Descrição de chapéu Financial Times

Preço do ouro chega a US$ 2 mil pela primeira vez, por conta da Covid-19 e do medo de inflação

Alta de 32% registrada este ano fez do metal um dos ativos de melhor desempenho no planeta

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Londres | Financial Times

O ouro atingiu o preço de US$ 2 mil por onça troy nesta terça-feira (4), um marco que coroa uma alta recorde propelida pela queda no rendimento dos títulos e pelo medo quanto ao impacto da Covid-19 sobre a economia mundial.

A alta de 32% registrada este ano fez do ouro um dos ativos importantes de melhor desempenho no planeta, refletindo preocupações entre os investidores sobre o número elevado de casos de coronavírus, especialmente nos Estados Unidos, e o impacto dos trilhões de dólares em medidas de estímulo adotadas por governos e bancos centrais em todo o mundo.

A disparada no preço do metal precioso, muitas vezes usado como porto seguro em períodos de desgaste, deriva em parte da demanda dos investidores por cotas negociadas em bolsa de fundos de investimento lastreados por ouro, cujo volume de negociação bateu recordes.

barra de ouro
Preço do ouro bateu recorde nominal nesta segunda (27) - BBC/GSO Images

Os investidores estacionaram um total líquido de US$ 7,4 bilhões em fundos lastreados por ouro, em julho, de acordo com dados do Conselho Mundial do Ouro – o que elevou o recorde de US$ 40 bilhões que já haviam investido no primeiro semestre.

O ouro pode se beneficiar de uma queda continuada nos rendimentos dos títulos e de um possível surto inflacionário, disse Jim Luke, administrador de fundos no grupo de investimento Schroders. O rendimento real dos títulos de 10 anos do Tesouro americano, que leva em conta a inflação, bateu um recorde histórico de baixa e caiu a 1,02% negativo este mês. “Estamos em um mundo no qual a inflação vai superar as metas e os juros reais serão significativamente mais baixos do que agora”, disse Luke.

Tipicamente, o ouro sofre desvantagem com relação aos títulos públicos – outro refúgio clássico para os investidores nervosos – por não oferecer dividendos ou pagamentos de juros. No entanto, as medidas agressivas de relaxamento adotadas pelos bancos centrais, entre as quais grandes programas de compra de títulos pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, significam, que os retornos disponíveis para novos compradores de títulos são magros. O título de 10 anos do Tesouro americano, a referência do mercado, agora tem rendimento de cerca de 0,5%.

Muitos títulos públicos oferecem rendimentos negativos, o que significa que os compradores têm prejuízo garantido caso retenham o papel até seu vencimento. Isso torna o ouro ainda mais atraente em termos relativos.

Os governos de todo o planeta anunciaram US$ 20 trilhões em medidas de estímulo para combater o impacto do coronavírus, de acordo com o Bank of America, o equivalente a pouco mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

O banco afirmou que o impacto do coronavírus e as tensões entre Estados Unidos e China podem conduzir o preço do ouro para perto dos US$ 3 mil por onça troy, nos próximos 18 meses.

O ouro continua sub-representado nas posições dos investidores mundiais, se comparado às ações, de acordo com o Bank of America, com um total de menos de 3% dos ativos totais de investimento retidos em forma do metal. Em 1980, essa proporção chegava a até 6,2%, segundo os analistas do banco.

“Ainda vemos amplo espaço para que os operadores considerem elevar a participação do ouro em suas carteiras”, eles acrescentaram.

O preço do ouro ainda não bateu seu recorde histórico, se considerarmos a inflação. Fahad Kamal. estrategista chefe de mercado do banco Kleinwort Hambros, disse que, “se computada a inflação, o pico histórico da cotação do ouro foi de cerca de US$ 2,5 mil... atingido quando os tanques soviéticos invadiram o Afeganistão em 1979”.

Luke, do Schroders, disse que a alta do ouro tem espaço para crescer à medida que os investidores se adaptam aos juros reais negativos e à alta avaliação das ações.

“As pessoas que se interessam por ouro às vezes são chamadas de ‘gold bugs’, e algumas delas tem essa mentalidade de fé cega”, ele disse. “Mas o que está atraindo os investidores ao ouro agora não é a fé no metal em si, e sim, em medida muito maior, a falta de fé em outras coisas – bancos centrais, governos e, especialmente, a falta de fé na disponibilidade de retornos reais em outros segmentos. O ouro é o inverso disso”.

O ouro fechou o dia sendo negociado a US$ 1.955,22 por onça troy, com alta de 0,95%, depois de chegar à marca de US$ 2.000,11 por breve período.

Tradução de Paulo Migliacci

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