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Lojas fazem 'força-tarefa' para tentar salvar Dia das Mães durante crise do coronavírus

Comércio usa vale-compras, crédito fácil e entrega rápida para conseguir algum retorno na segunda data mais importante do varejo

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São Paulo

A data mais importante para o comércio varejista no primeiro semestre precisou mudar neste ano.

Não importa o segmento, sejam lojas de roupas, de itens de decoração, cosméticos e até floriculturas, o comércio passou as últimas semanas num esforço de criatividade para vender no Dia das Mães durante a pandemia do coronavírus, que mantém comércio fechado na maior parte do país.

Além de oferecer os tradicionais descontos para atrair clientes, neste ano o setor reforçou os sistemas de entregas e reforçou planos de benefícios para compras no futuro de quem adquiriu produtos para data –numa tentativa de incentivar a volta aos estabelecimentos, seja virtualmente, seja de corpo presente quando o distanciamento social não for mais necessário.

Vetados os espaços físicos, em especial de shoppings em boa parte dos estados, os esforços para aproveitar a data, que é comemorada no domingo (10), foi concentrado no meio digital, em muitos casos, via WhatsApp e Instagram.

A rede de shoppings brMalls colocou no ar uma site para a compra de vales em 2.000 lojas localizadas em 25 shoppings no país. As compras feitas no site da campanha intitulada Ciclo do Bem dão direito, por exemplo, à devolução de crédito por meio da Ame, aplicativo de conta digital e cashback.

Em 11 dos 25 shoppings, as compras feitas na campanha também darão direito a um kit de maquiagem. Os vales poderão ser usados até o fim de agosto.

Em São Paulo e no Rio, os shoppings da rede estão operando com entregas para o mesmo dia da compra e também com drive-thru. O cliente faz a encomenda e tem a opção de retirada sem sair do carro.

O Morumbi Shopping, em São Paulo, o Barra Shopping, no Rio de Janeiro, e o Park Shopping Barigüi, em Curitiba, também já contam com o drive-thru.

A Ancar, que administra o Shopping Metrô Itaquera e o Shopping Pátio Paulista, em São Paulo, e o Botafogo Praia Shopping, no Rio de Janeiro, estreou o modelo para o Dia das Mães. Na última semana, o SP Market iniciou o sistema de retiradas. O cliente combina com o melhor horário com o lojista e busca as compras na passagem de carros entre o Arena Motors e o Cinemark.

A C&A também lançou o serviço de retirada para o Dia das Mães em 90 lojas de shoppings. Para compras realizadas até as 15h, a retirada pode ser feita no mesmo dia, enquanto o prazo médio de entrega do e-commerce é de dois a quatro dias úteis.

Nas lojas Marisa, a estratégia foi a de reforçar a comunicação por meio do Instagram e a criação de promoções, que podem chegar a 30% para produtos como botas.

A Renner está dando frete grátis para todo o país e criou cartão-presente com validade de um ano.

Pequenos negócios

Novas iniciativas de vendas virtuais também espalham por médios e pequenos comércios.

No Jardim Secreto, feira que reúne 80 marcas em um galpão na capital paulista, a decisão de dar início às vendas online começou na segunda semana do decreto de quarentena. Toda comunicação sobre a feira é feita por mensagens no aplicativo Instagram e as entregas ocorrem uma vez na semana, para reduzir a exposição de entregadores e da equipe que manipula e embala as mercadorias.

Claudia Kievel, uma das criadoras do Jardim, diz que, nos primeiros dias, as vendas estavam mais direcionadas a produtos essenciais, como os para higiene e limpeza.

Claudia Kievel e Gladys Maria Tchoport separam as peças vendidas por meio do instagram da Feira Jardim Secreto; que só começaram a ser feitas após o início da pandemia - Karime Xavier/Folhapress

Na última semana, porém, a proximidade com o Dia das Mães potencializou as vendas de joias e peças de cerâmicas, levando a equipe do espaço a potencializar a comunicação em torno de presentes. “Nos prontificamos então a montar uns kits”, diz.

A comunicação entre o consumidor e a equipe do galpão é mais direta. Por meio da rede social, o cliente recebe sugestões de outras combinações para kits de presentes, recebe fotos e altera as composições.

