'Guedes está desequilibrado', diz Maia após ministro sugerir que ele travava privatizações

Presidente da Câmara recomenda que Guedes veja o filme 'A Queda'; troca de farpa ocorreu em pronunciamentos e posts nas redes

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Brasília

Após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmar que Paulo Guedes (Economia) interditou a reforma tributária, o ministro disse nesta quarta-feira (30) que há boatos de que Maia fez um acordo com a esquerda para travar privatizações.

A troca de acusações é feita em público. Na terça-feira (29), o presidente da Câmara publicou uma pergunta em suas redes sociais.

“Por que Paulo Guedes interditou o debate da reforma tributária?”, escreveu.

O presidente da câmara deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o ministro Paulo Guedes (Economia) - Pedro Ladeira - 11.ago.2020/Folhapress

Menos de 24 horas depois, Guedes respondeu em transmissão ao vivo pela internet, ao comentar os dados do emprego formal.

“Privatizações, estamos esperando também. Não há razão para interditar as privatizações. Há boatos de que haveria um acordo do presidente da Câmara com a esquerda para não pautar as privatizações. Nós precisamos retomar as privatizações, temos que seguir com as reformas”, disse.

Questionado sobre as declarações de Guedes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu o ministro. "Paulo Guedes está desequilibrado. Recomendo ao ministro assistir o filme 'A Queda' ", afirmou.

O filme "A Queda" retrata as últimas horas de Adolf Hitler à frente da Alemanha nazista. A história conta o cerco a Hitler na Segunda Guerra Mundial e a derrota do ditador.

Nesta semana, líderes partidários afirmaram que não há acordo para a reforma tributária defendida por Guedes, que prevê a criação de um imposto aos moldes da extinta CPMF para compensar um corte de encargos trabalhistas.

Na avaliação de parlamentares ligados a Maia, o presidente da Câmara respondeu a crítica feita antes pelo ministro da Economia.

Em agosto, após ser alvo de críticas por causa da ideia de apresentar uma nova CPMF, Guedes disse que Maia não poderia impedir a discussão sobre o novo imposto.

“Nem o ministro pode querer impor um imposto que a sociedade não queira, nem o relator, o presidente da Câmara, o presidente do Senado, o presidente da República pode impedir um debate sobre qualquer imposto”, afirmou o ministro em agosto.

Segundo líderes a par das discussões, o próprio Bolsonaro mandou interromper de novo a perspectiva de envio do projeto depois que líderes mostraram resistência à nova CPMF.

Agora, avaliam deputados, o governo, se decidir encaminhar, só enviará a proposta após as eleições municipais.

Guedes defende que seja destravada a pauta de privatizações, mas não tem obtido sucesso. Nem mesmo a venda de participação da Eletrobras, pauta que vem do governo Michel Temer, avançou.

Essa não é a primeira desavença pública entre Maia e Guedes. Na entrega da reforma administrativa, no início de setembro, o presidente da Câmara deixou evidente, em entrevista à GloboNews, que ambos não estavam conversando.

"Ele tem proibido a equipe econômica de conversar comigo. Ontem [quarta], a gente tinha um almoço com o Esteves [Colnago] e com o secretário do Tesouro para tratar do Plano Mansueto, e os secretários foram proibidos de ir à reunião", disse Maia, que afirmou ter decidido que a relação da Presidência da Câmara será com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

"E o ministro Ramos conversa com a equipe econômica, para não criar constrangimento mais para ninguém. Mas isso não vai atrapalhar os nossos trabalhos, de forma nenhuma."

Maia disse ainda ter encerrado a interlocução com Guedes.

Ambos já tinham entrado em atrito durante a tramitação da reforma da Previdência. Após o desgaste, Maia passou a falar apenas por meio de interlocutores.

O ministro se irritou com a estratégia adotada pelo deputado e passou a cobrar de sua equipe que, caso fossem procurados pelo presidente da Câmara, encaminhassem a demanda para Guedes.

A divergência se aprofundou durante os debates sobre a reforma tributária. Maia estaria estimulando o repasse de recursos a estados e municípios, a título de compensação pelas mudanças, em detrimento da União (ponto que desagrada Guedes).

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