A disputa pela rede de universidades Laureate pode estar longe de chegar ao fim. Apesar do grupo que opera Anhembi Morumbi e FMU ter escolhido a proposta de fusão da Ânima Educação, a primeira proponente, Ser Educacional, entrou na Justiça contra a operação, impossibilitando a assinatura do contrato entre as duas.
A Laureate Brasil é a maior operação da americana Laureate International Universities, que tem instituições em outros sete países —listada na Bolsa de tecnologia Nasdaq, a holding da companhia vale US$ 2,9 bilhões (R$ 16,3 bilhões). Ela também despertou o interesse da Yduqs —dona da Estácio de Sá e segundo maior grupo educacional do Brasil, atrás da Cogna (ex-Kroton)— e da Cruzeiro do Sul.
Segundo a Folha apurou, a Ânima ofereceu R$ 4,78 bilhões pelo grupo, dos quais cerca de 80% em dinheiro (parte por meio de empréstimo bancário) e o restante em dívidas da empresa que irá assumir.
O acordo foi divulgado nesta quarta-feira (21), sem detalhar o valor total da oferta.
A Ser Educacional —dona, entre outras, da Universidade de Guarulhos e do Centro Universário Mauricio de Nassau, em Sergipe— acusa a Laureate de não ter sido avisada de todos os termos da proposta da Ânima, o que a teria impossibilitado de cobrir a oferta. Diz, ainda, que o valor do negócio ficou abaixo do que ela havia proposto em setembro e que o uso de financiamento bancário pela Ânima fere o contrato firmado entre Ser e Laureate, que impedia o recebimento de ofertas concorrentes que envolvessem contingências financeiras.
Na compra da Laureate, a Ser faria a maior parte do pagamento indiretamente: cerca de R$ 2 bilhões viriam de emissões de ações e por volta de R$ 700 milhões de sinergias. No total, a proposta somaria R$ 5,5 bilhões.
Segundo as contas da Laureate, com base no fechamento das ações de 20 de outubro, porém, a oferta da Ser seria R$ 500 milhões inferior à da Ânima.
Em liminar protocolada no Tribunal de Justiça paulista, a Ser diz que houve “conduta abusiva da Laureate de pretender resolver o contrato celebrado”, após quase um ano de negociações.
A Laureate diz que as acusações da Ser não procedem e que irá recorrer. Em comunicado ao mercado, disse que notificou a Ser sobre a proposta da concorrente em 13 de outubro e que a empresa teria cinco dias úteis para fazer uma contrapoposta, o que não aconteceu.
De acordo com analistas do mercado, a Ser visa atrasar a celebração da venda para angariar recursos e cobrir a proposta. A depender da evolução do processo na Justiça, a disputa pode ir para uma câmara de arbitragem, o que poderia atrasar a conclusão da venda em cerca de dois anos.
Em comunicado ao mercado, a Ânima disse que “mantém sua proposta tal como apresentada e divulgada, aguardando o desfecho da situação noticiada”.
Nesta quarta, as ações da Ânima fecharam em queda de 4,5%, a R$ 29,60, enquanto os papéis da Ser caíram 6%, a R$ 14,63. O Ibovespa fechou estável. Nos Estados Unidos, as ações da Laureate subiram 0,66%, a US$ 13,83 (R$ 77,66).
RAIO X
Laureate
Número de instituições: 11
Número de alunos: 267.400
Lucro líquido da holding americana em 2019: US$ 938 milhões (R$ 5,2 bilhões)
Ebitda em 2019: US$ 82,3 milhões (R$ 462,2 milhões)
Principais faculdades:
- Centro Universitário (FMU | FIAM-FAAM)
- IBMR
- Universidade Anhembi Morumbi
- Universidade Salvador (UNIFACS)
- Universidade Potiguar (UnP)
Ser
Número de instituições: 9
Número de alunos: 184,8 mil
Lucro líquido em 2019: R$ 136,4 milhões
Ebitda em 2019: R$ 334,8 milhões
Principais faculdades:
- Universidade da Amazônia (Unama)
- Universidade de Guarulhos (UNG)
- Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau)
- Faculdade Joaquim Nabuco
Ânima
Número de instituições: 16
Número de alunos: 115 mil
Prejuízo líquido em 2019: R$ 9,6 milhões
Ebitda em 2019: R$ 245,5 milhões
Principais faculdades:
- São Judas
- Le Cordon Bleu
- SingularityU Brazil
- Unisul
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