Regulamentação do open banking é agressiva e ameaça setor bancário, diz Bradesco

Apesar de desafio, modelo é visto como oportunidade por grandes bancos; sistema deve ser implementado em 2021

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São Paulo

O membro do conselho de administração do Bradesco e ex-vice-presidente de tecnologias e operações do banco, Maurício Minas, disse nesta quarta-feira (24) que o sistema bancário precisa enxergar o open banking de maneira cuidadosa.

O motivo para a cautela, segundo o executivo, seria a regulamentação do modelo que considera um desafio e até mesmo uma ameaça ao setor. Minas não detalhou, porém, quais ameaças enxerga na regulamentação do novo sistema.

“É uma regulação extremamente agressiva e até assimétrica em relação ao banco incumbente [os grandes]. Mas ela está aí e nós precisamos ter técnicas ou estratégias de defesa em relação a isso”, afirmou Minas durante o Ciab, congresso de tecnologia bancária promovido anualmente pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Membro do conselho de administração do Bradesco afirma que regulamentação de open banking é assimétrica em relação aos bancos
Membro do conselho de administração do Bradesco afirma que regulamentação de open banking é assimétrica em relação aos bancos - Kevin David/Folhapress

Nesta terça-feira (23) o Banco Central anunciou que aprovou as regras para a estrutura inicial de governança do open banking. A estrutura será dividida em três níveis: estratégico, representado pelo conselho deliberativo do BC; administrativo, formado pelo secretariado, e o técnico, composto pelos grupos técnicos.

O modelo deverá ser formalizado até 15 de julho e deve ser substituído por uma estrutura definitiva até a implementação da última etapa do open banking, em 25 de outubro de 2021.

O open banking, também conhecido como sistema financeiro aberto, consiste na adoção de tecnologia padronizada e permite que clientes decidam como acessar e com quem compartilhar seus dados financeiros.

Uma das maiores discussões no mercado para a adoção do sistema aberto, no entanto, é a responsabilização sobre a segurança dos dados.

Apesar de o open banking estabelecer que as informações do cliente pertencem a ele e não às instituições, questões sobre a responsabilidade no transporte de dados (quem responderia no caso de um vazamento de informações, por exemplo), o custo operacional para essa troca de informações e a viabilidade desse preço para adoção por parte das fintechs, e a competitividade que o novo sistema traz foram alguns dos debates no setor financeiro ao longo do tempo.

Segundo Minas, do Bradesco, no entanto, o novo modelo é também uma oportunidade para o mercado bancário.

“É uma agenda de ataque onde nós podemos, de fato, desenvolver negócios. E temos que lembrar que nós, os bancos incumbentes, temos um portfólio cheio de produtos, credibilidade, funding, balanço, riscos sob controle e uma experiência adquirida de décadas em segurança. São diversas as coisas que sabemos fazer e que podem ser colocadas no mercado”, disse.

Para o diretor de tecnologia da informação do Santander, Marino Aguiar, além de acelerar o processo de digitalização dos bancos, o maior movimento tecnológico também exigiu a criação de experiência mais fluidas entre os canais físicos e digitais.

“Existe toda uma lógica para operar em um ecossistema. É uma iniciativa que está começando, e fica cada vez mais evidente que existe não só vontade, mas instrumentos técnicos e regulatórios necessários para que a economia funcione nesse sistema”, disse.

De acordo com o diretor de tecnologia do Itaú, Estevão Lazanha, o sistema aberto acompanha o maior uso dos canais digitais, movimento intensificado pelo momento de crise do coronavírus.

“Quando pensamos em quais outros negócios podem ser gerados, as possibilidades são reflexos da mudança de comportamento e de expectativa que a sociedade tem sobre os canais digitais. O open banking abre uma fronteira e vejo um horizonte bastante promissor”, afirmou.

Dentre os demais legados deixados pela crise do coronavírus, os executivos dos principais bancos do país também reforçam a adoção do home office.

Segundo o diretor de tecnologia do Banco do Brasil, Gustavo Fosse, o banco estatal tem o projeto de deixar cerca de 10.000 trabalhadores em home office em um momento pós-pandemia –número que responde a pouco mais de 10% do quadro geral de funcionários.

“Existem muitas coisas que vamos levar para o futuro e, quando falamos de um novo modelo de trabalho, não falamos apenas de home office. As pessoas passarão a trabalhar por objetivo e não por entrega, por exemplo, precisaremos aplicar técnicas ágeis para fluir ideias. O diferencial competitivo são os talentos que eu coloco na empresa”, afirmou Fosse.

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