Entregadores ameaçam entrar na Justiça contra Loggi por bloqueio em app após manifestação

Cerca de 60 motoboys devem mover ação coletiva no Rio; greve é marcada para o dia 1º

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Cerca de 60 entregadores associados à empresa Loggi ameaçam entrar na Justiça na próxima semana por alegarem bloqueio no aplicativo após participação em protesto no Rio de Janeiro.

Os motoboys que vão ajuizar a ação participaram de uma manifestação no dia 10 de junho para reivindicar melhores condições de trabalho. Os entregadores afirmam que o descredenciamento da plataforma ocorreu de modo injustificado.

Em nota, a Loggi diz que é sempre aberta ao diálogo e a favor da livre manifestação, "desde que respeitado o direito de ir e vir de todo cidadão".

Não há como comprovar a relação direta entre os bloqueios e os protestos, segundo o advogado Magno Moura Têxeira, do escritório Martins Moura & Teixeira, que elabora a ação coletiva. Ele afirma, entretanto, que o mesmo já ocorreu no Distrito Federal e que os trabalhadores descredenciados estavam em peso no local da manifestação.

Motoboy com baú de entregas da Loggi; empresa não confirma relação entre protestos e bloqueio
Motoboy com baú de entregas da Loggi; trabalhadores da empresa reclamam de bloqueios após protesto - Divulgação

A defesa diz que se trata de "um dado empírico". "A plataforma pode identificar os locais onde ocorrem manifestações por meio de georregenciamento", afirma Têxeira.

"Muitas vezes, a plataforma faz isso com intuito de punir ou intimidar manifestações. Os que estão buscando melhores condições de trabalho, do nada, se veem bloqueados", diz o advogado.

A manifestação de 10 de junho reuniu quase 200 pessoas, de acordo com Ralf Alexandre Campos Elisiario, um dos organizadores do pleito dos entregadores de aplicativo. Os trabalhadores foram até o centro de distribuição da Loggi, na Barra da Tijuca, numa passeata "a favor da vida e contra o coronavírus", nas palavras do líder.

"Mais de 50 foram bloqueados pelo simples fato de fazer uma passeata", diz. "Nossa principal reclamação era o álcool em gel, que era uma quantidade muito pequena e só deram uma vez, e a máscara, que era de baixa qualidade", afirma Elisiario.

Outras reivindicações dos manifestantes eram maior assistência da Loggi para trabalhadores com coronavírus, aumento das taxas de entregas --que eles alegam ter sofrido redução-- e diminuição do número de pacotes por entregas. Os motoristas dizem que não conseguem dispensar encomendas porque a remuneração está baixa, mesmo com o aumento de pedidos durante a crise de Covid-19.

A categoria pede mais segurança e relata que os casos de tentativas de assaltos aumentaram no Rio. Muitas vezes, os baús das motocicletas vão lotados de pedidos e abertos, o que não é permitido.

No início deste ano, motoboys moveram duas ações coletivas no Distrito Federal após alegarem bloqueios depois de manifestações. Os protestos em janeiro pediam mais transparência sobre o pagamento de taxas e melhor remuneração. Os motoboys obtiveram liminar e retornaram à plataforma.

Em nota, a Loggi diz que "todos os entregadores cadastrados na plataforma têm conhecimento prévio dos valores ao aceitarem uma rota, demonstrando assim sua concordância". A empresa afirma que seu canal de atendimento por email está sempre aberto.

A Loggi tem cerca de 40 mil entregadores cadastrados no país, além de vans, caminhões e outros meios de transporte. Não há dados específicos sobre motoboys no Rio. A categoria estima que sejam mais de 1.000.

A Justiça já reconheceu vínculo empregatício entre a Loggi e os cadastrados, mas a empresa recorreu. O recurso ainda precisa ser julgado na Justiça do Trabalho.

A insatisfação de motoristas de outros aplicativos de entrega cresce e ganha corpo em grupos de WhatApp criados para organizar um protesto nacional no dia 1º de julho. A maior motivação é chamar a atenção para condições de trabalho durante a pandemia de Covid-19.

Eles pedem aumento no pagamento das corridas e da taxa mínima, seguro de vida e para roubos e acidentes, e um voucher para compra de equipamento de proteção individual, como máscaras e luvas.

A categoria pede que usuários de aplicativo não façam pedidos nesse dia. Reportagem da Folha, publicada em março, no início do isolamento social, mostrou que as condições de trabalho dos entregadores pioraram durante a pandemia pelo risco sanitário e pelo tempo que eles gastam em supermercados para abastecer a população que está em casa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.