Troca de cartas revela briga dentro do Sistema S durante a pandemia

Federações do N e NE chamam líder de Sesi e Firjan de inepto e preconceituoso; executivo diz que sofre represália por cobrar colegas

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Rio de Janeiro

Em mais um capítulo das disputas dentro do Sistema S, presidentes das federações das indústrias do Norte e Norte enviaram na terça-feira (16) uma dura carta ao presidente do Conselho Nacional do Sesi e da Firjan (Federação das Indústrias do Rio), Eduardo Eugenio Gouveia Vieira.

Nela, chamam o presidente da Firjan de preconceituoso e inepto. Em maio, Gouveia Vieira detonou uma crise ao reclamar, em videoconferência, do critério de distribuição dos recursos a cargo da CNI (Confederação Nacianal das Indústrias), que mantém um fundo de reservas destinado a estados economicamente frágeis.

Na carta endereçada a Gouveia Vieira, os conselheiros do Norte e Nordeste lembram que o regimento interno prevê o repasse de recursos do Departamento Nacional do Sesi às regionais deficitárias. E, em alusão aos comentários do presidente da Firjan, afirmam: “Essa visão distorcida se deve ao fato de que a participação de Vossa Senhoria sempre foi praticamente nula nos Conselhos Nacionais do SESI e do SENAI, já que esteve presente em apenas três das 76 reuniões realizadas em um período de 23 anos, entre 1996 e 2018. Isso significa que participou, em média, de apenas uma reunião a cada 8 anos”.

Na videoconferência com a presidentes dos sindicatos do Rio, Gouvêa Vieira se queixou do critério para a eleição do presidente da CNI, segundo o qual cada federação tem direito a um voto independentemente do tamanho de seu parque industrial.

Prédio do SENAI de Campinas, interior de São Paulo - Divulgação

Ele disse que a maioria dos votos são de “estados que não têm capacidade de atendimento social relevante”.

“Infelizmente eles têm maioria política e estão muito confortáveis, porque conversam lá com o presidente e recebem as benesses que bem entendem. Aqui no Sul é diferente. Temos lideranças íntegras, que administram bem os seus estados", reclamou à época.

Os signatários da recente carta afirmam que causou muita indignação a sua insinuação de que as lideranças das federações do Sul e do Sudeste são "mais íntegras" e "administram melhor" do que os dirigentes do Norte e do Nordeste.

“Além de desrespeitosa, essa sua afirmação é injusta. Nunca é demais lembrar, também, que, à frente da Firjan, vossa senhoria demonstrou ser um dirigente inepto, haja vista que, embora presida uma das mais ricas federações do país, o Sesi/RJ é a seção regional da entidade que menos oferta vagas de educação básica. Em 2018, por exemplo, essa unidade, da qual vossa senhoria é presidente regional, ofereceu apenas 120 vagas em um total disponível de 3.777”.

No texto, os representantes do Norte e Nordeste ressaltam que as contas referentes ao exercício de 2015 da unidade fluminense ainda não foram aprovadas e afirmam que auditoria realizada pelos órgãos de controle aponta diversas irregularidades perpetradas pela entidade, com relação a licitações e a concessão de patrocínios.

Em nota enviada à Folha, Gouveia Vieira afirma se orgulhar de antepassados nordestinos e diz que as acusações de preconceito e desrespeito são apenas cortina de fumaça para a real motivação da correspondência.

“Tal carta foi motivada porque tomei a iniciativa de, no início de maio, cobrar a distribuição de parte dos R$ 2,7 bilhões de recursos dos departamentos nacionais do Sesi e do Senai, administrados pela CNI”.
Segundo ele, seu único objetivo foi evitar a redução dos serviços prestados para as indústrias e seus colaboradores no momento de uma queda brutal das receitas das entidades.

“Por mais que tentem me atingir, jamais recuarei da posição de que estes recursos, oriundos das próprias indústrias, têm de ser utilizados neste momento tão dramático que enfrentamos por conta da pandemia. Precisamos apoiar o Brasil”.

O presidente da Firjan diz ainda que as contas do Sesi relativas à 2015, citadas na carta, “começaram a ser analisadas em 2017 pelo TCU [Tribunal de Contas da União], cujo corpo técnico emitiu, em 2/6/2020, parecer pela aprovação”. O processo está em fase final de análise pelo Tribunal.

“Além do meu sangue nordestino também me orgulho de que, durante minha gestão, todas as contas de Firjan, Sesi e Senai foram devidamente aprovadas”, afirma.

Na nota, Gouveia Vieira diz cumprir a determinação de destinação de um terço da receita líquida da entidade à educação básica e continuada. Ele contestou os números apresentados na carta. “O número de matrículas na educação básica em 2018, mencionado na carta, não tem qualquer fundamento: na verdade foram 4.641 matrículas”.

Ainda segundo ele, através de pesquisas e estudos foi identificado que o maior déficit de educação era na base de jovens e adultos de baixa renda. “Diante disto foram ofertadas, através do EJA (Educação de Jovens e Adultos), 30.328 matrículas entre 2015 e 2019. Também foi identificada, em 2018, a necessidade de ofertar melhores competências para que alunos da educação básica do Ensino Médio da rede pública realizassem o ENEM, o que levou à criação do programa Pré-Enem, com 6.445 matrículas em 2019 e 2.938 em 2020, a partir de julho”.

Quanto a participações em reuniões dos conselhos do Sesi e do Senai, o presidente da Firjan afirma ser de pleno conhecimento de todos os presidentes de federações industriais que os regulamentos preveem a indicação de representantes para plenárias.

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