Países articulam adiamento da eleição do BID em boicote à candidatura dos EUA

Para adiar pleito, países signatários não devem fazer login no sistema virtual nos dias marcados para votação

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Washington

A candidatura dos EUA à presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) está sendo colocada em xeque pela articulação de países que querem adiar a eleição marcada para setembro. O objetivo do grupo, que conta ao menos com países da União Europeia, Chile e México, é que a votação ocorra somente depois da eleição americana.

Caso aconteça em março de 2021, como propõe o grupo, o presidente dos EUA pode ser o democrata Joe Biden, que hoje lidera pesquisas nacionais e em estados-chave da disputa, e não é alinhado a Mauricio Claver-Carone, indicado por Donald Trump para concorrer ao comando do BID.

Em um movimento que atropelou o Brasil —que desejava o apoio americano ao seu candidato próprio— Trump indicou Carone para presidir o banco, quebrando uma tradição de seis décadas em que um nome da América Latina comanda a instituição.

A resistência a Carone ganhou corpo esta semana. Nesta sexta-feira (7), o México foi a público dizer que defende o adiamento da eleição, um dia depois da chancelaria do Chile se colocar a favor de postergar a escolha. No último dia 30, o alto representante para a Política Exterior e Segurança Comum da União Europeia, Josep Borell, disse que a votação deveria ser feita em março de 2021.

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Joshua Roberts/Reuters

A Argentina, que tem candidato próprio mas também não está satisfeita com Carone, pode ser juntar ao grupo que quer interditar a eleição.

Para adiar o pleito, os países signatários do movimento não devem fazer login no sistema virtual nos dias marcados para a votação, 12 e 13 de setembro.

No dia da votação, caso 25% ou mais dos votantes não comparecem —por conta da pandemia, neste caso, remotamente—, o pleito é adiado. A conta, por ora, é a seguinte: europeus, somados ao Reino Unido e se votarem em bloco, têm 10,9%, argentinos contam com 11,3%, mexicanos, 7,2%, e chilenos têm 3,1% do poder de voto. Juntos, portanto, teriam cerca de 32,7% e conseguiriam o adiamento.

“O Ministério da Fazenda coincide (com Chile e União Europeia) em adiar as eleições presidenciais deste organismo (BID) até que se tenha condições para isso, sobretudo para dialogar e definir o papel que tem esta instituição ante os desafios sociais e econômicos que surge com a conjuntura da Covid-19", disse o ministério do México em suas redes sociais.

A expectativa é de que, a partir de agora, outros países apoiem o movimento, em uma espécie de efeito cascata.

O Brasil, porém, que já havia demonstrado apoio a Carone, apesar de ter sido atropelado pelo governo Trump na escolha, segue alijado das negociações.

Para o governo de Jair Bolsonaro, seria melhor aprovar um nome indicado por Trump agora do que correr o risco de, no ano que vem, ter que enfrentar a mudança na conjuntura política caso Biden vença a corrida à Casa Branca.

O governo Bolsonaro acreditava que Trump apoiaria Rodrigo Xavier, ex-presidente do UBS e do Bank of America no Brasil, lançado publicamente pelo ministro Paulo Guedes (Economia) para o cargo que hoje é do colombiano Luis Alberto Moreno à frente do BID.

Carone é diretor do Conselho de Segurança Nacional para Assuntos do Hemisfério Ocidental, e um dos elaboradores das políticas mais linha-dura contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela.

Quem acompanhou as tratativas afirma que também contou o fato de Trump não querer o ônus de defender um candidato considerado fraco e pouco conhecido em Washington, como era o caso de Xavier.

Sem um escopo amplo de atuação em organismos multilaterais, a avaliação é que o brasileiro ficaria muito associado ao próprio Bolsonaro, que tem tido sua imagem bastante prejudicada internacionalmente. Dessa forma, haveria um custo político para os EUA apoiarem um nome sem apelo na região.

A eleição do BID é feita pela assembleia de governadores da instituição. Os EUA têm 30% dos votos, enquanto o Brasil tem 11%, o segundo maior participante. Para vencer, é preciso alcançar a maioria dos votos e ter 15 dos 26 apoios regionais.

O mandato do presidente do BID é de cinco anos e, portanto, a linha-dura de Carone permaneceria à frente da instituição mesmo que Trump não seja reeleito em novembro — isso caso a eleição do banco não seja adiada.

Caso seguisse a habitual rotação com presidentes de países que ainda não presidiram o BID, candidatos do Brasil ou da Argentina seriam os com mais chance de receber apoio significativo na disputa deste ano.

Com o esquerdista Alberto Fernández presidindo a Argentina, o Brasil avaliou que poderia ter mais um ativo na busca pelo apoio de Trump, mas o presidente americano, mais uma vez, indicou que seus interesses estão acima de qualquer tipo de aliança com outros países.

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