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Investidor aposta em produtos mais complexos para diversificar carteira

Analistas alertam para alto risco de modalidades como derivativos e dizem que demandam experiência

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São Paulo

Com a promessa de expressivos ganhos em pouco tempo, produtos complexos, que podem apresentar alto risco, como o COE (certificado de operações estruturadas) e derivativos, são buscados pelo investidor pessoa física em um cenário de juros baixos —hoje, em 2,25% ao ano.

Eles estão disponíveis em diversas corretoras com aportes iniciais cada vez mais acessíveis e, muitas vezes, vendidos como retorno garantido.

Muitos, porém, investem nesses produtos sem conhecer todos os riscos, que podem levar, inclusive, à perda de todo o investimento.

“Vemos o investidor super leigo querendo sair do bancão e das aplicações tradicionais, já com produtos na cabeça, mas, como não está acostumado a diversificar, acaba caindo em armadilhas muito fácil”, diz Rodrigo Marcatti, presidente executivo da Veedha Investimentos.

Gabriel Cabral/Folhapress

Para não cair em propaganda enganosa, especialistas recomendam que o investidor pesquise muito e entenda todos os aspectos do produto antes de fazer o aporte.

“O primeiro erro do investidor é achar que rentabilidade passada se repetirá no futuro. O segundo é pensar no investimento a curto prazo. O terceiro é não conhecer o produto”, afirma Guilherme Ribeiro de Macêdo, doutor em Finanças e professor da UFRGS.

“A disciplina do investidor deve ser proporcional à complexidade do produto. A carteira de investimentos deve depender de quanto tempo ele tem para se dedicar”, diz Maílson Valnês, planejador financeiro CFP pela Planejar.

Os especialistas apontam que também é preciso estar atento ao perfil de risco. Muitos produtos de renda variável estão restritos a investidores arrojados, ou seja, que têm uma maior tolerância (emocional e financeira) a possíveis perdas.

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COE (Certificado de Operações Estruturadas)

O COE é um título emitido por banco, com um prazo de 90 dias a dois anos, e valor mínimo que varia, em média, de R$ 1.000 a R$ 10 mil. Na maior parte dos casos, resgates antes do prazo não são permitidos.
Cada COE é único. Ele combina investimentos em renda fixa e variável, que podem ser moedas, metais preciosos, ações, títulos de dívida, inflação, entre outros.

A remuneração do investimento varia de acordo com o emissor, seguindo um determinado percentual da variação de um dos investimentos no período, como o dólar ou o Ibovespa.

Os ganhos são limitados, com uma régua traçada pelo emissor. Por exemplo, se a limitação for 30% de alta do dólar e a moeda se valorizar em 40%, o investidor ganha apenas 30%.

Há dois tipos de COE, o de capital de risco e o de capital garantido. No primeiro, o banco não é obrigado a retornar todo valor investido inicialmente em caso de perdas nos investimentos do título e, dependendo do desempenho da cesta de produtos, o investidor pode perder tudo.

No segundo, o investidor recebe, no mínimo, todo o valor aportado; porém, sem correção pela inflação.
Também há o risco de o banco quebrar e não honrar a aplicação, pois não há cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).

Os custos, incluindo a remuneração do banco e corretores, estão embutidos no preço COE, já que ele não tem taxa de administração nem de corretagem. O Imposto de Renda pago é sobre o rendimento final, de acordo com a tabela da renda fixa (15% a 22,5%, dependendo do prazo).

COEs passaram a ser emitidos no Brasil em 2014. Desde então, o volume negociado saltou de R$ 1,8 bilhão para R$ 20,8 bilhões, com a popularização do produto entre o pequeno investidor.

A queda dos juros deu visibilidade ao produto, com brasileiros buscando a renda variável com certa garantia. Outro fator para o crescimento do mercado é a redução do aporte mínimo. Nos primeiros anos, eram necessários cerca de R$ 50 mil.

