Descrição de chapéu copom juros Selic

Malabarismo fiscal acabaria com compromisso do BC de não subir juros, diz Roberto Campos

Analistas ouviram afirmação em evento com presidente da autoridade monetária

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Brasília e São Paulo | Reuters

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (1º) que a autoridade monetária retirará imediatamente seu compromisso de não subir os juros, explicitado na nova política de "forward guidance" (orientação futura), no caso de violação do teto de gastos, segundo relatos de três fontes que participaram de evento virtual com o presidente do BC.

Em palestra virtual a investidores promovida pelo JP Morgan, Campos Neto afirmou que, ao dizer em sua ata que a orientação futura é condicionada à manutenção do atual regime fiscal, o Copom (Comitê de Política Monetária) se refere especificamente à regra do teto —que limita o crescimento das despesas da União à variação da inflação.

A mensagem de que pode retirar o “forward guidance” nessas condições já estava nas mais recentes comunicações oficiais, a diferença agora é que o presidente do BC enfatizou a questão, disse uma das fontes consultadas pela Reuters.

A mesma pessoa disse que a novidade foi que, se o governo usar artifícios para romper o teto, mesmo sem romper oficialmente, isso servirá de gatilho para o BC abandonar a ferramenta de orientação futura.

Na avaliação de outro profissional consultado, o BC deixou explícito que recorrer a "malabarismos", como o uso de precatórios para financiar novos gastos, também é furar o teto de gastos.

Para essa outra pessoa, o BC decompôs um pouco mais a mensagem sobre o que seria furar o teto de gastos, dizendo que podem até fazer maquiagem, malabarismo, mas isso é dívida que está sendo gerada e, portanto, é fator para deixar o “forward guidance” de lado.

Os comentários de Roberto Campos Neto sobre o tema vieram depois de, na última segunda-feira, o mercado sofrer um baque com a proposta do governo de bancar o Renda Cidadã, programa de transferência de renda que substituirá o Bolsa Família, com recursos para precatórios e verbas do próprio Bolsa Família (que será extinto) e do Fundeb.

O dólar saltou mais de 1% na segunda-feira, o Ibovespa tombou e as taxas de juros de mercado dispararam.

Com a reação negativa do mercado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu na quarta-feira (30) o financiamento do novo programa com a junção de recursos de iniciativas que já existem —segundo Guedes, ideia original da equipe econômica—, descartando a limitação ao pagamento de precatórios para tanto.

Na terça, o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, afirmou que o mercado havia dado um "sinal muito claro" em sua reação à proposta, que ele afirmou ter sido da classe política.

Uma terceira fonte, também sob condição de anonimato, disse que hoje o BC se mostrou mais disposto a agir caso o fiscal se deteriore mais, sem que seja necessário formalizar o furo no teto.

Ele citou que a inclinação da curva de juros sofreu leve redução nesta quinta-feira em reação aos comentários de Campos Neto.

Procurado, o Banco Central informou que não comentaria o conteúdo dos relatos.

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