Dólar sobe para R$ 5,64 e Bolsa cai 0,75% com desemprego recorde e risco fiscal

Na semana, porém, Ibovespa acumulou alta de 0,85%

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São Paulo

Após cair 2,4% na semana passada, o dólar voltou a refletir o risco fiscal brasileiro e o aumento do desemprego no Brasil, acumulando alta de 2,13% nesta semana, a R$ 5,6450, maior valor desde 2 de outubro. Nesta sexta-feira (16), a moeda subiu 0,33%. O dólar turismo está a R$ 5,7930.

Já a Bolsa de Valores brasileira cedeu 0,75%, a 98.309 pontos, na sessão. Na semana, o Ibovespa se valorizou 0,85%, engatando a segunda alta semanal seguida, feito que não alcançava desde agosto.

Operador na Bolsa de Valores de Nova York
Operador na Bolsa de Valores de Nova ; Ibovespa recuou 0,75% nesta sexta (16) - Xinhua/Guo Peiran

Na quinta (15), o vice-presidente Hamilton Mourão disse que não enxerga problemas em deixar o Renda Cidadã, substituto do Bolsa Família, fora do teto de gastos, se houver acordo para isso —o Bolsa Família está sob o limite orçamentário.

Na semana passada, porém, Márcio Bittar (MDB-AC), relator do Orçamento de 2021 e da proposta do Pacto Federativo, afirmou, após reunião com o ministro Paulo Guedes (Economia), que qualquer solução para criar o Renda Cidadã vai respeitar o teto de gastos e ter a chancela do titular da equipe econômica.

O desenrolar das negociações em torno do novo programa social, que custaria mais aos cofres públicos, deixa investidores preocupados com a situação fiscal do país, que caminha para uma dívida de cerca de 100% do PIB (Produto Interno Bruto).

Em reflexo, os juros futuros de curto prazo subiram na semana. Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos. São a principal referência para os juros de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

O juro para julho de 2022 subiu 4,5% na semana, indo de 3,99% para 4,17%. O juro para abril de 2023 foi de 4,99% pra 5,10%, um ganho de 2,2% na semana.

"O receio sobre o fiscal segue travando o Ibovespa e seu ímpeto em romper os 100 mil pontos, ao mesmo tempo que continua depreciando nossa moeda, que está mais na contramão de seus pares. Enquanto não houver uma medida efetiva do governo a favor do avanço da agenda de reformas, o que deve ser feito somente no final do ano, o mercado seguirá ressabiado em aumentar posição [na Bolsa] e no limite vai aproveitar a alta recente para realizar lucro”, afirma Rafael Ribeiro, analista de renda variável da Clear Corretora.

Também contribuiu para o viés negativo no mercado brasileiro os dados divulgados pela Pnad Covid do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta, segundo os quais o número de desocupados no Brasil chegou a 14 milhões na última semana de setembro, com a taxa de desocupação atingindo 14,4%.

Apesar de o número ser o maior contingente da série da pesquisa, o IBGE diz que se trata de uma estabilidade na comparação com a semana anterior, que tinha 13,3 milhões de desocupados, com taxa de desemprego em 13,7%.

No exterior, o viés foi positivo nesta sexta, com dados de vendas no varejo americano melhores do que o esperado e avanços em vacinas contra a Covid-19.

A Pfizer anunciou que poderia solicitar uma autorização nos Estados Unidos para a vacina que está desenvolvendo com a parceira alemã BioNTech, já em novembro. Os papéis da Pfizer avançaram 3,8%.

Já as vendas no varejo nos EUA aumentaram 1,9% em setembro e ultrapassaram as expectativas dos analistas. Economistas ouvidos pela agência Reuters previam aumento de apenas 0,7%.

Com a recuperação, o comércio superou o nível de fevereiro, com a pandemia aumentando a demanda por bens que complementam a vida em casa, incluindo carros, móveis e eletrônicos. As vendas avançaram 5,4% em uma comparação anual.

Excluindo automóveis, gasolina, materiais de construção e serviços alimentícios, as vendas aumentaram 1,4% no mês passado, após uma queda revisada para baixo de 0,3% em agosto.

Economistas atribuem a força das vendas no varejo ao estímulo fiscal, especialmente a um subsídio semanal que foi pago a dezenas de milhões de americanos desempregados. As robustas vendas no varejo de setembro reforçaram as expectativas de gastos recordes do consumidor e de crescimento econômico no terceiro trimestre.

As estimativas de crescimento para o trimestre de julho a setembro chegam a 35,2% na taxa anualizada, após retração de 32,9% no segundo trimestre, a queda mais profunda desde que o governo começou a manter registros em 1947.

Já a produção industrial nos EUA teve queda de 0,6% em setembro, a primeira contração do setor em cinco meses, com a desaceleração na produção de veículos e produtos eletrônicos.

Investidores esperam que o governo retome os estímulos econômicos para dar suporte à recuperação, o que depende de um acordo entre democratas e republicanos.

Nesta sexta, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse à presidente da Câmara dos Deputados do país, a democrata Nancy Pelosi, que o presidente Donald Trump interviria com o líder da maioria no Senado se um acordo fosse alcançado em torno de um novo pacote de alívio da pandemia.

