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Corretoras reduzem taxas na briga por clientes

Empresas reduzem lucros na modalidade e apostam em volume de negociações e cobrança por educação financeira

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São Paulo

Na briga pelo cliente que começa a investir na Bolsa, corretoras têm promovido uma guerra de taxas. Nas últimas semanas, a Rico, do grupo XP, zerou taxas de corretagem para ações e a XP Investimentos as reduziu em 75% para os clientes no home broker (plataforma online de negociação).

Em agosto, a Guide cortou a taxa de ações para 0,1% do volume operado, com limite de R$ 7,50, e a Toro estendeu sua taxa zero da Bolsa (ações, futuro de ações, fundo de índices e minicontratos) para fundos de investimentos.

A abertura de contas acelerou. De agosto para setembro, o número de novas contas cresceu 73% na Guide —o total chegou a 90 mil. “Acreditamos que no longo prazo o volume vai compensar a redução nas taxas”, diz Felipe Steinfeld, diretor da corretora.

Funcionários trabalham na Bolsa de Valores de Nova York; demanda de investidores por renda variável cresceu devido às baixas taxas de juros
Funcionários trabalham na Bolsa de Valores de Nova York; demanda de investidores por renda variável cresceu devido às baixas taxas de juros - Michael Nagle - 19.mar.2020/Xinhua

No primeiro semestre de 2020, a receita da Toro cresceu 400% em relação aos últimos seis meses de 2019 e ela alcançou o break even (equilíbrio entre despesas e receitas) depois de dois anos de atuação.

A redução de cobranças, que impacta diretamente o lucro dessas companhias, reflete o aumento na concorrência entre as plataformas com o crescimento do mercado de renda variável ante a queda da taxa básica de juros para os atuais 2% ao ano —os CPFs na Bolsa se aproximam de 3 milhões, contra 813 mil em 2018.

“São muitos competidores. Como é um mercado em ascensão, a concorrência vai ser crescente. Não tem lugar para todo mundo, mas existe muito espaço”, diz Gabriel Kallas, cofundador e presidente da Toro Investimentos.

Em junho, a Ancord, associação das corretoras, chegou a 10.414 credenciados (agentes autônomos e corretoras), mais de 30% acima do registrado no mesmo mês de 2019.

“É um amadurecimento do mercado. A competição aumenta e há briga por taxa. Vamos ter redução na margem, não faz sentido cliente pagar taxa cheia”, afirma Eduardo Akira, sócio e fundador da Vero Investimentos, agente autônomo da XP.

Ele diz que o movimento no Brasil segue a tendência do que aconteceu nos Estados Unidos, onde a taxa zero é comum. "O impacto na margem não é tão relevante, temos compensação em outros clientes e áreas no escritório, como pessoa jurídica, câmbio e seguros. Cada vez mais escritórios migram para estruturas mais complexas, semelhantes aos bancos.”

“Não vemos a queda da corretagem como uma ameaça ao negócio, pois é uma receita dos clientes que operam sozinhos [no home broker], e temos muito clientes que utilizam o serviço da mesa de renda variável, que tem um custo maior”, diz Luiz Alberto Caser diretor da Valor Investimentos, escritório autônomo da XP.

Na corretora, o cliente pode operar diretamente pelo home broker ou pedir para que um funcionário da mesa de operações execute suas ordens. O operador também pode fazer sugestões e avaliação de riscos, o que aumenta o custo da operação.

“A receita que era sua vida há anos atrás passa a não ser a sustentabilidade do negócio. A redução da taxa vai permitir que a gente cresça mais e mais rápido” diz Laio Santos, presidente da Rico.

Uma das apostas da Rico para gerar receita é a educação financeira, como uma assinatura mensal de R$ 29 para acesso a relatórios e uma avaliação mais personalizada da carteira. “Estamos aprendendo novas formas de entregar conteúdo, desde um curso gratuito de uma hora até um MBA”.

Rodrigo Marcatti, presidente da Veedha Investimentos, agente autônomo da XP, diz que é na geração de conteúdo que consegue, de fato, cobrar do cliente. “A tendência é preço zero em um terminal, sem qualquer tipo de suporte das corretoras [home broker]. O investidor traz patrimônio do banco para taxa zero de ações e começa a aplicar em outros produtos”, diz.

Segundo Steinfeld, da Guide, 90% dos investimentos no Brasil estão nos bancos. Nos Estados Unidos, corretoras independentes já são metade do mercado.

Como os bancos têm a maioria dos clientes e oferecem outros produtos com exclusividade, como cartão de crédito, essas instituições conseguem cobrar taxas de corretagem maiores.

O BTG Pactual digital, corretora do banco para o pequeno investidor, também não pensa em zerar taxas no momento.

“Zerar é simples, mas atrai um volume de clientes que você tem que estar preparado para comportar porque pode comprometer a plataforma e o serviço de quem está disposto a pagar”, diz Marcelo Flora, sócio do BTG e responsável pelo BTG digital.

O banco estuda zerar a cobrança para day trade (compra e venda no mesmo dia) de ações, como fez para fundos de investimento imobiliário, à medida que amplia a capacidade de processamento.

O BTG também considera criar uma marca de baixo custo, com menos preocupação sobre a qualidade do serviço, como a XP, que além da Rico, tem a Clear, com taxas zero.

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