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Impasses levam Bolsonaro a adiar anúncio de medidas econômicas e sociais

Na avaliação do presidente, Guedes deveria ter aguardado uma definição da Casa Civil, que ainda não fechou detalhes das medidas, para fechar data de divulgação

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Brasília

A equipe do presidente Jair Bolsonaro não conseguiu finalizar medidas prometidas para esta terça-feira (25) e decidiu adiar o evento destinado ao anúncio do pacote social e econômico que seria realizado no Palácio do Planalto, informaram fontes do governo à Folha.

Na última sexta-feira (21), o ministro Paulo Guedes (Economia) havia confirmado a data da solenidade para terça. Segundo ele, entre as ações previstas para serem anunciadas estariam um novo programa de emprego com encargos sociais mais baixos e a ampliação do Bolsa Família, que será rebatizado de Renda Brasil.

Membros do governo também listaram outras propostas do pacote. Entre elas, seriam destaque a prorrogação do auxílio emergencial a informais, obras de infraestrutura e novos marcos regulatórios para atrair capital privado.

Jair Bolsonaro durante cerimônia "Vencendo o Covid-19", no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress

Os planos para o evento, tratado internamente como o grande anúncio para a retomada do país no pós-pandemia, acabaram atrasando. Ainda não há definição de nova data, mas a solenidade pode ficar para a próxima semana.

O adiamento foi definido pelo presidente nesta segunda-feira (24), durante reunião com Guedes, no Palácio do Planalto. Segundo assessores palacianos, no encontro, Bolsonaro reclamou que o ministro da Economia se antecipou ao afirmar em entrevista que o evento ocorreria na terça.

Para o presidente, antes de falar com a imprensa, ele deveria ter aguardado uma definição da Casa Civil, que ainda não fechou detalhes das medidas.

Na última semana, já com o evento planejado para esta terça, membros do Ministério da Economia reconheciam que as propostas não estavam prontas, mas afirmavam que o ato no Planalto seria feito mesmo assim.

O argumento era que a solenidade teria a finalidade de divulgar as linhas gerais das propostas do governo, que já vinham sendo ventiladas e apresentadas nos bastidores. A entrega oficial das propostas ao Congresso ficaria para um segundo momento, após a finalização dos textos legais.

O ministro Paulo Guedes cancelou reuniões agendadas para a manhã desta segunda-feira, na tentativa de liberar sua equipe para finalizar as propostas.

Ainda há divergências em torno do Renda Brasil. Técnicos afirmam que a pasta faz os últimos ajustes na abrangência e no valor do benefício.

Para compensar o novo programa, que pode ter um custo anual de R$ 20 bilhões acima do Orçamento do Bolsa Família, Guedes quer propor a extinção de assistências consideradas ineficientes, como abono salarial, seguro-defeso e farmácia popular.

Pessoas próximas ao ministro afirmam que a proposta do Renda Brasil não está pronta porque técnicos ainda trabalham com diferentes cenários. O valor do benefício vai depender do número de pessoas atendidas e da verba disponibilizada.

Membros da pasta ainda levaram para a discussão da área social a necessidade de controle de despesas públicas após a pandemia do novo coronavírus, o que pode impor uma limitação ao valor do benefício.

Por decisão de Guedes, o Renda Brasil passou a ser desenhado dentro de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que tramita no Congresso e trata, entre outros pontos, de medidas de ajuste fiscal e retiradas de amarras do Orçamento com o objetivo de abrir espaço para gastos do governo.

Apesar de ter diversas propostas pendentes de apresentação no pacote da reforma tributária, o governo também não havia fechado os textos que envolvem, por exemplo, criação de um novo imposto sobre pagamentos, reestruturação do Imposto de Renda e desoneração da folha de salários.

Antes mesmo do adiamento do evento no Planalto, técnicos do Ministério da Economia já afirmavam que ações na área de emprego, como o programa carteira de trabalho Verde e Amarela e a desoneração de encargos trabalhistas não seriam apresentados nesta terça.

Em outra frente do pacote, membros do ministério relatam dificuldade em fechar a carteira de obras públicas. A demanda de ministros estaria maior do que a disponibilidade de verbas.

O governo vinha preparando uma proposta ao Congresso para usar ao menos R$ 5 bilhões para obras hídricas ainda neste ano. O valor foi decidido após uma queda de braço de Guedes com outros ministros que defendiam a liberação de mais recursos.

Com a decisão, Guedes conseguiu barrar um programa mais amplo de gastos públicos e o chamado Pró-Brasil passou a ter foco em propostas de geração de renda, incentivo ao emprego e estímulo ao investimento privado.

Auxiliares presidenciais chegaram a defender que o evento fosse mantido nesta terça para tentar reverter o desgaste de imagem causado por declaração de Bolsonaro no domingo (23). O presidente ameaçou agredir um jornalista que perguntou sobre os depósitos feitos por Fabrício Queiroz à primeira-dama Michelle Bolsonaro.

A avaliação do presidente, no entanto, foi de que as propostas para a retomada econômica e reforço social são temas sensíveis para serem anunciados de forma apressada. A ideia de Bolsonaro é transformar as iniciativas em vitrines eleitorais de sua candidatura à reeleição em 2022.

Para esta terça, está mantido o anúncio da reformulação do programa Minha Casa Minha Vida, que originalmente já seria apresentado em um evento separado.

O governo afirma que novo programa, chamado de Casa Verde e Amarela, será mais amplo do que o antecessor pois contará com um programa de regularização fundiária para diminuir o déficit habitacional, além de incentivar reformas nas residências.

O objetivo será a regularização, a melhoria habitacional e a ampliação do acesso ao financiamento imobiliário no país. O governo quer baixar os juros do programa em relação ao praticado anteriormente e fala internamente em taxas de juros que variam conforme a renda.

No Senado, líderes da bancada governistas avaliam que o governo terá dificuldades para aprovar mudanças em programas da área social.

A principal resistência, na análise dos líderes, seria a possibilidade de uma extinção de programas como o Farmácia Popular e do seguro-defeso, pago a pescadores artesanais no período de reprodução dos peixes.

A ideia do governo é encerrar com esses programas para capitanear recursos para o Renda Brasil, que rebatizaria o Bolso Família, com encargos sociais mais baixos.

De acordo com o vice-líder do governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF), até mesmo os integrantes da base governista se mostram desconfortáveis com a ideia.

"Não vai ser fácil fazer as mudanças na área social, essa parte vai ser muito complicada aqui no Senado", disse o senador, que comandou na tarde desta segunda a reunião dos líderes governistas.​

Colaborou Iara Lemos

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