O líder republicano da Câmara, Kevin McCarthy, no entanto, disse não esperar um acordo antes das eleições de 3 de novembro enquanto Pelosi estiver envolvida.

Apesar das ações americanas operarem em alta em boa parte do pregão, apenas o índice Dow Jones encerrou com ganhos (0,39%). S&P 500 fechou estável e Nasdaq teve queda de 0,36%.

Os preços do petróleo operam em queda ao fim do pregão, pressionados por preocupações de que um aumento nos casos de Covid-19 na Europa e nos Estados Unidos reduza a demanda em duas das maiores regiões consumidoras de combustível no mundo, enquanto o dólar mais forte também afetava os preços.

O barril de petróleo Brent (referência no mercado) recuou 0,5%, a US$ 42,93 (R$ 242,34).

Alguns países europeus estão revivendo toques de recolher e lockdowns para combater o aumento de novos casos de coronavírus, com os britânicos impondo restrições mais severas em Londres a partir desta sexta.

"Os dois motores do mercado de mais alto nível são o cronograma da vacina e o otimismo quanto a um estímulo. Às vezes, o mercado verifica a realidade de que, mesmo que recebamos uma vacina no início do próximo ano, esse cronograma é incrivelmente agressivo e otimista", disse Ross Mayfield, estrategista de investimentos da Baird.

Com a devalorização do petróleo, as ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras caíram 2,13%, a R$ 19,33, e as ordinárias (com direito a voto), 2,48%, a R$ 19,30. A companhia disse nesta sexta que, diante do cenário da Covid-19, o Projeto Integrado do Parque das Baleias será postergado em cerca de um ano, começando a produzir em 2024.

Já a CSN subiu 0,41%, a R$ 19,53, após divulgar Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização) ajustado de R$ 3,5 bilhões no terceiro trimestre e lucro líquido de R$ 1,26 bilhão, quase três vezes maior que o lucro obtido pela companhia no segundo trimestre, de R$ 445,9 milhões.

Na esteira do resultado da CSN, Usiminas avançou 4,33%, a R$ 11,32, impulsionada também por perspectivas de novos reajustes de preços no setor de aço. No setor de mineração e siderurgia, Gerdau valorizou-se 0,66%, a R$ 22,82, enquanto Vale encerrou com decréscimo de 0,37%, a R$ 62,24.

A Suzano teve alta de 4,61%, a R$ 50,59, com analistas citando reportagem da Risi sobre um dominante fornecedor de celulose da América do Sul ter elevado em US$ 20 (R$ 112,9) por tonelada o preço de celulose branqueada de fibra curta. A Klabin subiu 3,99%, a R$ 25,81, também reagindo a novos desdobramentos ligados a incorporação da Sogemar.

Moody's corta nota de crédito do Reino Unido

Nesta sexta-feira (16), a agência de classificação de risco Moody's cortou a nota de crédito do Reino Unido, citando um crescimento econômico menor, erosão fiscal e enfraquecimento das instituições e do governo local.

A nota da região foi reduzida de Aa2 para Aa3, ambas acima da régua de grau de investimento.

Com os gastos para dar suporte à economia durante a pandemia, a dívida do Reino Unido foi para 2 trilhões de libras (R$ 14,6 trilhões), mais de 100% de seu PIB.

Segundo a S&P, outra grande agência de classificação de risco, algumas das principais economias do mundo podem ter seus ratings de crédito cortados ou colocados sob advertências de rebaixamento nos próximos meses em uma segunda onda global de revisões relacionadas ao coronavírus.

O diretor-gerente do grupo S&P, Roberto Sifon-Arevalo, disse à agência de notícias Reuters que os imensos custos de manter os sistemas de saúde, empresas e trabalhadores durante a pandemia estão alterando fundamentalmente as finanças de alguns países para pior.

A agência de classificação de risco já rebaixou ou cortou as perspectivas para quase 60 países este ano, mas poucos entre esses foram nações mais ricas com classificações mais altas.

No entanto, com alguns desses países acumulando de 15 a 20 pontos de dívida como porcentagem do PIB —valores que normalmente levariam quatro ou cinco anos para serem acumulados— e presos a maiores gastos pelos próximos três a cinco anos, essa situação poderia estar prestes a mudar.

"Você está falando sobre ratings na UE, ou em países altamente desenvolvidos, como o Japão ou o Reino Unido, ou nesta parte do mundo, nos Estados Unidos, que foram capazes de implementar pacotes fiscais e monetários bastante massivos para se defender", disse Sifon-Arevalo.

Um total de 31 países, quase um quarto de todas as nações avaliadas pela S&P, atualmente têm perspectivas negativas para seus ratings, que na maioria das vezes são convertidas em rebaixamentos.

Na América Latina, México e Brasil estão sob pressão, bem como a Colômbia, que está pendurada no último degrau do grau de investimento e com um alerta de que pode ser reduzida à classificação de 'junk', termo utilizado no mercado para designar, de maneira pejorativa, risco elevado de calote.

(Com Reuters)

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