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Banco Mundial, FMI e G20 alertam para endividamento de emergentes

Organismos veem cenário de dificuldades para países em desenvolvimento, enquanto crise será menor para os ricos

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São Paulo

Três dos principais organismos multilaterais do mundo expressaram nesta quarta-feira (14) preocupação com os efeitos da pandemia do coronavírus sobre os países em desenvolvimento e apontaram para um cenário de dificuldades para a frente, com aumento do endividamento dos emergentes.

Enquanto a recessão é menos severa do que se temia nas economias avançadas, na maioria
dos países em desenvolvimento tornou-se depressão, especialmente para os mais pobres, avaliou o Banco Mundial.

“Nossos últimos dados econômicos e de pobreza mostram uma desigualdade terrível causada pela pandemia e por paralisações econômicas”, disse o presidente da instituição, David Malpass, durante reunião de ministros de finanças e chefes de Banco Central do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo.

Malpass afirmou que o que está sendo visto até o momento é uma recuperação em forma de “K”, sendo que as economias avançadas são a perna de cima, que segue em recuperação e têm conseguido dar suporte especialmente para os seus mercados financeiros e alguns trabalhadores.

“Para os países em desenvolvimento, especialmente os mais pobres, que são aquela perna de baixo do ‘K’, há uma crescente e terrível recessão, ou depressão, por causa da perda de empregos, receitas e remessas de trabalhadores que estão no exterior.”

No mesmo evento, os líderes do G20 ressaltaram a necessidade urgente de controlar a pandemia e prometeram “fazer o que for preciso” para apoiar a economia e a estabilidade financeira global.

Em um longo comunicado a que a Reuters teve acesso, eles concordaram, em princípio e pela primeira vez, com um “arcabouço comum” para lidar caso a caso com o número crescente de países de baixa renda que enfrentam problemas de dívida, que deve ser finalizado em uma nova reunião do grupo em novembro.

As autoridades do G20 concordaram em estender o congelamento dos pagamentos oficiais da dívida bilateral por seis meses e expressaram desapontamento com a ausência de credores do setor privado no processo de moratória.

O FMI calcula que as ações fiscais de combate à Covid-19 somam US$ 11,7 trilhões (R$ 65,2 trilhões) em todo o mundo, até 11 de setembro, próximo a 12% do PIB global. Com isso, a relação entre dívida e PIB global deve saltar de 83% para 98,7% neste ano.

“A resposta enérgica dos governos salvou vidas, apoiou pessoas e empresas vulneráveis e mitigou as consequências da pandemia na atividade econômica”, observou o FMI em comunicado divulgado também nesta quarta. “No entanto, as consequências da crise para as finanças públicas, combinadas com a perda de receitas resultante da contração da produção, foram enormes”.

Malpass, do Banco Mundial, afirmou que a instituição espera conceder mais de US$ 50 bilhões em doações ou créditos até junho de 2021, para países mais frágeis. Também propôs um pacote suplementar de US$ 25 bilhões. O executivo do Banco Mundial reafirmou que a pandemia pode levar mais 150 milhões à pobreza extrema até 2021 e destacou o aumento de doações e empréstimos que atingirão os limites de capital do banco.

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que uma maior cooperação internacional é necessária para se trabalhar numa vacina e que o progresso inicial pode aumentar a renda global em até US$ 9 trilhões até 2025.

O FMI projeta recuperação parcial e desigual da economia em 2021, com crescimento global estimado em 5,2%, mas alertou que ainda existem riscos significativos, incluindo o ressurgimento do vírus.

Apesar da piora das contas públicas em todo o mundo, o FMI avaliou que a política fiscal deve continuar a ser uma ferramenta essencial. Para países em piores condições financeiras, o Fundo disse que será necessário repriorizar gastos e entregar mais com menos, aumentando a eficiência.

“Países com espaço fiscal limitado e menor acesso a financiamento devem proteger o investimento público e as transferências para famílias de baixa renda, aumentando ao mesmo tempo a taxação progressiva e assegurando que empresas altamente lucrativas estejam sendo adequadamente tributadas.”

O fundo estima que um aumento do investimento público em 1% pode elevar o PIB mundial em 2,7%, o investimento privado em 10% e o emprego em 1,2% em dois anos, se os recursos públicos forem alocados de forma eficiente e o nível de endividamento público e privado não enfraquecer a resposta do setor privado.

“Embora o endividamento público esteja em níveis recordes, é necessário mais suporte para proteger as pessoas que não podem ganhar a vida sob as atuais circunstâncias e para promover uma forte recuperação”, disse o fundo. “As políticas fiscais devem ser adequadas às diferentes fases da pandemia, adaptando-se à evolução das necessidades e garantindo a sustentabilidade da dívida.”

Na terça, o FMI revisou sua projeção para a queda do PIB mundial de 5,2% para 4,4%. Para o Brasil, a estimativa passou a queda de 5,8% este ano, menor do que o tombo de 9,1% esperado anteriormente.

Dívida brasileira vai passar de 100% do PIB em 2020, diz FMI

São Paulo O FMI calcula que a dívida bruta brasileira deve ultrapassar a marca de 100% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020 e que não há perspectiva de estabilização pelo menos até 2025.

A deterioração fiscal e aumento da dívida pública brasileira seguem tendência mundial, em meio ao aumento de despesas dos países em resposta à pandemia, mas as estimativas para o Brasil chamam atenção por destoarem dos demais emergentes e pela piora em relação às projeções do próprio FMI feitas em abril.

No relatório Monitor Fiscal divulgado nesta quarta-feira (14), o fundo estima que a relação entre dívida bruta e PIB do país deve saltar de 89,5% para 101,4%, devido ao aumento de despesas com a pandemia.

O patamar é o segundo mais alto entre os emergentes para os quais o FMI tem dados, atrás apenas de Angola. Até 2025, deve chegar a 104,4%.

Em abril, o FMI estimava que a relação entre dívida bruta e PIB do país chegaria a 98,2% em 2020 e se estabilizaria nesse nível em 2021.

Pelo critério do fundo, os títulos do Tesouro mantidos em carteira pelo Banco Central entram na conta da dívida bruta. Nos seus cálculos, o BC desconsidera esses papéis. Com isso, a autoridade monetária brasileira estima que a relação entre dívida bruta e PIB fechou 2019 em 75,8%.

Com Reuters

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