Governo não acompanha mercado e mantém previsão de queda do PIB em 4,7%

Estimativa de analistas prevê retração mais forte da economia em 2020, de 6,1%

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Brasília

O governo manteve a projeção de queda para o PIB (Produto Interno Bruto) em 4,7%, apesar de uma retração mais forte calculada por analistas do mercado financeiro.

O número foi divulgado nesta quarta-feira (15) pelo Ministério da Economia e deixa inalterada a previsão anterior, feita em maio. A pasta considera que, apesar da extensão do isolamento social provocado pelo coronavírus, houve sinais de melhoria em indicadores recentemente.

A mediana do boletim Focus, elaborado pelo Banco Central a partir de expectativas de analistas do mercado, prevê que a economia neste ano tenha retração de 6,1% (uma semana antes, era de 6,5%).

Na visão do Ministério, resultados da atividade de abril e maio indicam que o pior da crise provocada pela pandemia provavelmente ficou para trás. Muitos indicadores de maio e junho, de acordo com a pasta, mostram sinais de reação e saída do fundo do poço para uma recuperação no segundo semestre.

O secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, afirmou que há um movimento de retomada, mas já sinalizou mudanças na projeção nos próximos meses. "Esse dado pode ser revisto na próxima divulgação da grade de parâmetros, mas o fato é que já mostra uma tendência de certificarmos que abril foi o fundo do poço. Foi um mês em que a retração foi mais intensa e agora há um movimento de recuperação", disse.

O secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, afirmou que modelos de previsão do PIB usados até antes da crise precisam ser atualizados e que os analistas de mercado terão de rever cálculos. "Quem fez projeções de queda acima de 6,5% terá que rever. Com os dados que temos hoje, acho que nas próximas semanas vamos ver muitos agentes refazendo e diminuindo as projeções de queda", disse Sachsida.

Segundo ele, houve fatores que contaram positivamente para o crescimento do PIB nas previsões (como o auxílio emergencial), bem como negativamente (como o fato de o comércio continuar em grande parte fechado no país, apesar da expectativa da equipe econômica de uma abertura em junho).

Os técnicos foram questionados por que os números continuaram inalterados após dois meses da última projeção diante de diferentes indicadores terem sido atualizados nesse período. Sachsida voltou a afirmar que os cálculos foram influenciados por dados positivos e negativos e que, por isso, não mudaram de forma significativa.

"Quando ponderamos os dados, o efeito líquido pareceu não mudar muito a projeção da última vez. O resultado líquido não se alterou de forma significativa", afirmou Sachsida. Ele também disse que os dados podem ser alterados nos próximos meses, dependendo da intensidade da crise. "Os dados estão mostrando retomada. Se lá na frente não ficar claro, vamos rever", disse.

O Ministério prevê para o segundo trimestre de 2020 uma queda de 9,3% do PIB em relação a igual período do ano anterior. A projeção para o período representa uma retração de 7,5% em relação aos primeiros três meses de 2020 (com ajuste sazonal), formado por quedas de 13,1% na Indústria e de 7,7% em Serviços, além de um avanço de 1,9% na Agropecuária.

No boletim que traz os números, o Ministério cita dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para afirmar que há sinais de melhora na atividade. Houve aumento de 7% na Indústria em maio em relação ao mês imediatamente anterior, por isso a pasta diz que o pior momento da crise parece ter sido em abril (embora diga que o volume não é suficiente para recuperar as quedas acumuladas no ano).

Em relação ao comércio varejista, medido também pelo IBGE, o Ministério cita recuperação do comércio em maio frente a abril, com ajuste sazonal (crescimento de13,9% do comércio restrito e de 19,6% do ampliado).

Para 2021, o governo também manteve a projeção de PIB inalterada, em crescimento de 3,2%. Também permaneceram iguais as expectativas oficiais para 2022 (crescimento de 2,6%), 2023 (2,5%) e 2024 (2,5%).

O Ministério atualizou os dados esperados para a inflação, com queda em dois indicadores. Os principais responsáveis pela diminuição, segundo a pasta, deverão ser os bens industriais e os serviços, como resultado direto dos impactos da pandemia na atividade econômica.

O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) deverá, segundo a pasta, encerrar o ano com variação de 2,09% (ante 2,45% previsto em maio). A projeção para o IPCA caiu para 1,6% (de 1,77% previsto em maio).

Com participação dos produtos agropecuários, o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) também sofreu revisão. Ele tem uma abrangência maior do que apenas o consumidor final, englobando também o atacado. A inflação projetada para o indicador subiu para 6,58% (ante 4,49% calculado em maio).

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