Para bancos internacionais, saída de investidores dobrará neste ano

Crise política afeta a perspectiva de crescimento do país

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São Paulo

Para Martín Castellano, chefe do Departamento de Pesquisas Econômicas do IIF (Institute of International Finance), que reúne 450 bancos numa espécie de Febraban global, a crise política já afeta a perspectiva de crescimento do Brasil e a saída líquida de investidores não residentes no país pode dobrar neste ano, para US$ 21 bilhões, em relação a 2019.

Segundo ele, “ventos políticos podem dificultar o apoio da população ao governo e a manutenção da agenda de reformas”. Nesse cenário, a saída de dólares do Brasil continuaria pressionando as reservas do Banco Central.

Por que o Brasil sofre mais do que outros mercados emergentes com saídas de capital e desvalorização de sua moeda?
O Brasil começou a sofrer antes e foi um dos países atingidos desde cedo pelos efeitos negativos do impacto do choque nos mercados desenvolvidos.

Quando o surto de vírus começou na China, e as principais preocupações foram interrupções na cadeia de suprimentos, comércio com os EUA e preços de commodities, o Brasil sofreu correções significativas nos preços de ativos, principalmente nos mercados cambial e de ações.

Isso foi explicado por vários fatores: tamanho do mercado, seu risco entre os mercados emergentes, a dependência da China, oportunidade perdida em dar continuidade às reformas e a frágil posição fiscal.

O déficit fiscal e a relação dívida/PIB estão entre os maiores da América Latina. Portanto, o escopo de fornecer estímulo fiscal não desestabilizador para mitigar o impacto do surto de vírus na atividade é bastante limitado.

Até que ponto os problemas políticos enfrentados pelo país, além da curva ascendente da infecção pelo coronavírus, afetam as perspectivas para 2020 e 2021?
Problemas políticos podem prejudicar a capacidade geral do governo de estimular a economia. Isso inclui o Banco Central. Pois a incerteza política e as saídas de capital, juntamente com uma posição fiscal fraca, podem limitar o trabalho do Banco Central para facilitar a política monetária.

Os preços dos ativos no Brasil já sofreram muito em meio a saídas consideráveis dos mercados de ações e dívidas de não residentes.

A percepção do mercado é que a combinação da Covid-19 e ventos políticos podem dificultar o apoio da população ao governo e a manutenção da agenda de reformas, piorando as perspectivas de crescimento para este ano e o próximo.

Sem muito espaço para expansão fiscal e flexibilização agressiva da política monetária, a atividade provavelmente sofrerá significativamente.

Projetamos uma contração real do PIB de 4,1% este ano, praticamente em linha com o restante da região. Estamos considerando o impacto direto do choque, já que o Brasil é um dos países da América Latina que enfrenta o maior surto do vírus. Uma questão adicional é que, como vimos na experiência de 2015-16, a recuperação de uma recessão profunda também pode ser prolongada.

Quais as projeções para saída de capital do Brasil este ano?
Prevemos uma desaceleração significativa nos fluxos de capital neste ano. As saídas de carteira de não residentes, incluindo dívida e patrimônio, podem ser quase duas vezes mais altas em comparação a 2019.

O investimento direto estrangeiro também deve sofrer. Apesar da diminuição do déficit em conta corrente [a conta de transações com o resto do mundo], a forte desaceleração dos fluxos de capital de não residentes provavelmente resultará em perdas de reservas internacionais este ano.

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