Polêmico, presidente do Banco do Brasil vetou comercial e criticou distanciamento

Na semana passada, Rubem Novaes disse ter medo de uma reforma tributária muito ambiciosa

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São Paulo

Rubem Novaes, que agora deixa o Banco do Brasil, compunha o núcleo duro da equipe econômica de Paulo Guedes desde antes da posse. Foi indicado ao cargo ainda em novembro de 2018, quando se formava a equipe de transição. Sua gestão retratou o conservadorismo do governo dito liberal.

Em abril do ano passado, foi pressionado a retirar do ar um comercial que teria desagradado ao presidente Jair Bolsonaro. Um mês depois, ao falar sobre o tema, Novaes 74, afirmou que havia muita juventude descolada no filme e que concordava com o veto.

“Ele viu o filme e me mandou. Eu assisti e estranhei, não gostei. Não gostei por uma razão muito simples: nosso objetivo é atingir todo o espectro de jovens, que não vi representado”, afirmou à época.

O economista Rubem Novaes em Brasília - Adriano Machado - 22.nov.2018/Reuters

“Não vi o jovem fazendeiro, o rapaz esportista, o nerd. Não vi ali o jovem de classe média baixa que rala um dia inteiro para pagar estudos à noite. Ficou muito concentrado na juventude descolada”, criticou. Além de retirar o comercial do ar, o banco afastou o executivo responsável pela campanha.

Apesar de o caso ser considerado simbólico em relação até onde ia a visão conservadora de Novaes e do governo Bolsonaro, os sinais emitidos nessa linha eram anteriores. Em postagens em redes sociais, feitas antes de tomar posse, Novaes contestava o aquecimento global e atacava mulheres, como a ex-presidente Dilma Rousseff. Também fez comentários sobre a aparência física de Graça Foster, ex-presidente da Petrobras.

O BB sob a gestão de Novaes teve também um episódio suspeito de indicação política.

Em janeiro de 2019, Antonio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente general Hamilton Mourão, foi promovido a assessor de Novaes e teve o salário triplicado, sendo elevado a R$ 36 mil.

Enquanto isso, Novaes fez uma série de aparições públicas defendendo a privatização do banco, alinhado ao discurso de Guedes, mas contrariando Bolsonaro.

Novaes foi aliado do governo também ao criticar medidas de distanciamento social adotadas por governadores e prefeitos para conter a propagação do novo coronavírus.

Em uma entrevista no fim de março, quando a doença ainda começa a se alastrar, o executivo afirmou que “a ciência médica é tão ou mais imprecisa que a ciência econômica”. Endossava, com isso, o fim das quarentenas, na mesma linha que presidente Bolsonaro.

Na semana passada, porém, disse que o nível de incerteza do momento exigia cautela e que tinha medo de uma reforma tributária muito ambiciosa, entrando em colisão com Guedes, que articulava o envio do texto ao Congresso.

“Hoje os empresários e consumidores estão com um nível de incerteza enorme", afirmou. "Se você coloca em cima disso uma reforma tributária muito pretensiosa, que vai mexer com preços relativos, que vai envolver municípios, estados, governo federal, fica um receio danado de que surjam propostas mirabolantes.”

Apesar das polêmicas, foi na sua gestão que o BB deu um dos passos mais simbólicos rumo à modernização. Associou-se ao WhatsApp para oferecer pagamentos pelo aplicativo, um esforço para manter receitas com pagamentos.

Para que o BB possa oferecer o serviço, porém, é necessária uma autorização do Banco Central.​

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