Vendas online são caminho sem volta para clientes e lojistas

Necessidade faz consumidor usar ecommerce mesmo para itens do dia a dia

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São Paulo

Comprar tudo pela internet já era um hábito dos paulistanos, mas virou uma necessidade quando a Covid-19 forçou o fechamento do comércio não essencial, em março, e fez parte dos consumidores terem medo até de ir à farmácia.

As vendas online em todo o país mais que dobraram entre janeiro e maio deste ano, com alta de 137,35% na comparação com igual período do ano passado, segundo levantamento mais recente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net).

A expectativa é fechar o primeiro semestre com expansão acima dos três dígitos.

“Houve uma mudança no perfil do consumidor, e o comércio eletrônico aparece como um dos poucos setores que apresenta grande crescimento nesse momento de pandemia”, afirma Felipe Brandão, secretário executivo da entidade.

De acordo com Brandão, durante a quarentena o ecommerce, que sempre teve concentração em bens duráveis, passou a ter participação significativa em itens do dia a dia.

Pesquisa Datafolha sobre os hábitos de consumo dos moradores de São Paulo na pandemia aponta que 66% estão comprando produtos de limpeza pela internet. Em seguida, estão os aparelhos eletrodomésticos e eletrônicos (45%), roupas (31%), remédios (29%), sapatos (26%) e itens de supermercado (17%).

A economista e pró-reitora nacional de pesquisa da ESPM, Cristina Helena Pinto de Mello, vê nos dados um reflexo do consumidor que se viu obrigado a passar mais tempo dentro de casa.

“As pessoas estão equipando suas casas porque estão ficando mais tempo nelas e porque precisam trabalhar em regime de home office”, diz.

Para a economista, o índice relativamente baixo de adesão dos paulistanos aos supermercados online mostra que eles viraram um destino de escape da rotina do isolamento.

“A ida a esses estabelecimentos foi por muito tempo o único passeio possível. É uma maneira de sair de casa sem tanta culpa”, afirma.

De acordo com a pesquisa Datafolha, 90% dos moradores da capital paulista estão indo até o supermercado durante a quarentena.

A assistente jurídica Vivian Santiago Xavier, 18, sempre foi uma apaixonada por ir ao shopping para fazer compras. “Com a pandemia, o comércio online foi a minha salvação”, diz ela, que aderiu ao meio virtual para adquirir de itens de supermercado a livros, lençóis, móveis, louças e até um violão para seu novo apartamento.

“Não sei tocar, mas a promoção era interessante e resolvi comprar. Se eu não aprender, uso como decoração”, afirma a jovem, que prevê mesclar compras virtuais e presenciais quando a pandemia acabar.

De olho em uma clientela mais resistente ao meio digital, as lojas investiram em atrativos como frete grátis e menor prazo de entrega.

“Para muitos consumidores, a barreira da primeira compra online foi vencida, mas a sua fidelização vai depender de como foi essa experiência”, afirma Júlia Avila, da Ebit Nielsen, que faz análises sobre o varejo online.

O Grupo Pão de Açúcar tocou seus planos de investimentos para os próximos dois anos em um prazo de três meses. No início do distanciamento social, na segunda quinzena de março, o prazo para entrega podia chegar a 12 dias. Hoje, é possível receber até em algumas horas.


Para isso, foi de 120 para 300 lojas, inaugurou quatro novos centros de distribuição e sua frota de veículos saltou de 200 para 1.000, segundo Rodrigo Pimentel, diretor de ecommerce alimentar.

Mesmo tendo que agir rapidamente, as empresas devem manter a longo prazo boa parte das mudanças adotadas.


“A digitalização foi forçada por questão de sobrevivência, mas depois que ela ocorre não dá para voltar atrás”, afirma Felipe Held, chefe de marketing da Konduto, empresa de softwares do setor.

Com suas três lojas de sapatos veganos fechadas, Barbara Mattivy, fundadora da Insecta Shoes, viu seu faturamento despencar em março. A empreendedora resolveu incrementar o ecommerce para recuperar as vendas.

A estratégia deu certo. Em 15 dias, a empresa lançou produtos para usar em casa, como as “chitufas” uma mistura de chinelo com pantufa (R$ 99), e viu o faturamento subir 50% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Com o resultado positivo, Mattivy decidiu fechar definitivamente uma das três lojas físicas em São Paulo.
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