Aos 16 anos, cursando o 1º ano do Ensino Médio, Erick Gomes Santos quer trabalhar. Há pouco mais de um ano o adolescente busca uma vaga como Jovem Aprendiz, modelo de contratação que, como o nome indica, alia a aprendizagem técnico a uma vaga formal, com registro em carteira e direitos trabalhistas.
Sua preocupação, diz, é não ficar parado e ajudar os pais com as contas do dia a dia e as necessidades das irmãs mais novas.
“Jovem aprendiz é quem está começando, né? E eu ainda não sei fazer as coisas mesmo. Quero qualquer coisa, e o que vier está valendo”, afirma.
Em meio à indecisão típica da idade, Erick diz que gostaria de ser médico –ou talvez advogado. E quer uma vaga de trabalho que também pudesse ajudá-lo na decisão, conta o adolescente que, até agora, nem entrevistas conseguiu.
A jornada em busca de colocação começou em meados do ano passado. Primeiro, deixava currículos em empresas e entidades certificadas.
Os últimos sete meses, porém, a maratona pela busca de vagas ocorre diante do computador. É por meio da internet que cadastra currículos em sites. É lá também que faz as lições enviadas pelos professores. A escola em que estuda, no Jardim Ângela, zona sul da capital paulista, está fechada por causa da pandemia.
A mãe, Gracy, apoia a busca. “Acho que todos os jovens têm que trabalhar para conhecer responsabilidade, ter autonomia”, afirma.
Para Ketlyn Lorraine da Silva Santos, a urgência é financeira. Com 14 anos completos há pouco mais de um mês —idade mínima prevista em lei para trabalhar—, ela reúne anúncios de sites e redes sociais.
No último ano do Ensino Fundamental, tem dificuldades para conciliar a dedicação aos estudos e o apoio à avó, hoje responsável pelos sustento das crianças da família —uma recém-adotada, primos e uma irmã de Ketlyn.
A mãe, o padrasto e o irmão de 16 anos estão sem trabalho. A avó é a única a receber o auxílio emergencial, benefício temporário pago pelo governo federal para desempregados, autônomos que não conseguiam trabalhar devido à pandemia e beneficiários do Bolsa Família.
“Achei umas vagas, mas eram para trabalhar em casa e eu não quero. Pode ser em mercado ou coisas administrativas, o que aparecer está bom”, diz ela, que mora em Barueri (região metropolitana de São Paulo).
Foram as dificuldades em encontrar um emprego fixo que levaram Rickson Lucas Silva Luna, 21, a trocar a busca por vagas pelo trabalho voluntário —e não exatamente do tipo tradicional de voluntariado.
Na segunda metade de novembro, ele e a namorada, Raphaela Arins, 22, partirão para Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, onde passarão uma semana trabalhando como auxiliares na cozinha de uma pousada. Em troca, terão hospedagem.
“Fiquei muito tempo nessa tentando fazer qualquer coisa. Comecei um curso no Senac, de auxiliar de cozinha, mas veio a pandemia e atrapalhou”, diz Rickson. “O que não dá é para ficar parado.”
Para segurar as contas, vem fazendo bicos e chegou a trabalhar por meio de aplicativos de transporte. Ele e a namorada têm a ajuda dos pais dela —os dois moram na zona norte de São Paulo, nos fundos da casa do sogro, que os acode em qualquer emergência.
A estratégia de trocar o salário por hospedagem e outros benefícios, como alimentação, é conhecida como “work exchange” e costuma ser intermediada por sites e aplicativos. Para Rickson, foi um meio de acumular experiência e ganhar alguma vantagem na busca por um emprego em cozinha.
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