ter alguma consequência inflacionária.”
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