Perspectivas de recuperação pós-pandemia são as piores possíveis, diz Laura Carvalho

Economista foi a convidada desta segunda do Ao Vivo em Casa, da Folha

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São Paulo

As perspectivas de retomada da economia brasileira passada a pandemia do novo coronavírus são as piores possíveis, na avaliação da economista e professora do Departamento de Economia da USP Laura Carvalho.

Segundo a especialista, todos os países estão sofrendo porque a reabertura após o controle da doença não tem sido suficiente para estimular o consumo e os investimentos.

“No nosso caso, nós nem sequer saímos da primeira onda. Temos uma constante piora do quadro e junto com isso uma tentativa precipitada de reabertura que não nos levará a lugar algum”, afirmou a economista no Ao Vivo em Casa, série de lives da Folha, desta segunda-feira (13).

Ela criticou a postura do Ministério da Economia de defender a retomada rápida do ajuste fiscal em 2021, após o aumento de gastos deste ano para injetar recursos na saúde e também minimizar os danos econômicos da crise sanitária.

Segundo Carvalho, o equilíbro da dívida pública deveria ser buscado de forma lenta e gradual ao longo dos anos.

A economista defendeu ainda uma reforma tributária que fosse capaz de financiar o aumento da proteção social. Isso ocorreria com a maior taxação da renda das classes mais altas, com novas alíquotas para além do teto de 27,5%, e também com a correção de distorções —como ela classifica benefícios como deduções de gastos com saúde e educação e também as isenções de impostos sobre lucros e dividendos.

Carvalho também demonstrou preocupação com o plano do governo para mudar o Bolsa Família. O projeto, que deve ser chamado de Renda Brasil, deve remanejar benefícios pagos a uma camada da população de renda média, como o abono salarial, para os mais pobres.

“A maioria das propostas tenta remanejar recursos de pessoas que estão no meio da pirâmide, e que estariam perdendo benefícios, que iriam dos vulneráveis aos mais vulneráveis ainda. É conflitante com o que deveríamos estar fazendo”, afirma.

A economista manifestou ainda preocupação com o financiamento dos instrumentos de proteção social a partir do próximo ano, quando volta a vigorar a regra do teto de gastos.

“No ano que vem o teto volta a valer, e as projeções da IFI [Instituição Fiscal Independente, ligado ao Senado] indicam que cumprir o teto significa paralisar a máquina pública. E mesmo assim, pelas projeções da IFI, não teria espaço sobrando para expandir investimentos públicos ou a proteção social”, afirma.

O problema, segundo Carvalho, é que um aumento de carga tributária não significaria automaticamente mais espaço para gastar com essas áreas.

“Isso exige que a gente reveja o teto de gastos porque arrecadar mais não libera espaço para gastar mais, o teto é descolado da arrecadação”, diz.

Chamada do ao vivo em casa de Mercado do dia 13.jul.2020 com Laura Carvalho
Laura Carvalho, economista e professora da USP - Núcleo de Imagem
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