Ameaça do Facebook veio porque tentamos combater fake news, diz Sensacionalista

Site humorístico recebeu alerta da rede social; regulação de conteúdo satírico não foi o motivo

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São Paulo

A ameaça do Facebook de retirar do ar a página do site humorístico Sensacionalista não está relacionada à veiculação de seu conteúdo humorístico, afirmou um dos fundadores do site à Folha nesta quarta-feira (14).

"A ameaça veio porque tentamos combater fake news”, diz Marcelo Zorzanelli, também roteirista do Sensacionalista.

Após divulgar aos seus cerca de 5 milhões de seguidores em todas as redes sociais que o Facebook havia ameaçado excluir a página sem dar explicações, o Sensacionalista foi informado de que violou as políticas da rede.

A origem do problema não foi o conteúdo satírico publicado desde 2009, mas um grupo criado pelo Sensacionalista no Facebook chamado Caça-Fake, que tinha 75 mil integrantes. Os usuários publicavam os links de notícias falsas no grupo para engajar as pessoas em denúncias em massa contra esses conteúdos, numa espécie de campanha contra a desinformação.

Sensacionalista
Site do Sensacionalista; página tem 3,2 milhões de seguidores - Reprodução

O Facebook diz que não comenta casos específicos. Os links publicados no grupo tinham todo o tipo de teor: eram notícias sobre curas não comprovadas para a Covid-19, como alho e vinagre, supostas denúncias falsas sobre hospitais que lucravam R$ 16 mil a cada paciente internado com coronavírus, entre outras.

Segundo integrantes do Sensacionalista, esse grupo foi descontinuado no fim de maio. A explicação do Facebook é que os conteúdos ali postados —mesmo que numa ação para denunciá-los– infringiam as políticas da rede social.

Parte considerável do conteúdo havia violado as diretrizes da empresa por conter discurso de ódio e violência, proibidos na plataforma. Nesse caso, um link era denunciado e perdia a relevância em outra página, mas os usuários do grupo do Sensacionalista o republicavam, e a plataforma agia novamente.

Diferentemente de discurso de ódio e violência explícita, o Facebook não remove conteúdos ligados à desinformação, mas diminui sua frequência e relevância aos usuários, o fazendo aparecer menos na rede.

No fim de maio, então, os administradores do Sensacionalista receberam notificações de que a página de humor no Facebook, com 3,2 milhões de seguidores, havia violado de forma contínua os padrões da comunidade da rede social. O motivo é que o grupo de denúncia e a página tinham os mesmos administradores.

Após afirmar que não entendia o motivo dessa ação na terça-feira (13), o site humorístico passou a receber apoio de uma série de influenciadores e políticos da direita e da esquerda, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL) e Juliano Medeiros, presidente do PSOL. O receio geral era de que o Facebook estivesse censurando conteúdos.

"Exemplo do que acontece quando esquerdistas assistem calados e comemoram censura contra a direita: um dia o monstro também os atinge. E mesmo que o conteúdo de 'humor' desta página se resuma a atacar a direita, defendo sua liberdade de expressão, o que deveria valer para todos", afirmou Eduardo Bolsonaro em seu Twitter.

"Vejam o monstro que o melindre exacerbado está criando! As normas criadas para calar eventuais inimigos serão usadas contra todos! Acordem enquanto é tempo!", disse Janaina.

"O Sensacionalista é uma página de humor e sátira política! Se isso se confirmar será um ataque inaceitável à liberdade de expressão", afirmou Medeiros.

"O Facebook precisa ser mais transparente em suas decisões. As páginas devem, no mínimo, receber informações detalhadas sobre qual regra está sendo infringida e não um link com informações genéricas", disse o Sensacionalista em seu site.

Em nota, o Facebook afirma que "os administradores de qualquer página ou perfil que possam ter violado os padrões da comunidade da plataforma são notificados e podem apelar caso acreditem que haja algum equívoco". A empresa diz ainda que não remove páginas ou conteúdo por desinformação.

O Facebook também afirma ter atualizado uma área na aba de "qualidade da página" para que administradores que tenham violado os padrões saibam e possam agir sobre o conteúdo.

"É importante esclarecer que não mudamos o critério, mas estamos notificando as pessoas com antecedência para que eles possam estar de acordo com as regras do Facebook", diz.

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