Descrição de chapéu Financial Times

Boeing ocultou falhas de projeto do 737 MAX dos pilotos e autoridades

Relatório dos EUA mostra que empresa ocultou das autoridades resultados de testes internos

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Londres | Financial Times

A Boeing ocultou falhas de projeto em seu modelo 737 MAX tanto dos pilotos quanto das autoridades regulatórias, enquanto corria para conseguir que o avião fosse licenciado para operar, segundo o Congresso dos EUA. O documento analisa os motivos para que dois aviões desse modelo caíssem em intervalo de poucos meses, no ano passado, causando a morte de 346 pessoas.

O relatório, preparado pelo Comitê de Transporte da Câmara, constatou que a fabricante de aviões norte-americana desrespeitou regras e pressionou as autoridades a desconsiderar certos aspectos de seu projeto, em sua tentativa de recuperar o atraso com relação à rival europeia Airbus. O relatório também acusa as autoridades regulatórias de estarem interessadas demais em satisfazer a companhia, e que isso as levou a reduzir sua vigilância.

O relatório afirma que “[as duas quedas] foram a horrenda culminação de uma série de suposições técnicas injustificadas pelos engenheiros da Boeing, falta de transparência da parte dos gestores da empresa, e fiscalização fortemente insuficiente pela Administração Federal da Aviação (FAA) –como resultado pernicioso de captura regulatória por parte da FAA com respeito às suas responsabilidades de fiscalizar a Boeing de maneira robusta e garantir a segurança dos passageiros”.

“Os fatos expostos nesse relatório documentam um padrão perturbador de erros técnicos de cálculo e de decisões equivocadas perturbadoras tomadas pelos gestores da Boeing. Eles também mostram numerosos lapsos de fiscalização e lacunas na prestação de contas por parte da FAA, que tiveram papel significativo nos acidentes com o 737 MAX”.

A Boeing está sofrendo múltiplas investigações desde o ano passado, quando um 737 MAX operado pela Ethiopian Airlines caiu depois de apenas cinco meses de uso, e outro, da frota da Lion Air, na Indonésia, caiu no mar.

Os investigadores constataram que, em ambas as ocasiões, um defeito em um sensor acionou indevidamente um sistema automático de prevenção de estol, forçando o nariz do avião se inclinar para baixo. Os pilotos da Lion Air e da Ethiopian Airlines tentaram corrigir a atitude de voo de seus aviões, mas foram impedidos de fazê-lo pelo sistema automático em todas as suas tentativas.

Membros do Congresso dos Estados Unidos estão conduzindo um inquérito sobre os acidentes desde abril do ano passado. O relatório da quarta-feira representa a culminação de uma investigação de 17 meses de duração que envolveu cinco audiências públicas, 24 deposições e 600 mil páginas de documentos.

O relatório de 238 páginas detalha de que forma a Boeing tentou minimizar os testes pelas autoridades regulatórias e o treinamento de pilotos requerido para operar o novo 737 MAX, que estava sendo lançado em ritmo acelerado em um esforço para competir com Airbus A320neo.

A investigação constatou que a companhia teve sucesso em persuadir a FAA a não classificar o sistema de prevenção de estol como “crítico para a segurança”, o que significa que muitos pilotos nem mesmo estavam cientes de sua existência antes de começarem a operar o modelo.

Ao fazê-lo, a Boeing ocultou das autoridades regulatórias resultados de testes internos que demonstravam que, se um piloto demorasse mais de 10 segundos para reconhecer que o sistema havia sido ativado erroneamente, as consequências seriam “catastróficas”.

O relatório também detalha que um alerta, que poderia ter chamado a atenção dos pilotos para o potencial problema em um dos sensores de prevenção de estol, não estava funcionando na vasta maioria dos aparelhos 737 MAX em operação. Os investigadores determinaram que a empresa ocultou esse fato deliberadamente tanto dos pilotos quanto das autoridades regulatórias, e continuou a colocar seu novo modelo em operação em todo o mundo.

A Boeing está trabalhando para corrigir as falhas encontradas no 737 MAX há mais de um ano, e recentemente afirmou que espera que possa voltar a entregar jatos desse modelo ainda no terceiro trimestre.

A Boeing declarou que “o projeto reformulado do MAX foi revisado de forma intensiva, dentro da empresa e pelas autoridades regulatórias, e envolveu mais de 375 mil horas de trabalho de engenharia e testes, e 1,3 mil voos de teste. Assim que a FAA e outras organizações regulatórias determinarem que o MAX pode voltar a operar de forma segura, ele será um dos aviões avaliados com mais rigor na história”.

Embora a empresa tenha burlado as regras em seus esforços de certificar o 737 MAX, o comitê também considerou que a FAA foi complacente em seus esforços de fiscalização.

A FAA certifica novos projetos de aviões confiando pesadamente nos “representantes autorizados”, empregados das companhias fabricantes que são autorizados pela agência a validar certos designs e sistemas. E o relatório constatou que, em diversas ocasiões, a Boeing não encaminhou informações importantes às autoridades regulatórias.

Membros do Congresso apresentaram projetos de lei que endureceriam o processo de certificação de aviões pela FAA, o que inclui executar auditorias independentes sobre os representantes empregados pelas companhias.

A FAA afirmou em comunicado que “a FAA tem o compromisso de melhorar continuamente a segurança na aviação, e aguarda com expectativa a oportunidade de trabalhar com o comitê a fim de implementar as melhoras identificadas em seu relatório”.

Tradução de Paulo Migliacci

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