Alimentação, alojamento e serviços domésticos são setores mais prejudicados no emprego, diz Ipea

Queda nas admissões pesou mais que aumento das demissões no setor formal, mostra estudo

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São Paulo

Os setores de comércio, construção e alimentação e alojamento foram até agora os mais afetados pelos efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho formal, aponta estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgado nesta segunda-feira. No setor informal, os serviços domésticos se destacam entre os mais prejudicados.

Para fazer a análise, os pesquisadores Carlos Henrique Corseuil, Lauro Ramos e Felipe Russo utilizaram dados do Caged (registro do Ministério da Economia de contratações e demissões de trabalhadores com carteira assinada), dos pedidos de seguro-desemprego e de aberturas de empresa no estado de São Paulo, além da Pnad Contínua do IBGE, que inclui também informações sobre o mercado de trabalho informal.

“O conjunto de medidas para conter a disseminação do novo coronavírus afetou fortemente a população ocupada no Brasil, principalmente a partir de abril deste ano”, observam os pesquisadores do Ipea.

Homem observa um cartaz com vagas de emprego na rua Barão de Itapetininga, no centro de São Paulo - Dario Oliveira - 22.nov.2017/Folhapress

Segundo eles, os dados do Caged revelam que o grosso do ajuste no mercado de trabalho formal aconteceu através de uma redução das contratações, ­­mais do que o aumento significativo das demissões.

Na indústria, por exemplo, a taxa de admissão passou de um crescimento de 3,18% em abril de 2020, para 1,33% este ano. Na construção, o percentual foi de 7,80% em abril do ano passado, a 3,62% este ano. Em alojamento e alimentação, a taxa caiu de 5,14% a apenas 0,74% em igual base de comparação

Já na ponta dos desligamentos, não houve variação significativa da taxa na comparação interanual, à exceção do próprio setor de alimentação e alojamento, cujas taxas de desligamento foram de 9,02% e 8,74% em março e abril desse ano, comparado a 5,62% e 5% em igual mês do ano passado.

“A contração nas admissões teve maior relevância que o aumento dos desligamentos para a queda no emprego formal na maior parte dos setores”, observam os pesquisadores. “O setor de alojamento e alimentação foi o que registrou o pior resultado no crescimento líquido do emprego, justamente por ter sido uma exceção e ter ajustado o emprego nas duas margens, tanto nas admissões como nos desligamentos.”

Os números de abertura de empresas em São Paulo corroboram os dados de admissão do Caged, observam os pesquisadores, com quedas destacadas em comércio e construção. Os dois setores abriram respectivamente 1.219 e 5.518 empresas em abril de 2019, contra 241 e 1.392 empresas em abril deste ano, a título de exemplo.

Incorporando à Pnad Contínua à análise, o que permite observar os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho informal, os pesquisadores observam que os impactos já eram sentidos desde março.

Conforme a pesquisa do IBGE, em abril, em relação a igual mês de 2019, a população ocupada do setor de comércio diminui em 1,9 milhão; no setor de construção, em 1,4 milhão; também em 1,4 milhão no setor de serviços domésticos; e em 1,2 milhão em alojamento e alimentação.

Os pesquisadores chamam a atenção para a particularidade da situação dos trabalhadores domésticos afetados pela crise. “É importante lembrar que o segmento de serviços domésticos é caracterizado por elevado grau de informalidade e, portanto, não se beneficia de programas voltados para o emprego formal, como o seguro-desemprego, o que sublinha a necessidade de políticas que conseguem atingir o contingente de trabalhadores informais, como o auxílio emergencial.”

Embora o Caged mostre uma perda tímida de vagas formais na agropecuária, em decorrência da pandemia, a Pnad Contínua revela que, considerando trabalhadores informais, 537 mil postos se perderam no setor em abril, em relação ao ano anterior, destaca ainda o Ipea.

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