Proposta de R$ 2,4 bi do BNDES às aéreas não cobre 25% do prejuízo das empresas

Banco prevê que aporte seja complementado por instituições financeiras privadas e captação no mercado

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São Paulo

A proposta de socorro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a grandes companhias aéreas em dificuldades financeiras prevê que o banco estatal injete, no máximo, R$ 2,4 bilhões nas três maiores do país —Gol, Latam e Azul. O restante viria de bancos privados e de captações no mercado de capitais. A oferta é vista como insuficiente pelo setor.

As empresas, que sofreram com a queda de 90% do número de voos em meio à pandemia de coronavírus, tiveram prejuízos bilionários desde março.

Só a Azul, por exemplo, teve prejuízo de R$ 6,15 bilhões no primeiro trimestre deste ano. A Gol teve R$ 2,2 bilhões de prejuízo no período. Os resultados foram influenciados pela alta do dólar e pelo impacto econômico do coronavírus sobre as operações.

As informações financeiras da Latam no período ainda não foram publicadas, mas a empresa também teve queda de tráfego a partir de março. Com isso, é possível afirmar que o aporte vindo do banco cobrirá menos de 25% das perdas do setor.

A oferta foi formalizada pelo BNDES na última terça-feira (12), e discutida nesta quinta (14) em reunião de executivos de Gol, Latam e Azul com o banco.

O texto enviado pelo BNDES foi o mesmo para as três empresas e prevê até R$ 2 bilhões de recursos para cada por meio da emissão combinada de debêntures comuns e de bônus de subscrição. Em cada operação, o banco estatal responderia por até 60% das emissões, segundo pessoas familiarizadas com a proposta.

Bancos privados responderiam por 10% do valor, e o restante seria captado pelas empresas em mercado. O volume de recursos que o BNDES disponibiliza ao setor, porém, tem o teto de R$ 2,4 bilhões. Caso as três empresas aceitem a oferta, cada uma receberia até R$ 800 milhões, portanto.

Pelo desenho da oferta, debêntures e bônus seriam emitidos de maneira conjunta, mas poderiam ser negociados em mercado de maneira separada depois que a operação fosse fechada.

O prazo de vencimento das debêntures seria de cinco anos, mas a oferta não detalha quais seriam os prazos de carência e amortização.

Os bônus de subscrição são títulos que dão a preferência na aquisição de novas ações emitidas pela companhia, segundo Giácomo Diniz, professor de finanças da FIA.

"Cada acionista ganha o direito de comprar mais ações por um preço em geral já determinado. É uma opção de compra. A regra é que esses papéis sejam oferecidos para os atuais acionistas das empresas", diz.

Segundo ele, o risco é de que os papéis sejam emitidos e não exista quem queira convertê-los em ações no futuro. "Hoje as condições de mercado não são favoráveis. Existem dúvidas sobre se investidores subscreveriam ações de companhias aéreas".

A oferta foi formalizada após entraves na negociação do banco estatal com a Abear (associação do setor) e com as empresas individualmente.

Pessoas que participaram das tratativas afirmam que as empresas chegaram a pedir crédito subsidiado, o que foi negado pelo banco sob a justificativa de que recursos da União serão destinados prioritariamente a micro e pequenas empresas.

Nas negociações, chegou-se a cogitar que o BNDES fizesse aportes conversíveis em ações de Azul, Gol e Latam, que têm o capital aberto. O banco, no entanto, propôs pagar pelas ações o preço de mercado atual. As empresas, que tiveram forte queda em seus valores de mercado durante a pandemia, rechaçaram a ideia.

Em nota, a Latam afirmou à reportagem que segue em negociação com o BNDES e que as partes ainda não chegaram a um acordo. Abear, Azul e Gol disseram que não comentam o caso. O BNDES afirmou que não poderia comentar o assunto porque envolve negociações com as três aéreas, que têm capital aberto.

Colaborou Isabela Bolzani

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