Burocracia do Estado não combina com a urgência das demandas de crédito, diz Febraban

Bancos afirmam que emprestaram R$ 1 trilhão, mas que implementação de novas linhas está mais lenta do que o esperado

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São Paulo

A burocracia do Estado não combina com a urgência das demandas de crédito no sistema financeiro ante a crise do coronavírus, afirmou, nesta terça-feira (23), Isaac Sidney, presidente da Febraban, federação que representa os bancos.

Sidney falou durante a abertura do CIAB, congresso de tecnologia bancária realizado anualmente pela entidade.

Segundo ele, os bancos já emprestaram mais de R$ 1 trilhão desde o início da pandemia, contabilizando renegociação, prorrogação e novos contratos, mas, ainda assim, precisam ter coragem para debater sobre a chegada do crédito na ponta consumidora e capacidade de demonstrar que o sistema agiu “rápido e certo” para resolver essa situação.

“Mas muita coisa também trava diante de uma burocracia estatal de décadas, com processos morosos que não combinam com a urgência das demandas. O momento, pelo lado do Estado, é de simplificação das regras, menos burocracia, flexibilidade e assumpção do risco de crédito de quem foi mais atingido pela crise”, afirmou.

Isaac Sidney, presidente da Febraban; executivo afirma que burocracia do governo trava crédito
Isaac Sidney, presidente da Febraban; executivo afirma que burocracia do governo trava crédito - Alan Marques - 5.jul.2016/Folhapress

Com a continuidade da crise, a expectativa, avaliaram os presidentes das maiores instituições financeiras do país, é que esse volume de empréstimos aumente e que novas linhas sejam implementadas.

Segundo Candido Bracher, presidente do Itaú, os bancos esperam a aprovação e implementação do governo em uma série de linhas, como o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), o FGI (Fundo Garantidor de Investimentos), a expansão da linha para folha de pagamento, entre outros.

“Há uma série de novas linhas que a gente vem discutindo há um bom tempo, mas cuja implementação, infelizmente, está muito mais lenta do que gostaríamos”, disse Candido Bracher, presidente do Itaú.

O Pronampe foi sancionado em maio pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e recebeu R$ 15,9 bilhões do Tesouro Nacional. Até 10 de junho, no entanto, contava com o pedido de participação de apenas 12 instituições financeiras – sendo três grandes bancos, dois bancos de cooperativa, duas fintechs e quatro agências e bancos de desenvolvimento. Os nomes não foram divulgados.

Já o FGI deve receber R$ 20 bilhões em aportes da União, que servirão como garantia de empréstimos para pequenas e médias empresas.

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, afirmou, ainda, que há a expectativa de que novas contratações, renovações e prorrogações de crédito sejam feitas dada a duração da crise.

“Prorrogamos primeiro por 60 dias, depois por 120 e pode ser que prorroguemos um pouco mais. Isso sem mudar as taxas de juros”, disse.

No início da crise, em março, a Folha mostrou que empresários já relatavam aumento de juros e restrição de negociações de contratos por parte dos grandes bancos. Em maio, outros relatos de que a burocracia e a demora de resposta dos bancos limitavam o acesso ao crédito também foram noticiados.

Para o presidente do BTG Pacutal, Roberto Sallouti, os bancos estão contribuindo para o “pleno funcionamento do mercado”. Segundo ele, a “sensação” de que os bancos não estão entregando acontece porque apesar do crédito ter crescido nos últimos meses, a demanda por recursos cresceu muito mais.

“Acho muito importante o desenvolvimento nas novas linhas que estão vindo e está muito claro para nós que o segmento de pequenas e médias empresas é onde realmente está faltando chegar o crédito. Mas os bancos têm que tomar suas medidas de avaliação de crédito e, portanto, os novos programas de desenvolvimento são fundamentais para ter certeza que os bancos poderão fazer o dinheiro chegar [na ponta consumidora]”, afirmou. 

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