Emissões de títulos voltados para ESG no mundo devem alcançar US$ 350 bilhões em 2020

Volume seria 36% maior do que o registrado em 2019; assunto tem ganhado cada vez mais relevância entre empresários e investidores

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São Paulo

As emissões de títulos de dívida voltados para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança (ou ESG, como são conhecidas pelo mercado) devem alcançar cerca de US$ 350 bilhões (R$ 1,98 trilhão) em 2020, um aumento de 36% em relação a 2019, quando registrou US$ 257,5 bilhões (R$ 1,5 trilhão).

Até o momento foram emitidos cerca de US$ 116,6 bilhões (R$ 658,9 bilhões) neste ano. A estimativa é da CBI (Climate Bonds Initiative).

Segundo a vice-presidente e diretora de desenvolvimento de mercado da CBI, Justine Leigh-Bell, a demanda por empresas que tenham políticas e estratégias voltadas para impactos sociais e ambientais positivos tem crescido entre investidores, mas pondera que regras mais específicas ao tema podem ser necessárias.

Desmatamento registrado em Novo Progresso, no Pará
Desmatamento registrado em Novo Progresso, no Pará - Christian Braga/Divulgação: Greenpeace

“Os green bonds [também conhecidos como títulos verdes, são títulos emitidos para financiar investimentos considerados sustentáveis] se tornaram uma diretriz para investidores e é essencial para as emissões hoje em dia. No início, houve uma série de discussões sobre não ter normas nesse mercado, mas é algo que funciona apenas por um período”, afirmou em uma transmissão ao vivo na Conferência Anual do Santander, evento promovido pelo banco.

Ela também cita a agenda ambiental trazida pela União Europeia, na qual o Estado e o setor privado se comprometem a investir em políticas de desenvolvimento sustentável e a adaptar cadeias produtivas a essa mentalidade. Para Leigh-Bell, o movimento sinaliza como o bloco econômico está levando o assunto a sério.

“E isso tem sido impressionante no sentido de todos falarem uma só língua, o que é fundamental quando tentarmos alcançar uma escala maior, já que reduz atritos, ajuda a tomar decisões mais rapidamente e a decidir onde vamos investir. Todos temos que estar no mesmo nível para que as mudanças aconteçam a nível global”, disse.

Para o diretor adjunto de gestão de dívida de mercados emergentes da Amundi AM, Maxim Vydrine, a diversificação da indústria de títulos verdes também tem crescido ao redor do mundo.

“Cada ano temos novos países emitindo títulos verdes e entrando nesse mercado. No Brasil, por exemplo, vemos inclusive uma diversificação de setores, com uma série de emissores do setor financeiro, de alimentos e de transporte”, afirmou.

Apesar de as discussões sobre o ESG já ser um assunto antigo nas salas de reuniões de gestores e empresários do país, no entanto, a constatação de que o ESG começa a fazer parte do “novo normal” das companhias ganhou um apelo mais forte somente em janeiro deste ano.

Naquele mês, Larry Fink, presidente da BlackRock –maior gestora de investimentos do mundo, com US$ 7 trilhões em ativos (cerca de R$ 39,6 trilhões)– anunciou em sua carta anual ao mercado que deixaria de investir em setores intensivos em carbono, como a indústria de carvão, realocando esses recursos para segmentos mais sustentáveis.

“No Brasil, temos algumas emissões entusiasmantes e isso tem, inclusive, um efeito forte na América Latina, estimulando outros a emitirem títulos verdes e trazendo interesse para esse mercado”, disse Leigh-Bell.

Ela afirma, porém, que ainda falta uma maior mobilização de investidores brasileiros. “Isso cria confiança para que investidores estrangeiros entrem no mercado. Está na hora de começar a analisar o que está acontecendo internacionalmente e de adaptar todas essas movimentações aqui no Brasil. Já temos diretrixes voluntárias emitidas pela Febraban [Federação Brasileira de Bancos], o que ajuda, mas ainda precisamos analisar benchmarks [referências] regulatórias e pacotes de incentivo potenciais a curto prazo”, disse.

No Brasil, o movimento mais recente foi em julho, quando 40 empresários enviaram uma carta ao vice-presidente, Hamilton Mourão, pedindo o combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal da Amazônia e demais biomas brasileiros.

No documento, as empresas demonstraram preocupação com a atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior, devido às questões socioambientais.

“Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”, escreveram os signatários.

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