Mercado tinha excesso de otimismo e depressão global está próxima, diz BlackRock

Presidente da maior gestora de fundos afirma que governos devem acelerar infraestrutura para gerar empregos

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São Paulo

Para o presidente da BlackRock, Larry Fink, a maior gestora de fundos de investimentos global, o mercado financeiro reagiu com excesso de otimismo quanto ao coronavírus em um primeiro momento.

"Em Davos, todo mundo falava do novo vírus em relação a China, e não ao mundo. Todo mundo ignorou o fato. Até que entendemos que a Covid-19 era altamente contagiosa e fronteiras estavam abertas em todo o mundo. Aí é que está o problema. Começamos a ter a percepção real em fevereiro. Olhando para trás, houve otimismo excessivo”, disse Fink, em transmissão ao vivo do Santander, comandada pelo presidente do banco Sérgio Rial, nesta quinta-feira (14).​

Larry Fink
Larry Fink, CEO da BlackRock - REUTERS/Lucas Jackson

O Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, aconteceu em janeiro, mês em que a China começava a identificar o novo vírus.

“Estamos muito próximos de uma depressão global”, afirma Fink. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a economia global vai sofrer retração de 3% em 2020, a maior desde a crise de 1929, e a recuperação deve aparecer somente no ano que vem, ainda de forma parcial e bastante incerta.​

Segundo Fink, é necessário que os governos criem um programa de aceleração no setor de infraestrutura para gerar empregos, com maior parte do investimento vindo do capital privado.

Quanto ao Brasil, ele vê uma oportunidade de investimento de longo prazo com o real desvalorizado, que torna o país mais barato a estrangeiros. No ano, o real perde 45% do seu valor ante o dólar, cotado a R$ 5,82​.

“Em um momento, o real foi visto como muito valorizado e o estrangeiro saiu do Brasil. A vizinha Argentina também não ajuda”, disse.

A Argentina tem uma dívida bruta de mais de US$ 300 bilhões. Para o FMI, a quem o país deve US$ 44 bilhões, a dívida argentina é insustentável e credores privados precisarão dar uma contribuição significativa para que o país se restabeleça.

Fink também diz que uma reabertura da economia em meio à pandemia de coronavírus pode ser benéfica com a retomada das atividades e ganho de anticorpos pela população, mas virá acompanhada de uma alta taxa de mortalidade.

“Se nós vamos reabrir e retomar as atividades, temos que esperar altas taxas dessa doença, saberemos mais sobre isso em três meses, e talvez seja bom ter boa parte da população desenvolvendo anticorpos”,

“Com essa reabertura, terá uma alta taxa de mortalidade. E a questão é como a sociedade vai navegar nessa mistura entre pragmatismo, abertura da economia, em que 99% da população vai estar bem.

Teremos uma economia mais dinâmica —esperamos uma retomada de 99% da economia—, mas como a gente convive com isso quando a gente sabe que teremos uma alta taxa de letalidade?”, completou.

Nos Estados Unidos, estados começam a retomar atividades mesmo com a curva de casos ainda acentuada e uma taxa de mortalidade de 6%. São mais de 1,4 milhão de casos e 85 mil óbitos no país, que representam cerca de 30% das mortes em todo o mundo, segundo a Universidade Johns Hopkins (EUA), que monitora dados da pandemia.

“Vimos nos EUA que muitas pessoas tiveram coronavírus e nem sabiam. Eu diria que a taxa de mortalidade é de 0,5%”, disse Fink.

​Segundo ele, caso os EUA tenham uma segunda onda de contaminação, o país precisará de um segundo pacote de estímulo para a economia. O governo americano implementou um pacote de cerca de US$ 3 trilhões de ajuda a famílias, pequenas empresas e hospitais.

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