Descrição de chapéu mercado de trabalho

Desemprego no Brasil é o pior em quase 30 anos, diz consultoria

Análise de pesquisas sobre mercado de trabalho aponta que taxa atual é a pior desde 1992

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Rio de Janeiro

A atual taxa de desemprego no Brasil é a maior desde 1992, quando tem início a série histórica organizada pela IDados. A consultoria traçou uma linha do tempo sobre o mercado de trabalho reunindo dados atual Pnad Contínua, da antiga PNAD e também da extinta Pesquisa Mensal de Emprego. A compilação coube aos economistas Bruno Ottoni e Tiago Barreira.

À Folha, Ottoni afirmou que os números do desemprego são preocupantes, principalmente porque sinalizam uma tendência de piora para os próximos meses –ao menos até março do próximo ano, diz o economista.

Segundo ele, o mercado de trabalho ainda não recebeu todos os impactos da flexibilização do isolamento social e da redução, seguida de extinção, do auxílio emergencial.

"Em resumo, um dos fatores mais preocupantes é que esse número [de 13,8% do desemprego] não será o limite, deve piorar nos próximos meses", disse o economista. "Na minha visão, a tendência é que as coisas piorem, tivemos muita gente que perdeu o emprego, e saiu da força de trabalho e que deve voltar a procurar uma vaga nos próximos meses."

Antes do pico atual, a maior marca na série histórica de desemprego havia sido em março de 2017, quando a taxa chegou a 13,7%. Naquele trimestre, o país havia perdido três milhões de empregos com carteira assinada, reflexo do cenário político e econômico instável do país, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a recessão.

Segundo Ottoni, o Brasil vinha apresentando gradativa melhora do emprego, mesmo que pelo setor informal, quando foi atingido pela pandemia. Ele analisa que o país viveu uma crise em cima de outra crise, pois ainda não havia se recuperado totalmente da recessão quando veio a Covid-19. Antes da pandemia, ele diz que até estava otimista com o mercado.

"No fim do ano passado, tivemos uma melhora na situação do emprego, e até fiquei esperançoso na época: parecia que haveria a volta do emprego de melhor qualidade", disse. "Mas durou pouco e chegou essa crise catastrófica, uma crise planetária causada pelo coronavírus. Então, a soma das duas crises fez o desemprego chegar a esse patamar."

No trimestre encerrado em julho deste ano, os números do IBGE apontam que a queda na ocupação foi generalizada e atingiu todos os setores, em especial alojamento e alimentação (-23,2%), serviços domésticos (-16,9%) e outros serviços (-16,9%). A agricultura (-1,4%) e a administração pública, saúde e educação (-1%) ficaram estáveis na análise do instituto, mas com registros negativos.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, entende que, em um cenário otimista, com o anúncio de uma vacina que dê um fim à pandemia, o desemprego no Brasil só volte a recuar a partir do final de 2021. Enquanto isso, não vai ter emprego para todos.

"Esse cenário é produto evidentemente da recessão que está em curso. Nunca vivemos uma pandemia global e, de fato o problema é grave", afirmou o economista. Ele alertou que será necessário, no futuro, ter um crescimento consistente da economia para que a oferta de trabalho seja condizente à retomada do emprego.

Luka Barbosa, do Itaú, tem uma visão mais otimista e, baseado nos dados mais recentes do Caged, que anunciou a criação de 249 mil vagas de emprego com carteira assinada em agosto, e também da Pnad Covid do IBGE, que divulgou cerca de 700 mil pessoas a menos desempregadas na comparação com a semana anterior. Os dados, porém, não podem ser comparados à Pnad Contínua, que calcula os índices oficiais do desemprego no país em análises trimestrais.

"Basicamente, o que estamos vendo em dados mais atualizados é que o mercado de trabalho está melhorando, está voltando a criar emprego no mercado formal, na Pnad Covid também já reparamos uma evolução", disse o economista.

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