O varejo de vestuário e artigos para casa são os dois segmentos mais afetados pelo fechamento do comércio em meio à quarentena. O assessor econômico da FecomercioSP, Altamiro Carvalho, diz que o faturamento das lojas de roupas no mês de maio corresponde a 20% de todo o primeiro semestre. Em 2019, entrou 17% mais dinheiro no caixa das lojas do mês de maio ante abril.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou a sugerir o adiamento da comemoração para o mês de agosto, mas a ideia não vingou.

O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alfredo Cotait, diz as lojas planejam o primeiro semestre já prevendo ganhos maiores em maio, expectativa já frustrada em 2020. “Várias lojas em outros estados estão abertas. Em São Paulo é que está fechado. Não vai ter Dia das Mães, como não teve Páscoa”, afirma.

“As empresas estão usando basicamente o digital. Ninguém deve ter um crescimento exponencial neste ano”, diz Cotait.

Eventos

Até eventos considerados mais elegantes e descolados se reinventam.

A tradicional feira de objetos de arte e design Rosenbaum, que roda o Brasil, também se tornou mais digital. O ecommerce já existia, mas nunca foi considerado prioridade. A nova realidade exigiu adaptação.

No início deste ano, a criadora da feira, Cris Rosenbaum, e mais quatro amigos alugaram um galpão que faria as vezes de showroom dos artistas residentes e ainda poderia servir de ateliê.

Sem poder dar seguimento ao plano inicial, a saída foi transformar o local em um depósito para receber os produtos que hoje estão expostos no site da edição batizada de Feira de Todas as Mães, para qual Cris fez uma curadoria de presentes.

Quando ocorreu o agravamento da epidemia no Brasil, uma edição da feira estava marcada em Recife. Com um evento grande previsto para apenas um mês antes do Dia das Mães, expositores estavam com o estoque reforçado.

“Essas pessoas fazer design independente, autoral, produção pequena mesmo. Todos ficaram muito assustados. As pessoas sobrevivem desses encontros de vendas”, diz Lívia Salomoni, do time de comunicação da feira.

Em edições como as realizadas no Museu A Casa Brasileira, no Jardim Europa, na zona oeste da capital, 3.000 pessoas chegavam a circular pelo espaço em uma tarde. Manter a realização da feira era, então, impensável em tempos de distanciamento social.

Lívia diz que reunir esses produtos em um modelo de feira virtual foi um meio termo entre o cancelamento de uma edição prevista para abril, em Fortaleza, e o respeito ao momento de crise sanitária.

“É um momento muito triste que estamos vivendo e queremos fugir do varejo agressivo, mas quem se sentir convidado a comprar vai encontrar uma curadoria super cuidadosa”, diz Lívia.

Para quem mora na capital, ainda há chance de receber ou enviar produtos neste fim de semana. As entregas em São Paulo estão sendo realizadas de maneira expressa, por entregadores em bicicletas.

Comprar dos pequenos negócios

O desafio é maior para os pequenos. A marca de roupas Fala, que ganhou espaço entre os movimentos que defendem compras de pequenos negócios, criou um vale-presente estendido: pode ser usado até o fim do ano.

O sistema de entregas rápidas foi adotado por muitos, principalmente na capital paulista.

A designer Flavia Aranha, referência na produção da chamada moda sustentável, com produtos naturais e orgânicos, adotou frete grátis e garantiu todas as entregas até esta sexta-feira (8) à tarde.

De portas fechadas, a marca de sapatos Mafalda também entregou até sexta os pedidos feitos na véspera. Na Luiza Perea, os pedidos de presentes acompanharam uma carta feita à mão.

Apesar da necessidade de distanciamento social em meio à pandemia, muitas marcas, especialmente as de pequeno e médio porte, precisaram se aproximar dos consumidores. Com isso, boa parte das vendas e do que é combinado vem sendo feito por meio do WhatsApp.

O comércio de flores, segmento muito atingido pela quarentena, faz esforço virtual redobrado pelas redes sociais.

Na Selvvva, que se tornou referência em paisagismo na capital paulista, também é por mensagens de celular que kits de plantas e cachepôs são negociados e despachados para entrega (apenas na capital).

A Blumenfee Floricultura, no bairro Bela Vista, que está de portas fechadas por causa do distanciamento social em São Paulo, adotou agenda de entregas semanais duas vezes na semana. Os pedidos são sempre pelo aplicativo de mensagens.

Para o Dia das Mães, a loja criou um drive-thru, a exemplo do que adotaram os shoppings –o cliente faz o pedido via WhatsApp, paga e recebe um número para retirada.

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