Dependendo do tipo de COE, ele pode caber até na carteira do investidor mais moderado.
“Sendo compreendido e fazendo sentido dentro da alocação do cliente, não tem pegadinha”, diz Valnês.

ETF (fundo de índice)

Um ETF (Exchange Traded Fund) é um fundo de gestão passiva negociado em Bolsa por meio de cotas. Isso significa que não há um gestor decidindo onde investir o dinheiro e as aplicações seguem um índice específico, de renda fixa ou variável.

Há taxa de administração, de custódia e de corretagem (pela compra e venda da cota), ambos fixados pela corretora do investidor —e podem variar. Como não há um gestor tomando decisões de investimento, as taxas são mais baixas do que de outros fundos.

O ETF mais popular segue o Ibovespa, maior índice acionário da Bolsa brasileira. Nesse caso, o ganho desse fundo será, ao final de um período, o mesmo registrado pela Bolsa.

Há também ETFs alavancados, ou seja, que investem o dobro ou o triplo no mesmo índice. Isso faz o retorno, ou a perda, ser muito maior.

“Às vezes o investidor não sabe que tem alavancagem ali dentro”, diz Valnês, da Planejar. Também é importante que o investidor entenda o índice que compõe o ETF.

Segundo especialistas, não é indicado para investidores conservadores.

Derivativos

Derivativos são contratos cujo valor e a consequente rentabilidade, deriva do ativo de referência em questão, como o dólar ou uma ação na Bolsa.

Há vários tipos de operações com derivativos, sendo as mais populares o mercado a termo, o mercado futuro e o mercado de opções. Pelo alto risco, são recomendadas apenas para investidores com perfil agressivo.

No mercado a termo, há um compromisso de compra e venda entre duas partes, em determinada data futura, a um preço preestabelecido. No futuro, é negociado um contrato de compra ou venda de um ativo antes de sua data de liquidação.

No mercado de opções, se adquire o direito de comprar ou vender um ativo por um determinado preço numa determinada data, sem obrigação de exercê-lo. Por outro lado, quem vendeu a opção é obrigado a cumprir o acordo caso o comprador queira executar a operação.

Nesse último, se tornou popular entre os brasileiros a opção binária. Nessa operação, o ganho e a perda estão atrelados a se o preço de um ativo sobe ou desce em um determinado período.

“Pessoas estão pegando empréstimo para operar em derivativo”, diz Macêdo, da UFRGS.

Para o economista, essas operações deveriam ser restritas a investidores profissionais. “Tenho certeza que o pessoa física que investe nisso não entende o que está fazendo.”

As opções binárias são operações baseadas na subida ou descida dos preços dentro de um período de tempo. Geralmente, o intervalo é curto, de segundos a meia hora.

Por exemplo, se o investidor acredita que a ação da Petrobras irá cair nos próximos minutos, ele aposta um determinado valor nessa opção. Se a Petrobras cair, seja 0,1% ou 10%, o investidor tem um retorno percentual do valor apostado. Se a Petrobras subir, ele perde a aposta.

Em julho, o caso de um investidor americano que operava opções ficou notório. Ele se suicidou após acreditar ter perdido cerca de US$ 750 mil (R$ 3,9 milhões). Em um bilhete que deixou para sua família, ele disse que “não tinha ideia do que estava fazendo” e que jamais havia “pretendido aceitar um risco desse tamanho”.

“Investir em derivativos sem educação e maturidade, é uma temeridade”, diz Valnês, da Planejar.

Essas transações se popularizam por serem gratuitas, ou de baixo custo, com uma experiência semelhante a jogos de azar e videogames, com investidores competindo entre si para ver quem ganha mais.

Muitas corretoras estimulam a modalidade, com plataformas que se assemelham a jogos online e atualizações constantes de lucros e prejuízos.

“É um erro entrar no mercado financeiro e jogar como se fosse uma roleta. Quem faz isso, geralmente, está começando a investir e se inspirou na história de alguém que vive disso. Assim como há vício em jogos, há o vício em apostar no mercado financeiro”, diz Marcatti, da Veedha.​

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