Aumento de casos de coronavírus nos EUA leva dólar a R$ 5,46

Moeda sobe 2,7% na semana e volatilidade do câmbio volta aos níveis de março

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São Paulo

O aumento de novos casos de coronavírus nos Estados Unidos interrompeu a recuperação dos ativos de risco nesta semana. O dólar subiu 2,7% no período, com alta de 2,5% nesta sexta-feira (26), a R$ 5,4630. O dólar turismo está R$ 5,77.

Com receio de que o avanço da Covid-19 barre a retomada da atividade econômica, investidores se desfizeram de posições arriscadas, como em países emergentes e o real perdeu força, sendo a moeda que mais perdeu valor na semana no mundo.

Houve pelo menos 39.818 novos casos de coronavírus nos Estados Unidos na quinta (25), o maior aumento de um dia até o momento. O governador do Texas interrompeu temporariamente a reabertura do estado, com o aumento de infecções e hospitalizações.

“A expectativa com relação ao futuro mudou bastante nessa semana. As novas ondas de contágio, voltaram a fazer com que as cidades e estados retirassem as medidas de abertura das atividades ao redor do mundo”, diz Igor Cavaca, analista da Waren.

cédulas de dólar
Dólar acumula alta de 9,6% nas últimas três semanas - Jorge Araújo / Fotos Públicas

Nas últimas três semanas, o dólar saltou 9,6% ante o real. A volatilidade implícita —uma medida da incerteza sobre a taxa de câmbio— nas opções de dólar perante o real para três meses subiu nesta sexta para 21,7%, máxima desde meados de março, quando os mercados estavam sob forte pressão decorrente da pandemia de coronavírus. A volatilidade implícita para o real é a maior entre as principais moedas emergentes.

Na quinta (25), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a volatilidade no Brasil está um pouco maior, mas afirmou que isso não significa que está piorando consistentemente. Ele afirmou que a atuação da autoridade monetária tem sido bem sucedida no mercado cambial, sublinhando que a forma de intervir do BC não é para estabelecer nenhuma banda ou limite para o câmbio.

Nesta sexta, o BC voltou a recorrer à venda de dólares à vista para acalmar o mercado, o que não acontecia desde o último dia 1º, com venda de US$ 502,5 milhões.

O BC também fez nesta sexta colocação de US$ 1,5 bilhão de dólares para rolagem de linhas de dólares com compromisso de recompra e de 12 mil contratos de swap cambial tradicional.

Analistas dizem que a volatilidade no câmbio, além de associada ao ambiente externo ainda incerto, é intensificada por dúvidas no plano fiscal.

Na noite de quinta (25), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que estudará uma mudança no teto de gastos, após a reforma administrativa e fiscal, o que contribuiu para a desvalorização do real, apontam analistas.

Eles tambpem apontam que a desvalorização mais acentuada do real é fruto da redução da taxa de juros na semana passada. O Banco Central cortou a Selic para 2,25% ao ano, nova mínima histórica.

A queda brusca do juros deixa o carry trade —prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros— menos vantajoso. No carry trade, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior. Com a Selic a 2,25%, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país, elevando assim sua cotação.

A Bolsa brasileira, que vinha de uma alta de 4% na semana passada, recuou 2,8% nesta semana, com queda de 2,2% nesta sexta-feira (26), a 93.834 pontos.

“A pandemia está longe de sair de cena o aumento exponencial da infecção nos EUA e o cenário político nacional, que parecia ter abrandado, voltou ao radar com a prisão do Fabricio Queiroz, acendendo novas especulações sobre o presidente Jair Bolsonaro”, diz Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora.

Nos Estados Unidos, S&P 500 caiu 2,4%, Dow Jones, 2,8% e Nasdaq, 2,6%.


(Com Reuters)

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