Indústrias de alimentos, remédios e produtos de limpeza registraram alta em mês caótico

Mesmo com tombo recorde na produção industrial geral, segmentos essenciais registraram crescimento

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Rio de Janeiro

Apenas três setores escaparam do tombo na produção industrial em abril. Em comum, eles são ligados a produtos considerados essenciais em meio à pandemia da Covid-19 no Brasil.

Com as pessoas dentro de casa, cresceu a produção de alimentos (3,3%), remédios (6,6%) e produtos de limpeza e higiene pessoal (1,3%).

Para Renata de Mello Franco, economista do FGV-Ibre, a alta era esperada nesses segmentos, o que mostra também uma mudança no padrão de consumo da população para serviços essenciais.

"A gente sabe que a renda das famílias está sendo bastante impactada, com perda de emprego e renda, então os consumidores tendem a focar o consumo só nesses bens essenciais", disse Mello Franco.

O Brasil teve sua primeira morte pela Covid-19 em 17 de março. A partir de então, medidas restritivas passaram a ser adotadas pelo país. Só permaneceram abertos serviços considerados essenciais, como supermercados e farmácias, o que mudou a forma de consumir da população.

Na face contrária, despencou a produção de bens não essenciais, como automóveis, eletrodomésticos e bebidas, por exemplo.

Na projeção de economistas, se as medidas de distanciamento social persistirem e o desemprego se aprofundar, a tendência é que mesmo a produção de itens essenciais passe a cair

"A questão é se o mercado de trabalho vai continuar piorando. Com a renda piorando, aí podemos ver efeito negativo em cima desses setores. Mas, por enquanto, eles tendem a ter um comportamento melhor em relação ao restante do setor industrial", disse a economista da FGV.

Nelson Mussolini, presidente da Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos), apontou que a indústria do setor manteve suas linhas de produção ativas no período da escalada da Covid-19 para suprir a demanda por medicamentos.

“Isso ocorreu mesmo diante do expressivo aumento de custos provocado pela pandemia de coronavírus, com as altas do dólar e dos custos de logística, matérias-primas e insumos”, disse Mussolini.

Já Paulo Engler, diretor-executivo da Abipla (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional), alertou que o crescimento do setor divulgado pelo IBGE se mostrou dentro do que estava previsto para este ano, sem levar em conta a pandemia.

O segmento de limpeza sofreu menos o impacto da crise, muito por causa das recomendações sanitárias de reforço de higienização de ambientes para combater a Covid-19.

"Dentro deste cenário, acredito que o resultado é positivo, já que, além de estarmos próximos aos números de crescimento, estimado para 2020, estamos com saldo de contratações de colaboradores positivo, algo muito importante para a sociedade brasileira, no atual contexto”, disse Engler.

Em nota, a Abia (associação da indústria de alimentos) afirmou que o setor se articulou para garantir o abastecimento e também que foi beneficiado com alta de 10% nas exportações.

Otto Nogami, economista do Insper, alertou também para a alta (10,1%) nas indústrias extrativas na comparação anual --ficou estável ante março. Segundo ele, esse foi outro registro que pode ser analisado de forma positiva dentro de um cenário de pandemia.

"A produção [dessa atividade] é voltada ao setor externo, principalmente para a China, o que mostra que, em alguns países, a atividade econômica está se resgatando", analisou o economista.​

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