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Novo livro retrata os 10 primeiros unicórnios brasileiros

Obra do jornalista Daniel Bergamasco faz panorama do ecossistema nacional de startups

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São Paulo

Um dos principais sinais de amadurecimento do ecossistema nacional de startups foi o surgimento, nos últimos dois anos, dos primeiros unicórnios nacionais —jargão do setor para as empresas que alcançam valor de mercado de US$ 1 bilhão.

No livro “Da Ideia ao Bilhão”, lançado nesta segunda (28) pela Portfolio Penguin, o jornalista Daniel Bergamasco conta a história das dez primeiras startups brasileiras que chegaram lá.

A lista é composta pelo app de mobilidade 99, o grupo de sistemas de ensino Arco Educação, a plataforma de logística Loggi, o grupo de tecnologia Movile, a empresa de pagamentos Ebanx, o app de delivery iFood, a plataforma de academias Gympass, a fintech Nubank, o portal de imóveis QuintoAndar e a empresa de meios de pagamento Stone.

Mais que um perfil dessas empresas, o livro oferece, por meio de suas histórias de sucesso e fracasso e tudo o que vem no meio, um panorama do cenário brasileiro de empreendedorismo e inovação de fronteira.

Livro
Capa do livro "Da ideia ao bilhão", de Daniel Bergamasco - Divulgação

Para isso, Bergamasco entrevistou ao longo de um ano 91 pessoas, desde os próprios fundadores dos unicórnios a investidores, funcionários e clientes.

O período da pandemia provocada pelo novo coronavírus não ficou de fora, permitindo uma análise em primeira mão de como essas empresas e seus executivos encararam a crise brutal que engolfou a economia no mundo todo.

Em vez de dedicar um capítulo por empresa, o objetivo de cada parte é mostrar uma etapa ou uma característica relevante desse mundo por meio dos unicórnios.

Há também uma preocupação didática de explicar todo um glossário desse mundo, o que torna o livro uma leitura amigável mesmo para quem conhece pouco ou nada desse ecossistema muito afeito a jargões, como “disruptivo”, “mvp” e “método lean”.

Desse panorama decorrem observações interessantes sobre o ecossistema nacional, como a preocupação maior do empreendedor brasileiro de inovar no modelo de negócio, não tanto no uso da tecnologia.

Além disso, o cenário local de maior incerteza econômica faz com que as startups brasileiras sejam mais cautelosas e, em vez de apostar em um longo período de prejuízo para conseguir crescer rápido, prefiram equilibrar as contas fazendo os investimentos caberem dentro das receitas.

Segundo o autor, essa característica leva os unicórnios nacionais a se identificarem com outro animal: o camelo, “adaptáveis a condições inóspitas”.

Embora o livro comece listando algumas das características descoladas do ambiente dessas empresas, como banheiros inspirados em Star Wars e open bar de paçoquinhas, sua proposta é justamente ir além dessas aparências, já quase caricaturais do setor.

“A magia desses negócios vencedores, do Nubank ao iFood, da Loggi ao Ebanx, não está na mesa de sinuca, mas em outro jogo: um jeito novo de trabalhar, de idealizar modelos de negócios, de contratar e lidar com pessoas talentosas e, sobretudo, de dar um novo status às demandas do consumidor”, escreve Bergamasco.

Nos primeiros capítulos, por exemplo, acompanhamos o processo de tentativa e erro entre o desenvolvimento da ideia e a criação do negócio por meio das histórias de origem da QuintoAndar, da Movile, iFood e Gympass.

Descobrimos, por exemplo, que a QuintoAndar nasceu de dois questionamentos simples: “O que mais enche o saco?” e “Por que o aluguel é uma merda?”, o que ilustra a prioridade desses negócios em oferecer soluções de problemas.

Com a Gympass, por sua vez, vemos que não basta qualquer solução: ela precisa estar afinada com as necessidades do consumidor, que não precisa ser necessariamente aquele que você imaginou no começo.

As diversas formas de se encontrar um sócio e a dinâmica nem sempre harmoniosa dessa parceria são descritas por meio de Ebanx, Loggi e Nubank.

Ainda nesse tema, o capítulo que reconstitui a entrada da chinesa Didi na 99 e posterior tomada da empresa é especialmente interessante: “foi como abrir um as portas para um unicórnio de Troia”, ouviu Bergamasco de entrevistados que viveram o processo.

O contraste oferecido pela cearense Arco Educação —a única startup entre as dez de origem nordestina— mostra, por sua vez, que mesmo num setor jovem e inovador, velhos problemas persistem, como a desigualdade regional.

Nesse sentido, não passa despercebida a existência de apenas duas mulheres entre as fundadoras de unicórnios: Cristina Junqueira, do Nubank, e Monique Oliveira, da Movile.

Em termos de diversidade racial, o problema é ainda pior: não há nenhum negro entre os fundadores de unicórnios.

Mesmo ampliando o escopo para o primeiro escalão das startups brasileiras, incluindo aquelas que ainda não chegaram ao US$ 1 bilhão, Bergamasco afirma ter identificado apenas um executivo negro: Robson Privado, chefe de operações da MadeiraMadeira.

A trajetória da maioria dos empreendedores entrevistados envolve universidades de elite brasileiras (como USP e Unicamp) e americanas (MBAs em Stanford e Harvard, principalmente), espaços que se mostram fundamentais não só do ponto de vista acadêmico mas também de networking.

Depois dos empreendedores, o livro vai atrás dos investidores, descrevendo como funciona o processo de decisão de investimento do Softbank no Brasil.

Ao final, Michael Nicklas, do Valor Capital, Santiago Fossatti, da Kaszek Ventures, Verônica Allende Serra, do Innova Capital, Maitê Lourenço, da aceleradora Black Rocks, e Bruno Rondani, da 100 Open Startups, falam o que os atrai e os repele em start-ups em busca de investidores.

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