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'Bombeiros' de 2008 viam, antes da pandemia, arsenal anticrise dos EUA queimado

Em livro de 2019 que chega agora ao Brasil, ex-secretários do Tesouro e ex-Fed dizem que país não restaurou poder de fogo fiscal e monetário

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Apagando o Incêndio - A Crise Financeira e suas Lições

  • Preço R$ 74,90 (R$ 39,00 no e-book)
  • Autor Ben S. Bernanke, F. Timothy Geithner e Henry M. Paulson Jr.
  • Editora Todavia

No momento em que o mundo está diante da maior recessão econômica desde o pós-guerra, diversos governos têm recorrido ao receituário criado a partir da crise de 2008 e 2009, batizada nos EUA de a Grande Recessão, para evitar que a atual pandemia leve o mundo a uma nova Grande Depressão.

A forma como três gestores da maior economia do planeta lidaram com a última grande crise econômica é o tema do livro “Apagando o Incêndio – A Crise Financeira e suas Lições” (“Firefighting”, em inglês), lançado no Brasil nesta semana pela editora Todavia.

A obra traz o relato do então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Ben Bernanke, do secretário do Tesouro do governo George W. Bush Henry Paulson e de Timothy Geithner, presidente do Fed de Nova York na época da crise e sucessor de Paulson, na gestão Barack Obama.

O livro foi lançado nos EUA em abril do ano passado, quando a economia mundial dava sinais de desaceleração, mas estava longe da profunda recessão provocada pela pandemia do novo coronavírus.

Henry Paulson (Tesouro) Ben Bernanke (Fed) na Câmara dos EUA
Henry Paulson (Tesouro) Ben Bernanke (Fed) na Câmara dos EUA - Brendan Smialowski - 24.set.2008/The New York Times

Curiosamente, os autores afirmam que o país estava, em 2019, em uma posição de desvantagem em relação ao arsenal disponível para reanimar a economia no caso de uma nova crise. “Felizmente, antes da crise [de 2008], o arsenal keynesiano dos Estados Unidos estava razoavelmente bem abastecido. O Fed tinha muito espaço para reduzir as taxas de juros e buscar outras políticas monetárias expansionistas, enquanto o restante do governo tinha espaço orçamentário para empreender políticas fiscais expansionistas, como reduções de impostos e aumento de gastos.”

“Hoje, o arsenal keynesiano parece muito mais restrito, o que poderia ser uma desvantagem significativa numa crise séria”, afirmam.

Com a proposta de falar para o público leigo, a publicação faz um histórico de uma crise que, segundo os autores, foi inicialmente mais intensa que a Grande Depressão dos anos 1930, mas que foi debelada a partir do momento em que o governo dos EUA conseguiu deter o pânico e estabilizar o sistema financeiro.

Os três evitam o discurso de que foram os responsáveis por salvar o mundo do caos, ao destacarem frequentemente a importância de políticos democratas e republicanos terem se unido para “apoiar intervenções tremendamente impopulares, mas fundamentais”, como estatizar empresas quebradas e resgatar todo o sistema financeiro.

Dizem ainda que a reação à crise ficou marcada como uma ação para ajudar Wall Street no imaginário dos americanos, mas que “a única maneira de conter o dano econômico de um incêndio financeiro é apagá-lo, embora seja quase impossível fazer isso sem ajudar algumas das pessoas que o provocaram”. A opção, segundo os três, seria deixar que o país seguisse para uma longa recessão.

O livro é divido em cinco partes, seguindo a cronologia da crise, a começar pela raiz dos problemas: os novos produtos financeiros que ajudaram a aumentar os estragos causados pelo fim do boom do imobiliário nos EUA.

Para eles, tratou-se de um pânico financeiro clássico, uma corrida ao sistema financeiro desencadeada por uma crise de confiança nas hipotecas, alimentada pelo boom de crédito. Problemas que só puderam florescer graças à falta de regulação e a uma inovação —a securitização, mecanismo usado por Wall Street para fatiar e picar hipotecas a fim de transformá-las em produtos financeiros complexos que se tornaram onipresentes nas finanças modernas.

Os capítulos seguem as datas que marcam quatro períodos da crise: 9 de agosto de 2007, quando o BNP Paribas, maior banco da França, anunciou o congelamento dos saques de três fundos que detinham títulos garantidos por hipotecas subprime americanas; o colapso do Bear Stearns, em 14 de março de 2008; a quebra do Lehman Brothers, em 15 de setembro do mesmo ano (que os autores classificam como “O Inferno”); e a aprovação do programa que permitiu ao governo dos EUA comprar “ativos problemáticos” e iniciar o combate à crise. A recessão no país terminou em junho de 2009.

Em apenas um mês, a partir de setembro de 2008, ocorreram ainda a estatização das gigantes de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac, o colapso da corretora Merrill Lynch e o resgate da seguradora AIG para evitar uma falência ainda maior que a do Lehman.

Após uma rejeição inicial, que derrubou ainda mais os mercados, o Congresso americano aprovou um pacote de US$ 700 bilhões em apoio ao sistema financeiro. Isso tudo durante o período final de uma campanha presidencial.

“Ajudamos a formular a reação americana e internacional a uma conflagração que sufocou o crédito mundial, devastou as finanças globais e mergulhou a economia americana na recessão mais danosa desde as filas do pão e os cortiços dos anos 1930.”

O livro traz um anexo que explica a crise em gráficos e mostra em números como se deu a reação. Reação que garantiu mais de uma década de bonança à maior economia mundial. Nesse período, no entanto, os EUA não se preocuparam em restaurar o poder de fogo fiscal e monetário que poderia ajudar a enfrentar outra recessão.

Proféticos, os autores dizem que, “quando a próxima crise ou até mesmo uma recessão comum ocorrer, os formuladores de políticas terão muito mais dificuldade, tanto do ponto de vista político quanto econômico, para repetir a reação vigorosa de uma década atrás”.

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