Presidente do BB entrega pedido de renúncia a Guedes e Bolsonaro

Em comunicado ao mercado, Rubem Novaes afirma que banco precisa de renovação

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Brasília

O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, entregou nesta sexta-feira (24) pedido de renúncia ao cargo. A decisão foi comunicada em fato relevante apresentado ao mercado.

O aviso a investidores afirma que o pedido foi entregue ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A saída do posto será efetivada a partir de agosto, "em data a ser definida e oportunamente comunicada ao mercado".

De acordo com o fato relevante, a decisão foi tomada "entendendo que a companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário".

O economista Rubem Novaes em Brasília - Adriano Machado - 22.nov.2018/Reuters

Segundo a nota, sendo aceita a renúncia, a indicação do novo dirigente seguirá o estatuto social do banco, que estabelece que o presidente da instituição é nomeado pelo presidente da República.​

Auxiliares de Guedes afirmam que Novaes, que tem 74 anos, demonstrava cansaço e teria feito o pedido para ficar perto da família no Rio de Janeiro.

Muito próximo a Novaes, o ministro da Economia ficou sabendo da decisão há cerca de um mês. Guedes havia comentado recentemente que Novaes estava "cansado", mas assessores não esperavam que a saída se concretizasse tão rápido.

Interlocutores de Guedes afirmam que o executivo pediu para sair como um presente de aniversário com a justificativa de que desejava voltar para casa.

O ministro Paulo Guedes cumprimenta Rubem Novaes - Fabio Rodrigues Pozzebom - 7.jan.2019/Agência Brasil

A interlocutores Novaes também havia manifestado contrariedade com a recente decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) que colocou proibições sobre parte da publicidade do banco, sob a justificativa de que a verba estava irrigando um site que propaga fake news.

Na ocasião, o TCU havia determinado em 27 de maio deste ano a suspensão de contratos de anúncio publicitário do Banco do Brasil com sites, blogs, portais e redes sociais. A decisão do ministro Bruno Dantas partiu de análise feita de repasses de verba do banco para sites acusados de publicar fake news.

Após pressão nas redes sociais, o BB anunciou que não anunciaria mais em sites do tipo. Na sequência, após pressão do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, recuou e restabeleceu a publicidade em página acusada de disseminar conteúdo falso.

Nesta sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), pediu esclarecimentos ao BB sobre o uso das verbas publicitárias da instituição no âmbito do inquérito que apura fake news.

Agora, pelos planos de Guedes, Novaes deve seguir com ligação ao governo, não mais no Banco do Brasil. Provavelmente ele ocupará função de assessor especial do Ministério da Economia. Novaes desempanharia a função no Rio de Janeiro.

O anúncio da saída de Novaes do comando do BB foi recebido com surpresa por técnicos da área econômica. Ministros do entorno de Bolsonaro afirmaram, reservadamente, que não haviam tomado conhecimento de que o pedido de demissão aconteceria.

Em reunião fechada no Palácio do Planalto no dia 22 de abril, que veio a público após decisão judicial, Guedes dedicou parte de sua fala para fazer declarações duras em relação ao Banco do Brasil, defendendo sua privatização.

Paulo Guedes (Economia) durante entrevista após entrega da proposta de reforma tributária do governo - Pedro Ladeira/Folhapress

"É um caso pronto e a gente não tá dando esse passo. Senhor já notou que o BNDES e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo", afirmou Guedes.

O assunto sobre a privatização do banco ocorreu ao fim da reunião. Bolsonaro questionou Novaes, presidente da instituição, se ele não teria nada para falar.

Guedes tomou a palavra e aproveitou para defender a privatização do BB.

"O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado nem público. Então, se for apertar o Rubem, coitado. Ele é superliberal, mas se apertar ele e falar 'bota o juro baixo', ele: 'Não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam'", disse o ministro.

"Aí se falar assim: 'Bota o juro alto'. Ele: 'Não posso, porque senão o governo me aperta'. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização", defendeu o ministro.

Ao longo da conversa, Novaes falou sobre a importância da instituição na agricultura, mas depois foi estimulado pelo chefe da equipe econômica a defender a privatização do banco. Guedes pediu que o presidente do BB "confesse seu sonho" sobre o tema.

Bolsonaro, reticente à agenda privatista, interrompeu e disse, na ocasião: "Faz assim: só em 2023 cê confessa, agora não".

A gestão de Novaes se envolveu em uma polêmica em abril de 2019.

Na ocasião, acatando a um pedido de Bolsonaro, ele demitiu um diretor do banco e mandou retirar do ar uma campanha publicitária dirigida ao público jovem com atores que representavam a diversidade racial e sexual.

A peça publicitária, voltada para o público jovem, trazia entre seus personagens uma transexual. Bolsonaro assistiu ao comercial, desaprovou a proposta e determinou sua suspensão.

Em outro episódio que gerou controvérsia, o filho do vice-presidente, Hamilton Mourão, foi nomeado assessor de Novaes em janeiro do ano passado. Antônio Hamilton Rossell Mourão foi para a assessoria especial do presidente do Banco do Brasil.

Com a ascensão no banco público, o filho do vice passou a ganhar R$ 36,3 mil, o triplo do salário que recebia antes. A função equivale a um cargo de executivo.

A decisão gerou desconforto na cúpula do governo, segundo relatos. Para integrantes da equipe ministerial, a escolha divergia da conduta defendida por Bolsonaro, durante a campanha presidencial, de acabar com privilégios.

Desde o início do governo Bolsonaro, nomes de peso já deixaram a equipe econômica de Guedes.

A primeira baixa foi Joaquim Levy. O economista Joaquim Levy pediu demissão da presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no dia 16 de junho do ano passado, após Bolsonaro afirma que ele estava "com a cabeça a prêmio".

No dia 11 de setembro do ano passado, foi a vez de Marcos Cintra deixar o governo. Ele foi demitido por Guedes do cargo de secretário especial da Receita Federal.

O motivo da queda foi a divulgação de estudos para uma reforma tributária na ocasião, incluindo a cobrança de uma taxação nos moldes da antiga CPMF. O conteúdo dos estudos foi antecipado pela Folha.

Nesta semana, o governo apresentou a primeira parte de sua proposta de refoma tributária. Em breve, a intenção da equipe de Guedes é lançar um imposto sobre pagamentos digitais.

No dia 15 deste mês, Mansueto de Almeida deixou o governo a pedido. Ele estava desde o governo Michel Temer (MDB) à frente da Secretaria do Tesouro Nacional.

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