Oferta de crédito sempre será menor que a demanda em crises, diz presidente do Itaú

Para Candido Bracher, a expectativa por empréstimos está em descompasso com a realidade

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São Paulo

Segundo o presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, a oferta de crédito sempre será menor que a demanda em períodos de crise, pela burocracia e pelo risco envolvidos.

"Crédito não é uma coisa simples e o dinheiro que o banco empresa não é dele, é do depositante. Uma regra básica bancária muito simples é: 'não empreste para quem você acha que tem pouca chance de pagar de volta'. Nesta situação de parada súbita da atividade econômica, a saúde das empresas se deteriora e fica muito mais arriscado emprestar", afirmou Bracher em transmissão ao vivo da Liga de Mercado Financeiro da Escola Politécnica da USP nesta terça (23).

Agência do banco Itaú
Agência do banco Itaú, em São Paulo; executivos esperam fechar mais unidades com a digitalização bancária - Zanone Fraissat / Folhapress

Bracher, afirmou que o Itaú poderá conceder mais empréstimos com as novas linhas do Banco Central, mas que o desequilíbrio entre demanda e oferta deve permanecer por conta da contração da economia decorrente da pandemia de Covid-19.

“Se efetivando essas novas linhas, podemos emprestar mais, mas sempre será menos do que a demanda. A expectativa está em descompasso com a realidade”.

O BC lançou, nesta terça, novo pacote para ampliação da oferta de crédito para micro, pequenas e médias empresas, com potencial de gerar R$ 212 bilhões em novos empréstimos.

Desde o início da crise, muitas empresas reclamam que não têm acesso a crédito, mesmo com a injeção de liquidez anunciada pela autoridade monetária em março.

"Em uma situação que a economia toda reduz o seu ritmo e as empresas faturam menos, têm menos fluxo de caixa e as pessoas perdem o emprego, a diminuição de crédito será proporcional. Eu empresto para quem pode pagar", disse Roberto Setubal, co-presidente do conselho de administração do banco Itaú, que também participou da transmissão.

Segundo o banqueiro, o volume de empréstimos concedidos pelo Itaú a pequenas empresas cresceu 30% em relação a 2019. "Os volumes para quem achamos que tem capacidade de pagar foram muito grandes".

Em maio, reportagem da Folha apontou que pequenas e médias empresas que buscaram a linha emergencial de financiamento do governo esbarraram em burocracia, excesso de exigências e demora na resposta dos grandes bancos.

Liberado no fim de março pelo governo federal, o programa de R$ 40 bilhões para financiar a folha de pagaento foi desenhado para empresas com faturamento de R$ 360 mil a R$ 10 milhões por ano. Desse total, 85% é garantido pelo Tesouro Nacional. A taxa máxima é de 3,75% ao ano.

A adesão até agora, entretanto, foi baixa: apenas R$ 1,4 bilhão haviam sido emprestados na modalidade até 11 de maio —menos de 4% do orçamento total disponível.

“Ligamos para todos os clientes que tinham o crédito aprovado e a linha disponível e menos da metade escolheu tomar a linha. Uns por não precisar, ou não querer tomar dívida e outros por restrições como não poder demitir por um período”, disse Setubal.

Ele apontou outras dificuldades, como a informalidade das pequenas empresas, com funcionários sem conta em banco.

Um outro efeito da pandemia, apontado por Setubal, foi a digitalização bancária. As transações digitais passaram de cerca de 80% para 90% do total do Itaú. “O fechamento de agências, de cerca de 200 a 300 por ano, vai se acelerar. Agências ficam ociosas e param de ser utilizadas. A pandemia acelerou o movimento de digitalização”.

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