Bradesco BBI diz ver compra da Latam Brasil pela Azul como 'cenário mais provável'

Companhias aéreas negam que negócio esteja em discussão; operação precisaria de aval do Cade

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São Paulo

O banco de investimentos Bradesco BBI afirmou em relatório a seus investidores divulgado nesta segunda (20) que vê como "cenário mais provável" a compra da Latam Brasil pela Azul, e não uma possível fusão. As duas companhias, no entanto, negam que haja tratativas nesse sentido.

Rumores sobre uma eventual fusão surgiram quando as duas companhias anunciaram um acordo de codeshare (compartilhamento de voos) no mês passado, mas foram negados pelas duas empresas.

A tratativa inclui inicialmente 50 rotas domésticas não sobrepostas com destino ou origem em Brasília, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Campinas (Viracopos), Curitiba e São Paulo (Guarulhos). Envolve também os programas de fidelidade das empresas.

No relatório, o Bradesco BBI afirma que uma fusão do grupo Latam com a Azul parece improvável porque envolveria um acordo entre os acionistas controladores das empresas —a família chilena Cueto, da Latam, e o empresário David Neeleman, da Azul—, além de significar que a Azul entraria no processo de reestruturação do grupo chileno nos Estados Unidos.

Outro complicador seria que as aéreas americanas Delta (acionista da Latam) e United (da Azul) teriam ambas assentos no conselho de administração da companhia resultante da fusão. Ambas têm conflitos de interesses, o que dificultaria as tratativas. O acordo ainda poderia esbarrar em restrições de autoridades antitruste nos EUA.

A solução, segundo o banco de investimentos, seria a venda da operação brasileira, a principal do grupo Latam, para a Azul. O relatório cita que desde a fusão entre LAN e TAM, a operação no Brasil teve resultados inferiores aos do restante do conglomerado.

A aquisição poderia ser feita, de acordo com o Bradesco BBI, por cerca de US$ 1,9 bilhão (R$ 9,9 bilhões no câmbio atual) com uma emissão de ações feita pela Azul para incorporar a Latam Brasil.

O documento vê como vantagens econômicas da operação o fato de que os contratos de arrendamento de aeronaves da Latam Brasil serem contratados no Chile, o que daria "flexibilidade para ajustar o tamanho da frota e reduzir a alavancagem no Brasil" e o incremento da participação de mercado da Azul, que passaria a ter 62% da aviação doméstica.

O banco ainda cita as negociações de acordo coletivo da Latam Brasil com o SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas) para reduzir o custo com mão de obra da empresa e o programa de redução de frota da companhia no país.

"Se assumirmos que a redução de frota e o lay off [corte de salários] sejam bem-sucedidos, a Latam poderá destravar US$ 1,9 bilhão da subsidiária brasileira. Por outro lado, a Azul precisaria emitir 430 milhões de ações a R$ 23 para absorver a Latam Airlines Brasil. David Neeleman continuaria no controle da Azul com 67% das ações com direito a voto", diz o documento.

Se ocorresse, uma operação nesses moldes precisaria passar pelo aval do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que já manifestou no passado preocupação com a concentração do mercado aéreo brasileiro. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), órgão que regula o setor, também precisaria aprovar o negócio.

Procurada, a Latam Brasil afirma "a empresa está focada em tornar a sua operação ainda mais eficiente e alinhada às necessidades de seus clientes". O presidente da empresa, Jerome Cadier, já afirmou à Folha que qualquer fusão entre as companhias estava descartada.

A Azul não quis comentar o assunto. Nesta terça-feira, as ações da companhia subiram 0,97%, a R$ 21,80.

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