Carlos Ghosn vira professor de executivos no Líbano após 9 meses da fuga do Japão

Ex-Nissan lança programa universitário de gestão e negócios

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Beirute | Reuters

Carlos Ghosn, ex-presidente da Renault e Nissan que fugiu do Japão, onde estava enfrentando um julgamento, vai lançar um programa universitário de gestão e negócios no Líbano, um país que vive uma profunda crise, depois de anos de desgoverno, má administração e corrupção.

Nove meses depois de sua dramática fuga de Tóquio para Beirute, o executivo nascido no Brasil de origem libanesa —ele também tem cidadania francesa— revelou um plano para modernizar a escola de administração de empresas da Université Saint-Esprit de Kaslik (USEK), uma universidade particular ao norte da capital libanesa.

Ghosn, a quem é atribuído o crédito por recuperar a montadora francesa e a montadora japonesa antes de enfrentar acusações de delitos financeiros, que ele nega, planeja programas de orientação a executivos, treinamento em tecnologia, e assistência a startups para a criação de empregos.

O ex-executivo da Nissan durante evento sobre seu novo curso - Anwar Amro/AFP

Ghosn, que é fugitivo da Justiça japonesa, à qual ele acusa de parcialidade contra ele, encontrou refúgio no país em que passou a infância, o Líbano, cuja economia está em colapso por conta de dívidas acumuladas desde a guerra civil que se estendeu de 1975 a 1990. Uma explosão devastadora em um depósito em Beirute, no dia 4 de agosto, agravou os problemas do Líbano.

“Obviamente não me interesso por política, mas vou dedicar tempo e esforço a apoiar o Líbano nesse período difícil”, ele disse à Reuters no final de semana, antes do lançamento formal de seu novo programa universitário, que aconteceria em uma entrevista coletiva na terça-feira.

“O objetivo é criar empregos, trabalho e empreendedores que permitam que a sociedade faça seu papel na reconstrução do país”, disse Ghosn em uma entrevista na universidade nesta terça.

Ele foi procurado pela USEK algumas semanas depois de chegar ao Líbano, no final de dezembro, e disse que os programas tinham por objetivo oferecer ajuda prática. Ele ajudará a supervisioná-los.

Aproveitando sua experiência, o foco do programa executivo seria a recuperação de empresas em crise e de companhias que enfrentam dificuldades por conta do ambiente de negócios, bem como ensinar os participantes a “se tornarem imprescindíveis” para suas empresas.

Ghosn afirmou que diversos executivos internacionais concordaram em dar cursos no programa gratuitamente, como Thierry Bolloré, presidente-executivo da Jaguar e Land Rover, o ex-vice presidente do conselho do banco Goldman Sachs, Ken Curtis, e o especialista em capital para empreendimentos Raymond Debbane.

Os cursos curtos, que devem começar em março, estarão abertos para entre 15 e 20 executivos seniores no Líbano e no Oriente Médio.

“Modelo de comportamento”

“O modelo de comportamento será minha experiência, aquilo que vejo como as necessidades básicas de um executivo importante em um ambiente muito competitivo”, ele disse, acrescentando que, quando ele estava no comando, o programa de treinamento executivo da Nissan no Japão estava aberto a outras companhias.

O segundo programa da USEK, que será subsidiado pelo programa executivo, treinará pessoas no uso de novas tecnologias, como design assistido por computador e inteligência artificial.

Ghosn disse que os exportadores de joias libaneses estariam entre os beneficiários do uso de software para ajudar em seus designs.

O terceiro programa funcionaria como incubadora de startups, e Ghosn disse que pretendia investir em dois projetos. “O que me interessa especialmente são projetos que tenham impacto ambiental”, ele disse, mencionando como exemplo um projeto para transformar eflúvios dos esgotos em fertilizantes.

“Estaremos criando empreendedores muito necessários, e estaremos criando empregos”, ele disse, acrescentando que havia sido persuadido a trabalhar com a USEK pelo reitor daquela instituição cristã maronita, o padre Talal Hachem, e por sua jovem equipe.

Ghosn disse que também havia escolhido trabalhar com a USEK, e não com algumas universidades libanesas maiores, porque gostava da ideia de trabalhar com uma instituição que atraía uma gama mais ampla de estudantes, e não apenas os ricos.

“Esses estudantes precisam de mais ajuda do que qualquer outra pessoa. Eles são parte da classe que foi esmagada pela situação atual”, disse Ghosn à Reuters.

“Vou ajudar da maneira que posso”, ele disse. “Vou ajudar a erguer a economia ao ajudar a resolver os problemas que todos os libaneses estão enfrentando hoje”.

Tradução de Paulo Migliacci

Erramos: o texto foi alterado

Por erro de tradução, foi publicado em versão anterior desta reportagem que a explosão em 4 de agosto em Beirute foi motivada por um atentado. Não há comprovação disso até o momento. O texto foi alterado.

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