Desequilíbrio fiscal pode trazer de volta inflação e juros altos, diz Campos Neto

Segundo ele, com dívida pública maior, subir juros teria efeito pior que no passado

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, nesta segunda-feira (24), que o desequilíbrio fiscal –decorrente do aumento de gastos com pandemia do novo coronavírus e de possível frustração das reformas em tramitação no Congresso Nacional– poderia levar o país a "voltar para a situação antiga, com inflação e juros altos".

​Segundo ele, o "1% que que mexer no juro, o impacto é muito maior", explicou em evento virtual promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Andre Coelho-08.jan.20/Folhapress

Campos Neto disse que o afrouxamento do teto de gastos pode gerar esse desequilíbrio nas contas públicas e que seria melhor priorizar a preservação do teto e buscar alternativas no Orçamento. "Deve haver espaço de manobra [no Orçamento]. Se não tem, precisa cortar alguma coisa", argumentou.

Com dificuldades para refinanciar a dívida, o governo estuda aprovar um repasse de R$ 400 bilhões dos resultados cambiais do BC para o Tesouro. "Não sou contra, mas defendo que tenhamos um colchão para absorver flutuações futuras", ressaltou.

Sobre a queda da taxa básica e sobre qual seria o seu piso, discutido nas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), o presidente do BC afirmou que o país experimenta um novo nível de juros básicos depois de um histórico de Selic alta.

Ele ponderou que alguns sistemas são modificados quando os juros caem bruscamente e ressaltou que não é impossível cortar abaixo de 2% ao ano, e que o movimento nessa linha "exige cautela". "Muda a estrutura de financiamento do sistema financeiro. Por exemplo, muitos estão retirando dinheiro de fundos de renda fixa e colocando na poupança por conta da taxa de administração."

Campos Neto disse ainda que os bancos seguraram papel-moeda. Esse, segundo ele, foi um dos motivos de o BC ter que imprimir mais dinheiro, além do aumento da demanda por causo do auxílio emergencial e do entesouramento (quando o dinheiro fica parado na mão das pessoas e não circula).

"O numerário começou a não voltar para o BC por causa da taxa de custódia. Algumas instituições preferem ficar com a moeda rendendo zero por conta da taxa de custódia, já que o custo de oportunidade cai", afirmou.

Esse, segundo ele, foi um dos motivos de o BC ter que imprimir mais dinheiro, além do aumento da demanda por conta do auxílio emergencial e do entesouramento (quando o dinheiro fica parado na mão das pessoas e não circula).

Campos Neto contou que, no início da crise, foram feitos testes de estresse e o BC tinha uma reserva de R$ 50 bilhões, que não seriam suficientes. Com a extensão do auxílio emergencial, a autoridade monetária precisou emitir mais cédulas em pouco tempo.

"E a única forma de fazer isso era criando a cédula de R$ 200. Gostaria de deixar bem explicado, porque de fato vai contra o que o BC vem pregando, mas a ideia não é ir contra o processo de digitalização, ao contrário, é um tema que vai continuar", explicou.

Campos Neto antecipou, durante o evento, que o BC fará em breve o anúncio de uma agenda ligada a sustentabilidade e inclusão. "Ouvimos para ser sustentável temos produtividade menor, mas é o contrário, quanto mais sustentável, mais produtivo", pontuou.

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