Banco Mundial melhora projeção para PIB do Brasil para queda de 5,4% em 2020

Países da América Latina e Caribe precisam voltar ao equilíbrio fiscal, diz instituição

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São Paulo

O Banco Mundial revisou nesta sexta-feira (9) sua estimativa para o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2020 para queda de 5,4%, ante projeção anterior de um tombo de 8%, feita em junho.

A instituição é mais uma a melhorar sua estimativa para o PIB brasileiro, que passa por uma onda de revisões favoráveis em meio à recuperação mais rápida do que o esperado da economia, puxada pelos efeitos positivos do auxílio emergencial sobre o consumo.

Para 2021, a expectativa também melhorou para um crescimento de 3% da economia no próximo ano, ante alta de 2,2% esperada anteriormente.

O banco apresentou também pela primeira vez sua previsão para 2022, que é de um avanço de 2,5% do PIB brasileiro, representando, portanto, uma desaceleração em relação ao ano anterior.

Martín Rama, economista-chefe do Banco Mundial para América Latina e Caribe, destacou o efeito do auxílio emergencial sobre a economia brasileira. “Tanto no Brasil como nos Estados Unidos, há informações bastante seguras de que pobreza esse ano, apesar da crise, será menor do que no ano anterior.”

“Como boa parte do estímulo da resposta de política econômica foi feita através de transferências sociais, e essas transferências são gastas de maneira praticamente imediata, o impacto tem sido muito forte”, afirmou em coletiva de imprensa.

No caso brasileiro, disse Rama, o país pôde utilizar a infraestrutura institucional existente do Bolsa Família para chegar de maneira adequada a um segmento muito grande da população.

Ainda conforme o economista, outro fator que explica a melhora de projeção para o Brasil é a força do agronegócio no país.

“No caso brasileiro, um elemento que ajuda enormemente é a especialização em produtos agrícolas, para os quais a China oferece demanda. Além disso, outras economias, pelas dificuldades da Covid, não puderam estar presentes nos mercados, e o Brasil aproveitou isso bem”, afirmou.

América Latina e Caribe

Para a América Latina e Caribe (exceto Venezuela), a projeção da instituição financeira piorou para este ano, para queda de 7,9%, maior do que o recuo de 7,2% esperado em junho.

Por outro lado, a projeção de crescimento para 2021 melhorou para a região, para alta de 4%, acima da projeção de avanço de 2,8% feita em junho.

As estimativas para 2020 pioraram para países como Argentina (-12,3%, contra -7,3% anteriormente), Bolívia (-7,3% ante -5,9%), Chile (-6,3% de -4,3%), Colômbia (-7,2% de -4,9%), México (-10% de -7,5%), Paraguai (-3,2% de -2,8%) e Uruguai (-4% de -3,7%).

“Os países na região estão sofrendo com a redução na demanda externa, maior incerteza econômica, o colapso no setor de turismo e as consequências de meses em confinamento para tentar conter a propagação da doença”, observa a equipe do Banco Mundial, em relatório.

Apesar da piora generalizada para as projeções de PIB na região este ano, Rama destacou que a expectativa do Banco Mundial é relativamente otimista, de que o próximo ano será de crescimento forte.

“Nesse sentido, se trata de uma recuperação em V, mas um V que não chega ao nível anterior. A depender do país, podem ser dois, três ou mais anos antes de se recuperar o nível anterior à crise. Ou seja, há otimismo, mas há um tempo perdido.”

Os níveis da dívida pública na região aumentaram bruscamente, à medida em que os governos aumentaram suas despesas para enfrentar a crise. “Os auxílios emergenciais podem continuar a ser necessários no momento, mas os países terão que encontrar maneiras de voltar ao equilíbrio fiscal”, afirma a instituição.

Questionado se o custo de financiamento pode aumentar para os países e o setor privado, Rama avaliou que não nesse momento, porque, diante do impacto da crise da Covid, tanto Estados Unidos, como Europa e demais países avançados adotaram políticas monetárias extraordinárias, que resultaram em muita liquidez em moeda forte.

“É provável que os custos de endividamento sigam baixos por algum tempo, e o mesmo se aplica ao setor privado. Os recursos estão buscando oportunidades de investimento, mas se os países parecerem pouco estáveis ou que não estão adotando ações sustentáveis no longo prazo, vai haver menos gente disposta a investir. É preciso uma trajetória clara de estabilidade macroeconômica e consolidação fiscal.”

​O Banco Mundial destaca ainda que o impacto das medidas de confinamento foi sentido de maneira desproporcional nas famílias que dependem de trabalhos informais.

Em resposta, a instituição defende medidas de incentivo à formalização e a importância de registros abrangentes para facilitar transferências sociais entre os que vivem “da mão pra boca”, nas palavras do banco.

A instituição financeira destaca que os pacotes de estímulo dos governos da região foram robustos, apesar das limitações fiscais, com muito dos recursos destinados às transferências sociais. “O efeito multiplicador dessas transferências na atividade econômica é significativo.”

O Banco Mundial avalia que, com a expectativa de continuidade da pandemia por um período prolongado, os sistemas de saúde da região devem considerar fazer reformas para melhorar sua efetividade e reduzir custos.

“Reorientar impostos e despesas públicas de forma a apoiar a criação de empregos, a prestação de serviços e o desenvolvimento da infraestrutura é necessário para colocar a região de volta no trilho do crescimento inclusivo e sustentável”, conclui o banco.

Em setembro, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) também revisou sua projeção para a contração da economia brasileira em 2020 de 7,4% para 6,5%.

As projeções de mercado coletadas pelo Banco Central na pesquisa Focus para o PIB (Produto Interno Bruto) neste ano chegaram a uma queda de 6,6% ao fim de junho. Desde então, foram melhorando e, na última segunda-feira (5), estavam em -5,02%.

O próprio BC revisou sua projeção para 2020 de -6,4% (junho) para -5,0% (setembro).

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